ANTIGAMENTE ÉQUE ERA BOM
Nunca me tinha lembrado
Mas tinha que ser um dia
No cumprimento deste meu fado
Escrever em poesia
Uma impensável ode à fome
E nela cantar a barriga vazia
A felicidade de quem não come.
E seja criança, mulher ou home
Eu o digo sem ironia
Ter fome é ter alegria
Ter fome é ter saúde
Por isso canto a fome
Neste verso sublime e rude.
Descoberta esta verdade
Mesmo sem engenho e arte
Cantarei por todo o lado
Que a fome dá felicidade
Em Mercúrio, Vénus, Terra e Marte.
Barriga cheia é pecado
De luxúria. É incurável doença.
De barriga cheia não se pensa
O engenho e arte não se apura
E por caminhos errados anda
Quem a fome e a miséria não canta
Quem da fome não canta a fartura.
Abílio/2016