Trilhos Serranos

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domingo, 13 setembro 2015 09:31

A INVASÃO 3

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Tenho para mim que as palavras por nós ditas e/ou escritas, em qualquer circunstância, são os elos de ligação do nosso pensamento íntimo com a realidade exterior, concreta, visível e mensurável. São os sinais exteriores da estrutura da nossa personalidade e caráter, a saliva que, sem necessidade de laboratório, conduz os especialistas ao nosso ADN.

Falei da "História da Civilização Ibérica" de Oliveira Martins no post anterior e a ela voltarei a seu tempo. Não foram palavras vãs, nem desconexas com o drama do momento. Mas como a INVASÃO DO MEDO entrou, de rompante, na ordem do dia, a ponto da TV reportar as palavras do Presidente da República, a que ontem aludi (o medo de "perdermos a identidade", o medo de podermos vir a ser governados por "gente estranha" a quem foi concedida a nacionalidade portuguesa e, portanto, com "direito a voto"), vou deixar a HISTÓRIA escrita, a HISTÓRIA feita, a HISTÓRIA reflectida, e pôr o enfoque na HISTÓRIA viva, apaixonada, carregada de emoções, nem sempre reflectida, aquela que todos os dias presenciamos, que "vemos, ouvimos e lemos", com vista a associar a REPUGNÂNCIA que me causou a rasteira daquela "jornalista", na Hungria, aos indivíduos e grupos que, em Portugal, se aproveitam da SITUAÇÃO, alguns deles armados em patriotas primários e outros em intelectuais esclarecidos, seja de uma forma aberta ou disfarçada em retórica. Eles, em nome da Pátria, da Monarquia e até da República, aproveitando a maré, correndo atrás de "likes" aqui, no Facebook (hoje qualquer republicano é rei, sentado no seu trono, satisfeito com os "likaios" que, à maneira cortesã, o adoram e bajulam) eles, dizia eu, recorrem à PALAVRA e/ou à FOTOGRAFIA, a fotomontagens várias, criativas, imaginativas e de impacto, para levantarem o fantasma do MEDO. A última foi a de um avião, em pleno voo, com muitas pessoas no dorso com a ameaçadora legenda: "NÃO TARDA QUE ELES CHEGUEM ASSIM". Gente sem sentimento, corre-lhe a favor o vento. Comparei mesmo essas vozes ao "tam...tam...tam..." das "caravelas" colocadas na cabeça dos espantalhos, pelo lavrador, a rodar e a fazer barulho para espantar da sua leira os intrusos indesejáveis.

E o espantalho do MEDO não se fica somente pelos REFUGIADOS. Ele é acenado diariamente nos palanques da campanha que decorre para as eleições legislativas que se avizinham. E claro fica o que têm de comum essas aves de mau agoiro. São pessoas ou grupos de DIREITA. Se dúvidas houvera, elas desapareceram ontem na manifestação daquele partideco (qual é a sigla?) que resolveu mostrar-se nas ruas de Lisboa, contra uma manifestação de sinal oposto, esta realizada em consonância com as demais que decorriam em toda a Europa.
E logo em Portugal! Eles, esses PATRIOTAS, que pretendem dar lições ao mundo, que têm por bandeira o Afonso Henriques e Expansão Portuguesa, tempo de naus e caravelas, nós que demos "novos mundo ao mundo", que iniciámos GLOBALIZAÇÃO, a menina dos olhos da nossa HISTÓRIA e desses PARRIOTAS.
Foi por aí que comecei, o meu retorno aos "caminhos andados". lembram-se? Foi pelos dois VELOSOS. Um, o gabarolas cantado por Camões e o outro, o alcaide preso em Moçambique por "negociar" com os muçulmanos. Citei Camões, Alexandre Lobato e agora Oliveira Martins. A eles voltarei, oportunamente para melhor estabelecermos a correlação entre o PASSADO e o PRESENTE, entre a PALAVRA e o PENSAMENTO. Entre o indivíduo e a nação. 

Abílio/setembro/2015

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.