Trilhos Serranos

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domingo, 22 maio 2016 10:04

REINO DA ESTUPIDEZ

Escrito por 

 

Pombal-1OPERAÇÃO MARQUÊS

Tenho vindo a postar alguns textos com o título em epígrafe. Estou seguro de que nem todos os amigos tem feito as devidas e necessárias correlações políticas, económicas e culturais que subjazem à sua escolha. Entendi, por isso, aditar algumas linhas, bem a propósito da ONDA AMARELA que atravessa o país sobre EDUCAÇÃO.
É sabido que o MARQUÊS DE POMBAL,  empenhado em arejar a Universidade de Coimbra, procedeu à REFORMA DO ENSINO, valorizando as ciências exactas em detrimento da TEOLOGIA, CÂNONES E LEIS. Mas eis que, D. Maria, aconselhada pelos defensores da "velha ordem",  imprimiu a VIRADEIRA e...era uma vez uma REFORMA.

Na sequência não tardou a correr em Portugal inteiro um poemeto heróico/satírico com o título "O REINO DA ESTUPIDEZ", de autor anónimo, mais tarde identificado como de Francisco de Melo Franco, no qual, por virtude do retrocesso, MINERVA, a deusa da sabedoria, foi substituída pela ESTUPIDEZ, entronizada com toda a pompa e circunstância, por alguns estudantes e lentes da Universidade. Nem todos claro. Ora vejamos alguns dos tão eloquentes versos, com alguns sublinhados meus, para mais destaque:
Estupidez-1 - Red"(...)

Que vem a Estupidez em breve tempo 
Seus domínios cobrar, seu diadema,
Armada de terrível companhia.

(...)

Tira nisto o barrete o presidente,
E ao lente primaz de Teologia
Acena que comece. Logo feita
Ao congresso em geral submissa vênia, 
O seu voto profere nestes termos:

— "Muito ilustres e sábios académicos! 
Por direito divino e por humano, 
Creio que deve ser restituída
À grande Estupidez a dignidade
Que nesta Academia gozou sempre. 
Bem sabeis quão sagrados os direitos 
Da antiguidade são; por eles somos, 
Ao lugar que ocupamos, elevados. 
(...)
Entrai pois, companheiros, em vós mesmos, 
Ponderai sem paixão: para que serve 
As pestanas queimar sobre os autores, 
A estimável saúde arruinando?
P'ra levar este tempo em bom sossego, 
Divertir e passar alegremente,
Acaso precisais de mais ciência? 
Se os dias desta breve e curta vida 
Tivéssemos com os livros perturbado 
Teríamos acaso mais prebendas,
Mais dinheiro, mais honra, mais estima? 

Estupidez-2-Red

De que podem servir estes estudos 

Que mais da moda se cultivam hoje? 

(...)

Ponhamos como dantes estas coisas 
Em seu antigo ser; como bons filhos
Recebamos a nossa Protetora;
O que foi sempre seu, em paz governe".
Qual sussurrante enxame, que em tumulto, 
Segue a vereda que seguiu a Mestra, 

(...)

Assim dos frades todos e dos becas 
Seguiu a turba o explanado voto. 
(...)
Faltava a outra, que em desprezo é tida; 
Lentes de capa e espada são chamados, 
Que aos colégios não têm algum acesso, 
Nem recolhem da Igreja os doces frutos
Pelo mesmo teor votaram muitos;
Mas chegando a Tirceu  homem singelo, 
Que seus dias consome, sobre os livros, 
Contemplando a profunda Natureza, 
Os longos cumprimentos põe de parte, 
E com voz resoluta assim começa:

3B-RED— "Não é a glória vã de distinguir-me 
Quem me obriga a encontrar a tantos votos 
Que, por serem conformes, talvez sejam 
Ao parecer de muitos, verdadeiros. 
A glória do meu rei, o amor da pátria, 
São dois fortes motivos que me impelem 
A dizer francamente quanto penso
Trazei, sábios ilustres, à memória, 
Aquele tempo em que contentes vistes 
Entrar nesta cidade triunfante
O grande, invicto, o imortal Carvalho, 
Às vezes de seu rei representando;
Daquele sábio rei, cujo retrato
Inda agora me anima e me dá forças 
Para que, em seu favor, em sua glória, 
Derramando o meu sangue, exale a vida. 
Vistes ao grão marquês, qual sol brilhante 
De escura noite, dissipando as trevas,
A frouxa Estupidez lançar ao longe; 
E erigir à ciência novo trono
Em sábios estatutos estribado.
Das vossas mesmas bocas retumbaram
Cânticos de louvor nestas paredes. 
O triunfo cantastes na presença
Do zeloso ministro respeitado.
Que difrente linguagem hoje escuto
Como é possível que sem pejo ou honra, 
O contrário digais do que dissestes?
(...)»

Ora aqui tem, paciente amigo, matéria bastante para saber que na REFORMA EDUCATIVA em Portugal são velhas e relhas as ideias e os interesses que se escondem sob as actuais ONDAS AMARELAS. Daí o título: OPERAÇÃO MARQUÊS. 

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.