GATUNAGEM
Neste mundo agitado da política e da finança, a imprensa a descobrir cada dia, qual dos governantes mais roubou, ou deixou roubar, em prejuízo do BEM COMUM, deu-me para revistar a obra de Aquilino Ribeiro, “Príncipes de Portugal”.
Ora este senhor, não é um português qualquer. Os seus restos mortais repousam no “Panteão Nacional” e tal não se deve, seguramente, a coisas menores. Por isso o leio. Por isso o aprecio. E, em muito do que ele pensou e escreveu, encontro os fios com que se teceu o pano de que se vestem certos figurões que, no solo pátrio, não arriscam a vida nas encruzilhadas, como os corajosos salteadores de antigamente: “a bolsa ou a vida”, os quais, às vezes, tinham por resposta um balázio em vez daquilo que pediam.
Dito isto, vejamos que Aquilino Ribeiro abre este seu livro com o retrato de Viriato e dele diz o seguinte:
«Os romanos quando taxaram Viriato de ‘dux latronum’, capitão de salteadores, não o caluniaram totalmente (...) os Lusitanos davam-se à pastorícia (...) mas semelhante lida não os inibia de exercer outros ofícios, um deles velho como o mundo: saltear os haveres do semelhante. No fundo era uma prática como outra qualquer, com todos os foros de universalidade. A forma é que tem variado, rebuçada em leis e mandamentos, especiosamente divergentes, nada mais natural, portanto, que as tribos das serras, onde a vida era áspera é difícil e os moradores mais de uma vez deviam adormecer com o estômago a ladrar, acumulassem com a função comum a de salteadores. Era uma ordem da cavalaria de tantas consagradas pela História, como, por exemplo, mais tarde a do Templo. Roubavam-se mais ou menos de pé fresco uns aos outros e em caterva abatiam-se sobre as terras fartas e latinizadas do Sul. Em três tempos, então, passavam-se os galfarros a tudo o que tivesse a aparência de boa presa. O ditado ‘olho vê, pé vai e mão pilha’ marca o ritmo hispânico quanto a tais empreendimentos (...) pilhar o vizinho celtibérico ou vetão, apaniguado do romano, era virtude e não crime. Não mareiam pois a coroa de louros de Viriato os adjetivos pejorativos que Valério Máximo, Apiano e Cassiodoro lhe infringem, tais como ladrão refinado e capitão de quadrilha.
- Com muita honra - diria ele.”
Pois, e parece que com muita HONRA e PROVEITO anda por este Portugal inteiro muito «viriato» a assaltar-nos a bolsa e a vida, refastelados num qualquer cadeirão de escritório, revestido de cabedal assente em alcatifas de damasco.
Ao que chegámos nós? Ele é a energia elétrica, ele é as comunicações, ele é o selo de circulação, ele é os combustíveis, ele é...tudo. E os “contratos blindados”, como agora se descobre e diz, responsabilizam quem? Quem põe fim a tal ladroagem?