Nesse texto publiquei uma dessas “décimas”, na qual ele me confiou, em verso, as razões que o levaram a optar por uma vida de clausura fora do mundo, durante anos, mas ao mundo atento, como então escrevi. Razões que jamais confiou a outrém em conversa ocasional ou puxada a propósito. Esta outra “décima” completa o sentido da primeira e deixa bem claro quão determinantes e sofridas são as emoções humanas quando verdadeiramente sentidas:
Mote
Adeus mirrada caveira
Foi-se a tua fantasia
Ó morte que me roubaste
O espelho onde me revia
I
Quem me havia a mim dizer 
Que neste lugar sagrado
Reduzida a este estado
Ainda te vinha ver.
Sem ao menos conhecer
Das fuas feições a primeira
Eu ver-te desta maneira
Rogo a Deus e peço
De ti nunca me esqueço
Adeus mirrada caveira.
II
Acabou tua existência
Foi-se a tua formusura
Eu ver-te nesta figura
Peço a Deus paciência.
Nem uma só aparência
Tens do que eras algum dia
Teu prazer, tua alegria
Neste mundo já não gozas
Que é das tuas posses amorosas
Foi-se a tua fantasia.
III
Do que eras não te assemelhas
Teus sinais estão perdidos
Que é dos teus olhos luzidos
Essas tuas sobrancelhas
As tuas faces vermelhas.
Ó terra que já gastaste
Da minha vista levaste
Minha maior felicidade
Dos olhos a claridade
Ó morte que me roubaste.
IV
Teus ossos já lá estão
Pelos meus esperando
Sem saber a hora, nem quando
Um dia se juntarão.
Resta-me a conclusão
Estar em tua companhia
Nunca me esqueceria
De quem a pó se reduz
Perdeu a clara luz
O espelho onde me revia.