Por razões de vária ordem não me foi possível, na altura, incorporar no livro o «fac-simile» da notícia que, com destaque bastante, o jornal «O Castrense», de 13-11-1927, fez do evento. Mas como «há mais marés do que marinheiros» ele aqui fica, agora, a fim do leitor poder confirmar o empenho que a «Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Castro Daire», encabeçada, na altura, pelo Dr. João Simões d'Oliveira, pôs no caso, destacando o lugar de realização da feira, a sua finalidade, os prémios a atribuir nas duas primeiras feiras e a afamada filarmónica de Vila Cova a abrilhantar o evento.

Teve assim início nesse ano, de 1927, a feira mensal de Cujó. Mas foi sol de pouca dura. Ao fim de nove meses extinguiu-se. Mas os habitantes de Cujó, sabendo do jeito que lhes fazia vender os vitelos, cabritos ou reses à porta de casa, em vez de se deslocarem à feira quinzenal do «Crasto», ou outra das redondezas, persistem em relançá-la. Constituiu-se uma nova comissão, novamente encabeçada por Salvador de Carvalho, agora coadjuvado por António Alves, José Ramos e António Duarte Pereira. E se o lançamento da feira anterior teve a sua divulgação na imprensa local, a comissão, desta vez, aproveitando a experiência adquirida com os lançamentos anteriores, mandou imprimir prospectos e através deles deu publicidade ao acto, bem como dos prémios pecuniários a atribuir a todos os lavradores que à feira acorressem. A abrilhantar o lançamento estava, desta vez, a banda filarmónica de Lalim.
Houve música, fitas e foguetes. Mas a feira também não vingou. Ao cabo de quatro anos enguiçou novamente. E novamente, em 1958, uma outra comissão formada por Abílio Duarte Pereira, José da Costa, José Duarte da Costa e, mais uma vez, Salvador de Carvalho à cabeça, deitou mãos à obra. E sem o aparato de que se revestiram os «lançamentos» anteriores, desta vez a «feira» veio para ficar. Mas para tal os lavradores, que eram os primeiros beneficiados pela sua existência, comprometeram-se com a comissão em colocar no espaço da feira os seus gados, mesmo que fosse «só para encher» até que ali acorressem os gados das povoações vizinhas atraídos pelas leis da necessidade e do negócio.
A comissão, por acordo prévio com a Câmara Municipal, garantiu aos feirantes que, tal como aconteceu em 1927, ficariam isentas de impostos, o que, desde logo, deu ao evento o carácter de feira franca.

Iniciada, essencialmente, para a comercialização de gados, a febre aftosa e a peste suína africana, bem como a consequente legislação proibitiva da circulação de animais no país, veio a terminar com esse tipo de negócio. Mas era tarde para a feira acabar. A estrada, as mudanças sociais, e os novos hábitos de consumo da população, conduziram a Cujó «vendedores ambulantes» com de roupas, chapéus, louças e tudo o mais que ali se vai vendendo e comprando, mês após mês, ano após ano.
Neste princípio do século XXI, quando retrocedo ao ano de 1927, eu que nasci em 1939, e vejo estes esforçados homens de Cujó, entre os quais o meu pai Salvador de Carvalho, nos tempos de estreitas veredas de comunicação e de cultura, a lutarem, com todas as dificuldades próprias da época, para que a sua terra natal fosse posta no mapa das feiras mensais do concelho e no mapa administrativo, como freguesia independente de S. Joaninho, pergunto-me o que mais posso fazer, em sua memória, do que reconhecer-lhes, na web, o quanto eles deram de si em benefício dos interesses colectivos da aldeia, do protagonismo que assumiram na História Local. De outros que, tal como hoje, se importaram e importam somente com a «sua vidinha» não reza a História.
Nota: este texto foi transcrito do meu velho site, onde pernanece há anos, para este novo site, hoje mesmo.
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