
Como se fossem meus netinhos acompanhei a gestação e criação deles, com emoção, desvelos e carinhos. E para ajudar os pais imprevidentes (sei lá se inexperientes, disso não estou bem certo!) até fui buscar tojos dos matos para dificultar o assalto dos gatos a rondar por perto, esses domésticos andarilhos, sempre dispostos a ferrar os dentes nos passarinhos, nos pais, nos ovos e filhos.
Como se fossem gente, falei com os pais e os filhos durante todo este tempo de gestação e criação, até onde levou o nosso entendimento, o carinho, o desvelo, a emoção, o soneto sem quadra nem terceto. Passarinho ganha pena e não há bem que não venha ao seu habitat circular de velha citânia , longe do bombardeamento que Putin faz na Ucrânia, arrasando aldeias, vilas e cidades, ao arrepio dos tempos e da escala civilizacional da humanidade.
Restam-me os registos feitos. A poesia filmada da ninhada. Os pais satisfeitos, responsáveis e diligentes, a entrarem e a saírem. As crias a pipiricar insatisfeitas, pescoços esticados, boca aberta, famintas, os seus clamores, a lembrarem cantores de palco e de povo, tenores de salão, e nós, criadores, com alguma imaginação, eis-nos a colocar naqueles bicos abertos as árias, as canções e as modas que, neste mundo cão, nos dizem algo de profundo, de vivência e de história.
Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.