JOGOS FLORAIS EM 1947
Em 1995 tive a felicidade de me encontrar em Castro Daire com José Augusto da Silva Freitas, natural de Vila Seca, a residir em Coimbra, um velho amigo do meu pai, Salvador de Carvalho, desde os tempos em que trabalhava na Câmara Municipal de Castro Daire.
Fiel leitor das minhas publicações no “Notícias de Daire Daire”, fruto das minhas investigações sobre a HISTÓRIA LOCAL, no primeiro encontro pessoal que tivemos, logo se prontificou a fornecer-me fotocópia de algum material que possuía nos seus arquivos, sempre dignos de divulgação e conhecimento.
Com efeito, em 27 de março de 1995, entrou na minha caixa do correio um volumoso envelope com esse material, acompanhado de uma amistosa missiva onde ele se penitenciava do atraso que tivera em satisfazer a sua oferta.
A partir de então, todas as vezes que vinha a Castro Daire, era certo o nosso encontro pessoal, para falarmos com entusiasmo das NOSSAS TERRAS e das NOSSAS GENTES. História, cultura e comportamentos sociais, de BEM e MAL DIZER. Evolução e estagnação.
E num desses nossos encontros, sabendo que o PRODUTO DA MINHA INVESTIGAÇÃO, nem sempre agradava a todas as pessoas e instituições visadas, transmitiu-me uma expressão lapidar que ouvira ao seu padrinho, Abade da Ermida, Padre JOSÉ AUGUSTO DE FEITAS MARQUES. Assim; deixasse a «zoeira do carvalhal” e seguisse em frente. É o que tenho feito seguindo tão sábio conselho.
Fiz uso dos seus ensinamentos e de algum material fornecido nas páginas dos jornais onde escrevia e também no meu site “trilhos seranos.com” (site atualmente of line, substituído pelo «trilhos-serranos.pt) e o demais material ficou digitalizado no disco rígido do meu computador.
Aconteceu que o meu filho mais novo, nascido em Beja, filho de pai beirão (eu próprio) e de uma senhora alentejana (a minha esposa) adquiriu recentemente um “ninho” sito na linha divisória das Beiras e do Alentejo, como que fazendo jus à mistura do sangue que lhe corre nas veias. E, assim sendo, mostrou ensejo de fazer uso de uma secretária que me veio da família LANÇA, alentejana, secretária em cujas gavetas eu tinha alguns ARQUIVOS PENDENTES. Que sim, senhor. Era gosto meu que a levasse e nela eu visse confirmado o preceito bíblico: «filho pródigo à casa torna». Só teríamos que esvaziar as gavetas e arrumar os arquivos. Assim fizemos. E, fazendo-o, reapareceu o volumoso envelope com o matérial oferecido pelo meu amigo JOSÉ AGUATO DA SILVA FREITAS.
Manuseei-o novamente e trago hoje a esta minha página «on line» os “JOGOS FLORAIS” que tiveram lugar na PENSÃO ASTÚRIAS, no CARVALHAL, no longínquo ano de 1947.
Jogos abertos a todo o país, o tema versava sobre as TERMAS DO CARVALHAL e os concorrentes deviam expressar-se em QUADRAS DE SABOR POPULAR, sob pseudónimo. Pensado, dito e feito. E terminado o prazo, avaliadas as OBRAS LITERÁRIAS dos concorrentes, as primeiras SEIS mereceram o estaturo de « PRÉMIO» e as restantes de «MENÇÕES HONROSAS»
Digitalizo apenas as QUADRAS PREMIADAS que foram as seguintes:
1º PRÉMIO
Se me curar a preceito
Neste adorável rincão
Hei de erigir no meu peito
Um altar de gratidão.
Pseudónio: “Ninguém” = D. Judite Fialho, Lisboa.
2º PRÉMIO
C
arvalhal das casas toscas
Das águas quentes e frias
Se não existissem moscas
O Paraiso serias.
Pseudónimo “Chapeu Alto” = M. Maria José Cardoso, Lisboa
3º PRÉMIO
A deficiência e o mal
Da pele, fígado ou rim
Nas Caldas do Carvalhal
Acham depressa o seu fim.
Psedónimo, Tília= D. Isaura Cardoso, Lisboa
4º PRÉMIO
Salve nobre Carvalhal
Cujas águas milagrosas
Dão a cura radical
Às doenças mais teimosas.
Pseudónimo, “Pim,Pam,Pum”= Caetano Fialho, lisboa.
5º PRÉMIO
Hei de cantar-te, oh aguinha
Das Termas do Carvalhal
Se me curas a pelinha
És uma água sem rival
Pseudónimo, “Castelo” = D. Josefina Antunes, Lisboa
6º PRÉMIO
Carvalhal terra de encanto
Carvalhal, terra de flores
Carvalhal, terra de sonhos
Carvalhal dos meus amores
Pseudónimo “Sécia” = M. Cassilda sousa Meneses Almada, Oliveira do Sul.

É de notar, desde já, que todos os PRÉMIOS foram atribuídos a gente de ou moradora em Lisboa. O mais próximo, geograficamente, é o SEXTO, cuja autora foi uma menina de Oliveira do Sul. Estávamos em 1947. Evento cultural digno de notícia no «Mundo Desportivo» e tudo. Eram tempos, em que escritores, historiadores, poetas e poetisas de Castro Daire, figuras muitgo iluistres, não andavam por aqui tão bastas como as margaridas à beira dos caminhos. E esse facto, tão objetivo quanto as quadras populares acima transcritas, devia dar que pensar aos responsáveis (que foram e são) pelo nosso PELOURO DA CULTURA.
Há quem aprenda com o estudo do passado e há quem não aprenda coisa alguma.
Retomada a leitura do conteúdo do envelope que me foi remetido pelo correio, em 1995, apressei-me a telefonar a esse meu amigo, agradecendo-lhe mais uma vez os seus préstimos. Deu-me conta da sua avançada idade, da falta de mobilidade que vai sentindo, mas, pela agradável conversa que mantivemos em linha, deu-me provas de ter muito «arrumadinha a sua estante encefálica», que o mesmo é dizer estar, de boa memória e manter a sua atitude sempre afável e prestimosa. .