PERGUNTAR NÃO OFENDE
1 - Tenho lido os textos produzidos pelas candidaturas dos pretendentes às cadeiras do Município. Mas, por razões óbvias, tenho-me focado mais nas palavras de Luís Alberto da Costa Pinto (também conhecido por Aveleira) publicados no desdobrável que me foi metido na caixa do correio e no jornal «Notícias de Castro Daire». Tenho feito isso pela simples razão de, não obstante ele ter sido presidente da Junta da Freguesia de Pinheiro, há uns anos atrás, ter agora emergido nas hostes do partido da chaminé (PSD), que só nas últimas eleições autárquicas, depois de muitos anos à frente do Município, com o Dr. César da Costa Santos, o senhor João Matias e a Engª Eulália Teixeira, à cabeça, viu fugir-lhe o poder para Fernando Carneiro, cabeça da lista do PS.
FONTE DA NOSSA SENHORA – OUTEIRO DA LAPA
No meu livro «Lendas de Cá, Coisas do Além» editado em 2004, escrevi, entre outras, a «Lenda da Nossa Senhora» e refiro o penedo a que ela se ligava, sito no outeiro do alto da Lapa, entre Lamelas e Vila Pouca. Publiquei nesse livro uma foto tirada em 1999, aquela que também aqui publico hoje (foto 1), onde vemos a água a esguichar do penedo, terreno baldio, não muito distante da EN2. Chega-se lá, ainda hoje, a partir desta estrada, por um caminho rural perdido entre pinheiros, silvedos, giestas e mais abundante vegetação natural.
O penedo original com as «covinhas» e as marcas das ferraduras do burrinho (ver vídeo alojado no Youtube com o título «Penedo de NSenhora» em Lamelas) desapareceram.
Foi dinamitado nos anos sessenta do século XX e, em 1999, apresentava ainda o aspecto que mostra esta foto de que sou autor. Mais uns anos passados e a autarquia, a fim de melhor explorar a água como suplemento ao abastecimento domiciliário de Vila Pouca, procedeu à necessária captação e canalização, desde a nascente até ao destino.
Foi aproveitamento de pouca dura. A água foi abandonada e não tardou que os matagais do outeiro, hoje sem a pastorícia de outrora, tudo engolissem, fazendo desaparecer, temporariamente, as obras e a lenda, com as águas a correrem nos canos subterrâneos ou em céu aberto, até se perderem na valeta da EN2.
DE CABO A RABO
Num tempo em que as palavras perdem sentido na boca dos políticos e de alguns eruditos facebookianos, lembrei-me, vejam só, de dois diálogos ocorridos numa loja de ferramentas agrícolas, entre vendedor e clientes.
1 - A GADANHA
Um desses diálogos ocorreu em torno do cabo de uma ganhanha de segar feno, das antigas, cabo de madeira que terminava em bisel, onde a gadanha se lhe unia por meio de um aro metálico mais uma cunha de madeira. Dizia uma senhora, na sua condição de mulher sozinha em casa:
- Compro-lhe este, é jeitosinho, tem um perno à medida de minha mão, mas tem de ir a minha casa encabá-la, que eu sozinha nãofaço isso.
- Está bem, onde é que mora? Eu vou lá encabá-la, mas só o faço a si, pois já viu o que seria de mim, se fosse atender todas as clientes que me pedissem para ir a sua casa encabá-la?
- É um grande favor e só lhe peço isso porque o meu marido está na França, pois se cá estivesse quem a encabava era ele.
2 - A ENXADA
Um outro cliente regateava o preço de uma enxada e, mirando-a daqui e dali, a largura da pá, a medida do olho, qualidade do aço, acabou por dizer ao comerciante:
- Eu levo a enxada por esse preço, mas tem de me dar o rabo.
- Ora essa, dar-lhe o rabo, isso é que não dou.
- Pronto, se não me dá o rabo, fique lá com a enxada. Agrada-me, tem bom olho, mas para que a quero eu, se não me dá o rabo?
O cliente desandou porta fora e comerciante ficou a murmurar:
Dar-lhe o rabo, era o que faltava!
Este comerciante de ferragens e ferramentas agrícolas, com loja aberta em Castro Daire, era um homem espirituoso, sempre pronto a aproveitar e fazer piada com o que "viesse à mão" no quotidiano da vida. Daí, ter-se virado para mim e dizer-me:
- Já visto isto? Aquela mulher, com o marido em França, pediu-me para eu ir a casa dela encabá-la. Este agora, queria que eu lhe desse o rabo. Se isto continua assim, vou mas é mudar o ramo de negócio.
Não mudou, não senhores. Aposentou-se fazendo piada com os ditos, com as expressões genuínas e sãs, saídas da boca da gente simples do campo, mais preocupa em ter ferramentas boas e seguras para granjearem o pão, do que com a polissemia das palavras. Isso é para gramáticos e linguistas que, sabendo de cor todas as parónimas, antónimas e sinónimas, não sabem o que é uma gadanha, um engaço e uma enxada. Em boa verdade não sabem, nem sonham, o que é lavrar um campo de semeadura da cabo a rabo. Isso é para políticos que somam leis e mais leis a esmifrar impostos de rabo a cabo. Nisto, é tudo a eito. Comem todos.
É por tudo isso que me agrada passar a letra redonda estes dois diálogos, ocorridos numa vila rural, e mostrar a pobreza e a riqueza da língua, ora na boca dos eruditos, ora na boca dos simples.
Abílio/2013
1 -AUTO DO VAQUEIRO
A plateia não acredita nisso, apupa-os, dá pateadas no soalho, exibe cartazes mandando-os para a rua. Face ao pateado, um deles, muito a custo, bate em retirada, reconhecendo em testamento, feito no seu juízo perfeito e "atempadamente", que não podia continuar no auto, pois não acertava uma no papel que lhe foi distribuído. Com "gag" atrás de "gag" deixou o lugar vago que foi imediatamente ocupado por alguém especialista em finanças, que não podia alegar virgindade nos contratos "swaps". Foi então que, num repente, outro dos protagonistas, sabido que se farta, habituado a contorcionismos vários, bateu com a porta, recusando-se a representar ao lado de tal figura. A triste figura. Foi o aqui d'el Rei. Era o fim da farsa.
No dia 16 do mês passado "postei" aqui, neste meu espaço, um texto sobre a CENSURA, texto que tinha publicado no mensário "Lamego Hoje" do mês de Setembro de 1987. Fi-lo por razões que respeitam ao que se vai por aí dizendo e praticando, nestes tempos, relativamente à expressão livre e responsável do pensamento.
Também já deixei neste meu espaço uma referência à urticária que me causam aqueles que, nos blogs, se refugiam no ANONIMATO para exprimirem as suas opiniões, com o receio, diz-se por aí, se serem perseguidos, caso se identificassem com os nomes próprios.
Mas já mostrei, também aqui, que começava a compreender e a ter uma certa simpatia por esse seu resguardo, uma vez que, conhecendo eles a MENTALIDADE dos que detém o poder, das duas, uma: ou recorrem ao anonimato para poderem dizer o que pensam sem receio de serem perseguidos, ou ficam calados, surdos e mudos, para não serem incomodados.
1 - Já começaram a aparecer nos lugares estratégicos da vila, nos cruzamentos das estradas e aldeias, os CARTAZES com as palavras de ordem e as fotos dos candidatos autárquicos. E também já começaram a achegar às caixas dos correios dos munícipes alguns "desdobráveis" com as "promessas" que eles dizem cumprir, caso venham a ser eleitos.
2 - Como ainda não desisti do exercício da minha cidadania, que não apenas meter o voto na urna de 4 em 4 anos, quero deixar aqui matéria para reflexão de todos os candidatos, a fim de nenhum deles poder dizer que a ignoravam. É matéria que eu já trouxe a público, quer através de escritos, quer através de vídeos colocados no Youtube, mas nunca é demais "bater em ferro frio", tanto mais que se trata de matéria de relevante interesse para o concelho. Matéria de interesse público. De que se trata?Aí vai:
PRIMEIRO
P'ra que toda a gente veja
O pinheiro de S. João
Esta velha tradição
Que se mantém em Fareja
Esta quadra, que figura, anónima, no painel de azulejos colocado na sede da Associação Recreativa e Cultural de Fareja, é da minha lavra e sintetiza uma velha tradição desta aldeia.
Ontem, dia 23 de Junho, cumpriu-se, mais uma vez, parte dela. Foi a «erguedela do pinheiro». Essa tradição está dividida em três partes, que são a) corte, derrube e transporte do pinheiro; b) descida do pinheiro velho; c) erguedela do novo. Toda ela consta no Youtube, em três vídeos que lá coloquei. Neles poderá o leitor «admirar» o volume do pinheiro e as técnicas artesanais utilizadas na tarefa.