Nunca, convém lembrar isso, mas nunca mesmo, o nome do concelho de Castro Daire e das terras e gentes do Montemuro chegaram tão longe, todos os quinze dias, através da pena e do empenho de Manuel Amorim.
Ele que, sendo natural de Arcos de Vale de Vez, casou com uma senhora de Faifa e fez daquela aldeia e deste concelho as suas terras adoptivas.
Tive o privilégio de ser seu amigo e de ele ser meu amigo também. Comigo desabafou a INGRATIDÃO de não lhe reconhecerem, em vida, todo o labor que ele fez em prol de Faifa e do concelho, através da escrita e das associações que fundou com um genuíno sentido regionalista. A alma e o carinho com que ele falava das gentes serranas. Só ouvindo-o. O empenho que ele punha na colaboração assídua no "Notícias de Castro Daire", só vendo.
Já na situação de "invisual" (cego) ainda tive ocasião de o visitar em Faifa, na sua moradia, onde vinha passar uns dias no verão.
Numa dessas vezes fiz-lhe uma entrevista em vídeo que alojei no Youtube. Falou para a câmara de filmar ele, uma cunhada sua e o marido dela. Falou da primeira vez que veio a Faifa, a sua primeira impressão, falou da amizade e respeito que tinha por António Argentino, diretor adjunto do jornal.
Era uma entrevista merecida e eu fiz o que pude em vida dele, mesmo que ele já não pudesse ver-se e somente ouvir-se, ouvir a sua voz posta no mundo digital, ao alcance de um clic. Que diferença! Ele a escrever à mão ou à máquina os artigos em papel que de Lisboa tinha de enviar pelo correio para o jornal. Despesas suas (quantas?) só pelo gosto de dar notícias, produzir informação, divulgar usos e costumes regionais. Ele assim procedeu em vida. Eu o pus no mundo antes dele deixar este mundo cão.
Morreu. Pessoa amiga, cumprindo o recado dos seus familiares, deu-me conta do dia do enterro, no cemitério de Faifa, ali na terra que, sendo da sua querida esposa, ele fez também sua. Amor com amor se paga.
O último número do "Notícias de Castro Daire" traz a notícia. Uma notícia bem escrita e resumida da sua biografia. O jornal e os seus responsáveis fizeram bem em dar-lhe aquele destaque. Ele mereceu-o, sem favor.
Da minha parte, apresentando, desta forma, os sentimentos à família, resta-me remetê-los, a eles familiares e aos demais amigos, para o vídeo alojado no Youtube. Basta escrever "Faifa Amorim". Ele, na altura da entrevista, já não tinha vista, mas ainda tinha língua. E disse algumas verdades dignas de serem ouvidas. Disse o que lhe ia na alma. Aquela alma que eu, não sendo crente, espero que DESCANSE EM PAZ.
Abílio Pereira de Carvalho