Trilhos Serranos

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quarta, 13 maio 2015 15:16

ACORDO ORTOGRÁFICO

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ACORDO ORTOGRÁFICO

A partir de hoje, segundo rezam os "ditos" de soalheiro e conselhos governativos e académicos, torna-se obrigatório o uso das regras da escrita estabelecidas no NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO. 


Eu julgo ter sido um utente da nossa LÍNGUA e espero continuar a sê-lo, escrevendo como aprendi na ESCOLA PRIMÁRIA ou escrevendo segundo as novas REGRAS. Não vou entrar em stress por causa disso, nem deixarei de expor o meu pensamento e sentimentos só porque aprendi a fazê-lo de uma forma e agora terei de fazê-lo de outra. E consola-me saber que já Camões dizia que a LINGUA que escrevia, com ligeiras alterações, "se julga que é Latina".
À laia de provocação aos DOUTOS opositores deste ACORDO, nomeadamente a um tal JUIZ que proibiu o seu uso em documentos do seu foro, eu vou deixar aqui a transcrição feita em 1950, por Manuel Simões Alberto, de um MANUSCRITO assinado em 20 de Janeiro de 1800, por HYERONIMO PEREIRA, na altura capitão-mor dos Rios de Sena e Comandante militar de TETE, dirigido ao Governador-Geral de Moçambique:

Illmo. e Exmo. Senhor
Dou parte a VExa. que huma das mayores cauzas de se ver abatido o Comercio dos Certoens Cafriaes destas Colonias, hé a Liberdade com que ele se frequenta, andando as fazendas por muitas maons sem hum preso certo, e geral atodos, que nele negocêão; circunstancia esta por que os mesmos Certionistas tem alterado, e vão alterando dia a dia os presos de ouro, marfim e escravos, em comparasão dos antigos; de sorte que tem se experimentado por este motivo os moradores, assim ricos como pobres destas colonias não tem havido utelidade de seus negocios aproporsão das fazendas que arriscam nos mesmo Certoens; e tambem por haver entre eles huma opozição oculta mais interessante aos mesmos Certionistas, os quais ja tem calculado huma certa experiencia de que o mesmo negocio não cessará nunca, não só por este motivo, mas ainda apezar de continuados roubos que selhes tem feito, e ainda continuão por huns frivolos pretextos.

Para se cohibir este princípio tão perneciozo, seria conveniente estabelecer-se em cada uma destas Vilas huma Caza de Sociedade particular, em que cada hum dos dos moradorez, à proporção do seu estabelecimento, entrasse com as fazendas que entre sy regulassem, deregidos por dois caxeiros que eles mesmo para isso ordenassem com outras regras precizas par diresão da mesma sociedade, e giro, aque ofim deste objecto se experimentasse por tempo aomenos de dous anos para conhecer a utelidade a que se propoem; por quanto, quando se achasse ser prejudicial, então se poderia tornar ao seu antigo estado.

Pois algumas pessoas prudentes me persuadirão a que eu estabelecesse este Plano em vtelidade comum dos mesmos Povos, e que só por este methodo se poderião reformar os referidos certoens pondo-se nos seus antigos presos; e que ao mesmo tempo a experiencia mostraria a cohibisão dos preditos roubos, animados, como estão, pela abundancia defato que se arrisca nos mesmos Certones, sujeitando-se à inveja dos mesmos Certionistas, podendo elle hir de baixo de hum comboyo escoltado a não vir experimentar os insultos dos mesmos.

Como todo o referido se dirige unicamente respeitando-se à reforma dos mesmos Certoens, e em nada encontrando se àliberdade geral do comercio do Estado, achava eu, que V.Exa. fosse servido facultar-me os poderes para fazer executar este mesmo Plano naforma que está expressado: oqual tbem por outra parte mostraria oseu fim interessante abeneficio dos comerciantes que dessa Capital entrão estes Rios, sem que possão fiar suas fazendas, como se costuma a muitos Patricios das Terras, sem segurança alguma, que não servem senão para atravessar onegocio, abandonando às suas culturas de mantimentos, aque se devem aplicar, sobre tudo VExa. mandará o que for servido.

Deuz Gue a VExa. Tete 20 de Janeiro de 1800

Hyeronimo Pereira (o Pereira está abreviado no original)

NOTA: que chatice eu tive de estar a respeitar a ortografia na digitalização deste documento. Por que raio não escreveu o Hyeronino Pereira como eu aprendi na Escola Primária?

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.