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quinta, 07 agosto 2025 14:50

CASTRO DAIRE - TERRA E GENTE

Escrito por 

SOLAR DOS AGUILARES

O texto que se segue foi publicado e, 2012 no meu site «trilhos-serranos.com», mas por razões que me foram alheias. essa página deixou de estar on-line e, com tal, todo o material ali publicado deixou de poder ser consultado.

Tenho vindo a repor algum desse material neste meu novo espaço, (trilhos serranos.pt) e, por isso, só hoje coube a vez de divulgar, novamente, o que investiguei e soube sobre o SOLAR DOS AGUILARES. Assim:

 

AGUILARE-1«CASTRO DAIRE – SOLAR DOS AGUILARES

08-03-2012 23.12:25

Nos anos oitenta do século XX, privei algumas vezes, com o senhor Antero Herculano Peixoto Teixeira de Aguilar, cidadão que, com a sabedoria da vida e o seu estatuto social, até a contar uma anedota brejeira mostrava a sua linhagem fidalga.

Estando eu empenhado em levar a efeito trabalhos sobre a história local, tarefa de que tenho dado provas todos estes anos, mostrei-lhe o interesse que tinha recolher dados sobre a sua casa, uma das casas brasonadas na vila de Castro.

Que sim, senhor. Convidou-me a entrar, autorizou-me a fotografar o brasão pendurado na parede lateral do salão principal e cedeu-me fotocópia de um «título de emprazamento, com data de 1528, lavrado na vila de Britiande, em casas de uma tal Beatriz que possuía terras no termo de Castro Daire. Foi um prazo de «três vidas» feito em nome João Gonçalves e mulher, ambos de Mouramorta, concelho do Moção, podendo suceder-lhe um filho ou filha de ambos se os tivessem e, caso contrário, uma pessoa que eles escolhessem.

Mas o senhor Antero de Aguilar forneceu-me também cópia de um diploma conferido a um dos seus ascendentes, cujo conteúdo é o seguinte:

ARMAS-CAPELA«António Lopes de Carvalho Rangel, natural da vila de Castro Daire, familiar do Santo Ofício por diploma de 18.07.1711, passado pelo Bispo capelão-mor, Nuno da Cunha de Ataíde, Inquisidor Geral dos Reinos, com o fim de, com toda a diligência, consideração e segredo desempenhar o cargo. Investido nas funções por juramento nas formas do «stylo» da Santa Inquisição ET AUTHORITATE APOSTOLICA passou a gozar todos os privilégios, isenções e liberdades, concedidos pelos alvarás régios».

 Posteriormente ao seu falecimento, a sua esposa, D. Maria Alice Guerra Cerdeira, igualmente sabedora dos meus intentos, fez-me chegar, em mão, um conjunto de documentos, acompanhados de uma missiva em que, por seu punho, fazia um resumo histórico da casa, baseado nas informações que colhera junto do marido.

São esses documentos, inclusive o conteúdo de missiva terminada com a expressiva frase «Imerecidamente grata pela sua lembrança, envio-lhe os nossos melhores cumprimentos. Antero Manuel e Maria Alice».

No seu texto, redigido em tom coloquial, humano e sincero, a D. Alice, professora que foi de profissão, mostra-se «imerecidamente  grata» à minha pessoa pela tarefa que tenho levado a cabo sobre a história local. E eu «imerecidamente grato» lhe fico também pelo contributo que me deu na difícil missão de poder transmitir aos vindouros algo da nossa memória coletiva. Tarefa cujos resultados dizem respeito a muitos, mas que por bem poucos é reconhecida. 

No lote de cartas que me forneceu, dirigidas ao Pe. António Bizarro de Almeida, de Castro Daire, umas assinadas por Maria do Carmo de Lemos Teixeira de Aguilar, Viscondessa de Samodães,  e outras pela irmã, Josefa Adelaide de Lemos Teixeira de Aguilar e outras pelos irmãos delas António de Lemos Teixeira de Aguilar e Bernardo de Lemos Teixeira Pacheco de Aguilar, dá para perceber a intima relação da Família Aguilar com o Padre António Bizarro de Almeida e o papel que este desempenhava em Castro Daire em prol dos seus amigos, fosse no que respeita à administração da «Casa da Praça»,  fosse nas questões políticas e judiciais, em tempos que o Liberalismo assentara arraiais no Reino, política a todos estes irmãos aderiram.

Uma carta datada de 26 de Abril de 1817, três anos antes de eclodir a Revolução Liberal, carta oriunda de Cedovim e dirigida a José Bizarro, presumivelmente pai do Padre, mostra as relações  da Família Aguilar com quem, em «Crasto Dairo» (sic) olhava pelos teres e haveres que essa família aqui possuíam.

Mas se eles eram de Cedovim, pode perguntar-se como se tornaram proprietários em Castro Daire e a que propósito nos arquivos da casa se guardou religiosamente o diploma, passado a «António Lopes de Carvalho Rangel, natural da vila de Castro Daire, familiar do Santo Ofício por diploma de 18.07.1711, passado pelo Bispo capelão-mor, Nuno da Cunha de Ataíde, Inquisidor Geral dos Reinos, com o fim de, com toda a diligência, consideração e segredo desempenhar o cargo. Investido nas funções por juramento nas formas do «stylo» da Santa Inquisição ET AUTHORITATE APOSTOLICA passou a gozar todos os privilégios, isenções e liberdades, concedidos pelos alvarás régios» e o BRASÃO ESQUARTELADO posto sobre a porta da CAPELA DE S. BENEDITO, mostra no primeiro quartel o simbola das ARMAS DOS CARVALHOS, vg. 4 meias luas viradas para dentro e uma estrela ao centro. 

Pode dizer-se, assim, que o cidadão que, em 18.07.1711, foi admitido familiar do «Santo Ofício», era filho de LOURENÇO RANGEL DE CARVALHO,  instituidor do morgado de Castro Daire, cuja esposa era MARIA DE LUCENA RANGEL.

AGUILAR-2António L.C. Rangel era casado com Filipa Sousa Bravo de Meneses, de cujo casamento nasceram 10 filhos entre os quais, António Lopes Bravo Pais de Menezes que, tal como o pai, foi capitão-mor de Castro Daire, cavaleiro da Ordem de Cristo e Familiar do Santo Ofício. E filha dele foi também Ana Maria Pereira Bravo de Menezes, (ou Ana de Lima Pereira de Menezes) herdeira do morgado de Castro Daire e das Santas Chagas em Braga com capela na Igreja de Santiago daquela cidade. Senhora que em 1706 casou com José Teixeira Rebelo Cardoso de Aguilar, podendo concluir-se, assim, que os «Aguilares» se tornaram proprietários em Castro Daire, por via do casamento com a herdeira do morgado de Castro Daire instituído por LOURENÇO RANGEL DE CARVALHO.

Os elementos heráldicos que figuram nos BRASÕES mostram a mudança. O mais antigo, que está sobre a porta da capela, mostra um «elmo» no TIMBRE e o que está na frontaria mostra uma ÁGUIA. 

Passaram gerações até que na mesma linhagem sucedesse Antero Herculano Peixoto Teixeira de Aguilar, natural de Cedovim, que, casando, pela segunda vez, com D. Maria Alice Guerra Cerdeira, natural de Castro Daire, deixaram por herdeiro o filho Antero Manuel Guerra Teixeira de Aguilar que, antes de ir residir para Lisboa, foi professor na Escola Secundária desta vila, onde o conheci pessoalmente, tal como ao pai e à mãe.

A leitura minuciosa dos três brasões da casa (só deixo aqui dois) um colocado na frontaria do solar, outro por cima da capela privativa com entrada pela rua de S. Benedito e outro pendurado no salão principal do edifício, deixo-a aos especialistas da matéria, ainda que um leigo possa destrinçar neles elementos das famílias cruzadas dos «Carvalhos», «Machados», «Gouveias», «Pintos», «Aguilares» e «Pachecos».

NOTA: parte do texto inserto no meu livro inédito «Castro Daire, Clero, Nobreza e Povo».

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.