AGRADECIMENTO
Um acaso de vida proporcionou-me o encontro, em Castro Daire, no Jardim Público, junto da MÁQUINA A VAPOR, com o senhor NUNO LOPES VIEIRA e sua esposa, dos lados se Santarém, mas a residirem em Oeiras.
Indo eu a passar e vendo-o, muito atento a mirar e a fotografar aquela peça arqueológica, ali colocada por sugestão minha, cuja história (completa) está chapada no livro “Castro Daire, Indústria, Técncia e Cultura” (história resumida que o Municípino bem podia oferecer num desbobrável, que imperdoavel,ente nunca fez) aproximei-me, entabulámos conversa e ele ficou tão agradado com isso que passou a ser meu ”amigo” no Facebook e a corresponder-se comigo, via MESSENGER.
É dele o CONTO DE NATAL que se segue. Esta minha página não está aberta a toda gente. Mas tendo eu já lido, por força da profissão, muitos contos de NATAL, este veio mesmo a calhar. Vale pelo comteúdo e pela forma. Ora leiam:
“CONTO DE NATAL
Com um cruzado no bolso e um ovo cozido no saco de pano, o que havia a fazer longe de casa e da família? — Questionava-se o jovem casal, perante o infortúnio em que se encontrava e o levara à cidade distante.
Caminhando sem sentido, a não ser o de mitigar a preocupação e a falta de sorte que os levara a ter de esperar pelo transporte que mais tarde os levaria para junto dos seus filhos, ou, já resignados, a caminhar a pé a longa distância que os separava de casa, se os assuntos inadiáveis que os levou à cidade, não se resolvessem a tempo. Depararam-se com aquela vetusta igreja em rua estreita que, descendo poucos degraus, os convidava a entrar.
Nunca lá tinham entrado e, desta vez, bem podiam satisfazer a curiosidade de a conhecer, funcionando a visita, também, como uma boa ajuda para esquecer o tormento por que passavam.
Uma vez lá dentro, foram abordados por um velho e prestável senhor que se prontificou a contar-lhes a história daquela antiga igreja.
Agora, mais descontraídos, seguiam, deslumbrados, as explicações do ancião que, entusiasmado pela inesperada audiência, declamava a história e lhes prendia cada vez mais a atenção.
Depois de tão vasta e profunda explicação havia que compensar o tão prestimoso senhor.
Num gesto incontrolável de imensa gratidão e respeito, porque a situação assim lhes parecia correcta, deram-lhe os quatro tostões que tinham no bolso.
Entreolhando-se e em sintonia de pensamento, acharam que o valor era insuficiente para pagar a única consideração que receberam de alguém naquele dia, numa cidade que os habituara, ao longo dos tempos, a tratamento sobranceiro.
— E que mais podiam oferecer ao senhor?
— O ovo...?
— Pois claro, o ovo cozido...!
Sem demora, abriram o saco e de lá retiraram o ovo caseiro, que essa qualidade a sua cor bem atestava, e lho ofereceram.
Agora, sem cruzado no bolso; sem ovo, que era o seu sustento; e com quilómetros de caminho por percorrer, iniciavam a marcha, sem qualquer problema.
Na cidade grande, haviam oferecido tudo o que lhes restava e estavam contentes... o seu cruzado e o ovo trazido de casa, fariam a diferença nessa noite na mesa daquele ancião...”
P.S. Homenagem a um casal bom, meus pais, protagonistas da história contada.
Igreja São João Alporão, Santarém
Anos 40, Séc XX
Cruzado = 2 tostões = 0,20 escudo
Nuno Vieira
11Dez2019