Nesse meu trabalho (feito pro bono) como aliás em todos os mais que escrevi, subordinados à temática da História Local e ao nosso património natural e construído, procurei, não só divulgar a matéria investigada, mas também sensibilizar os meus colegas e conterrâneos a fazer o mesmo, conforme suas possibilidades e sensibilidades.
PEÇAS DO «HARMÓNIO» («ORGÃO» DESCONJUNTADAS .
Vem isto a propósito do que nesse livro escrevi sobre José Pinto Ramalho, um cidadão natural de Cujó, homem que, tendo ficado paraplégico, em resultado da queda de uma obra em que trabalhava em Mões, não se deu por vencido da vida e acabou por deixar nome e obra no domínio das artes.
A ele se deve o projecto em que assentou o corpo da Igreja Matriz, e a ele se devem vários instrumentos musicais, nomeadamente guitarras, rabecas e aqueles pequenos «órgãos sem tubos, com palhetas livres, registos, sistema de foles, teclado e pedal» conhecidos nos dicionários vulgares pelo nome de «harmónios». Transcrevo desse meu livro, editado em 1993, o seguinte:
«Um deles, foi cedido gratuitamente à igreja local e ainda existe. Não é um harmónio qualquer. Foi concebido e manufacturado tendo em conta as suas funções de acompanhamento no «canto». Pelo processo mecânico do «transpositor» o músico faz a passagem de uma melodia de tons mais graves para tons maus agudos.
Este harmónio ainda existe, dizia eu. Por quanto tempo mais? Sendo um produto artesanal, é um exemplar único no mundo, apesar de poderem existir muitos que com eles se pareçam. Estamos a oito anos do século XXI. Maltratado, sem os cuidados de perseveração que merece, as térmitas vão exercendo nele o seu poder de destruição. É pena! Arrancado do templo e remetido para um compartimento da Residência Paroquial desabitada (o Pároco reside na povoação de Almofala), é uma verdadeira afronta ao passado, à memória e à arte do artesão e não tardará a receber a extrema-unção.
Onde está a responsabilidade dos moradores, dos membros da Comissão Fabriqueira, dos familiares de José Pinto Ramalho e mesmo daqueles que têm o dever de sensibilizarem as populações para legarem o seu património histórico ao Museu Municipal, quando não podem ou não sabem preservá-lo? Os tempos mudaram. Hoje há licenciados naturais da terra: professores, juízes, advogados, clérigos, para não falar em tantos outros profissionais que tiveram de passar pelos bancos das escolas dos liceus e seminários. Residindo ali, ou não, cabe-lhes mostrar a diferença com pensamentos e obras».
TECLADO MORTO, MUDO, SEM VIDA...