Cabe aqui repetir que este castrense nasceu em 1907, isto é, um ano depois do meu pai ter nascido, o que tornou impossível sermos contemporâneos (eu vim ao mundo em 1939) mas estou certo que se tivéssemos vivido no mesmo tempo, pela sensibilidade que ele revelou na poesia com os olhos postos nas coisas da nossa TERRA E DA NOSSA GENTE, ambos, ele no seu trato nobre de fidalguia e eu na minha rusticidade plebeia, teríamos feito um excelente parceria e juntos congeminarmos a ideia de pormos em livro a NOSSA HISTÓRIA concelhia.
porta virada para a estrada, numa espécie de gruta, o cubículo onde morava o Choina, alfaiate. E do outro lado a Sede da Empresa de transportes Clemente. E, seguindo em frente, encontramos do mesmo lado a residência de Alípio Amador, homem adoentado, fotógrafo, mas "farrista" inveterado. Logo depois, a si pegado, a morada de António Cunha, homem sisudo, farto bigode, que, sempre sentado à porta, caladão, era testemunha viva e tudo o que se passava na vila. Depois segue-se um espaço vazio, um quintal com ameixeiras (atual quartel dos Bombeiros, digo eu) seguido das casas de José Seixas, casas que, com todo o recheio, incluindo o piano do proprietário, foi devorada por um incêndio. E do mesmo lado a Pensão Clemente (Pensão Avenida) onde se acoitaram Santos Costa e Abel Hipólito, aquando da tentativa de restauração da Monarquia (Monarquia de Norte, de Paiva Couceiro, digo eu). Depois segue-se aquele conjunto de casas com lojas e sobrados pertencentes a António Carneiro.
Na esquina, junto à rua que desce para o curral (atualmente o CENTRO COMERCIAL, digo eu) eis o Clube Avenida, com dois bilhares, frequentado por gente fina. E ao lado, o Hotel Paulina, que tinha por cozinheira a delicada Piedade que assegurava a freguesia de António Pinto Teixeira. (ÀPARTE: o aqui dito HOTEL PAULINA, que tinha por cozinheira a «delicada Piedade» era na casa que passou para o senhor Eduardo Pinto de Carvalho, como «Pensão-Comércio» e atualmente é do filho, Dr. Eduardo Pinto de Carvalho, neto da Dona Piedade, a residir nas Canárias) E, logo ao lado, a Taverna Amélia (muito conhecida por Herédia, sua filha. Foi esta senhora que ficou amputada numa perna devido ao facto de, nas cavalariças, terem rebentado uns foguetes guarddos dentro de uma dorna. Os cavalos começaram a roer as canas e vai-daqui-vai dali, eles rebentaram e foi o cabo dos trabalhos. Os republicanos da vila acabaram todos presos e levados para Viseu por se julgar que estavam ali a fabricar bombas para atentados contra o regime). Nesta taverna alugavam quartos a preços baratos, servindo o pão de trigo e de milho da Adélia. Ao lado morava o Samuel da Carvalhosa, amigo da pinga, mas que servia bacalhau e sardinha frita. Pegado a ele ficava o Daniel Monteiro, casa que fora uma grande serralharia, vendida pelo Zé da Paulina. E no terreno ao lado, o Sr. Julião construiu a farmácia, que veio a ser do seu irmão Gastão. (farmácia que, em 2016, Gastão continua a chamar-se, digo eu).
Em frente desta farmácia existia outra farmácia, vendida ao senhor Semedo por Oliveira e Castro, da Dona Fausta, que também possuía casa de fazendas. Mas atraiçoado pelo caixeiro Camilo também a passou ao Gomes. Duas vendas. Ao lado desta farmácia (do Semedo) morava o alfaiate César, dos melhores que então havia na vila. Nos fatos que fazia por medida punha todo o seu engenho e arte. Morava com ele o bom filho Acácio, rapaz boémio, filósofo, capaz de "matar" o trabalho. Na mesma correnteza de casas frente às irmãs Teixeiras (naquela casa das quatro esquinas, que veio a ser comprada e demolida pela Câmara para fazer o Jardim, digo eu) havia uma taverna e nela foi morto um soldado da Guarda Republicana. Por cima, morava o Senhor Dom José de Noronha. Do outro lado, a Casa das Teixeiras, de fraco comércio, onde o infeliz Zezinho, sobrinho, costumava descansar das suas brincadeiras. E ao lado a barbearia do Tio Chico, que chegou a substituir o juiz.
Nesta zona destaca-se a Casa das Trepadeiras, com muitas janelas, e nelas, tenho a certeza, sempre debruçadas, meninas de rara beleza. E, mesmo ao lado, o Largo da República, com o belo Coreto, para música. Olhando em redor vemos a Venda da Aurora, onde se comia e bebia sem medo, passada depois à sua filha e marido. Logo a seguir o Forno das Pimponas orientado pela Tia Ana, mestra forneira. Nele trabalhavam as filhas e empregadas e ali se comprava o «borralho para as braseiras».
Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.