Trilhos Serranos

Está em... Início Crónicas A BOLA - O NÚMERO NOVE
terça, 12 julho 2016 18:03

A BOLA - O NÚMERO NOVE

Escrito por 

A MÍSTICA DO FUTEBOL E DOS NÚMEROS

No meu livro "Mosteiro da Ermida" publicado em 2001, acerca das misteriosas SIGLAS inscritas nas pedras daquela igreja, concelho de Castro Daire, discorri sobre o significado aquela que aparentemente, tem a forma de um 9.

Creio não ser despropósito revisitar esse texto, pois nele podemos encontrar alguma explicação para ser o EDER a arrumar, de vez, a "mala-pata" que os portugueses tinham com os franceses no domínio do futebol. Ora vejam o que escrevi nesse livro:

Edee-1"Seja, portanto, e por agora, um 9. Esse número que, como «tríade tripla, é um número sumamente poderoso na maioria das tradições (incluindo) no mundo celta. No misticismo representa a tríplice síntese da mente, corpo e espírito, ou de submundo, terra e céu. Ele era o símbolo hebraico da verdade, um símbolo cristão da ordem dentro da ordem» daí talvez a organização dos anjos em nove coros? (Tresidder, 2000:15).

Seja o que for e tenha o significado que tiver, ele aí está espalhado por um sem número de pedras a desafiar a imaginação de todos os que se interrogam sobre as siglas e as siglas interrogam, insatisfeitos com a explicação das «assinaturas».

Já vimos que se dividirmos 360, (o círculo, o infinito) por 5 (o homem), se obtém o número 72 e que a sua redução teosófica é 9, isto é, pode ser obtido multiplicando o 9 (o céu) por 8 (o Cristo).

Sim, mas que tem esse 9 a ver com os 9 cavaleiros que fundaram a Ordem do Templo em 1118, sob a orientação de Hugues de Payens e Geoffroy de Saint-Adhémar?

Paulo Loução ao historiar as origens dos Templários e as suas actividades iniciáticas nos primeiros nove anos, levanta-nos a ponta do véu quando diz:

«É evidente que por detrás da história oficial que, em termos gerais, está correta e documentada, houve, como em praticamente tudo o que se refere à Ordem do Templo, uma história oculta. É óbvio que os nove cavaleiros, independentemente de terem atividade de defesa dos peregrinos, tiveram nesses nove anos outro tipo de trabalhos ligados, provavelmente à sua iniciação, com a qual está relacionado o número 9»? (Loução, 2000:108).

E Manuel J. Gandra, reportando-se a tempos posteriores, diz-nos que aos professos da Ordem dos Templários «só de nove em nove anos lhes era permitido renovar o velho hábito e, mesmo assim, a arbítrio do rei e dos juízes do Tribunal de Consciência e Ordens». (GANDRA, 1998:323).

E os nove dias desses rituais mágicos, lembram as novenas(b) feitas em cumprimento de uma promessa (nove vezes três vinte e sete, quem não pode não promete), esses 9 dias de oração, essas 9 voltas em torno de uma ermida, ou de uma igreja, 9 crianças a rezarem a troco de um vintém, um tostão ou um escudo, conforme os tempos: 9X1=9. E as 9 badaladas das Trindades? E no diálogo travado entre Lucifer e o Anjo Custódio, no «Livro de São Cipriano» onde se enumeram as virtudes do Céu que conduzem à salvação? A nona corresponde aos «nove meses que a Virgem Maria trouxe no ventre o seu amado filho Jesus Cristo e por esta virtude somos livres do teu poder, Satanás» (Cipriano, 1998:111).

Donde vem a magia do 9 ao ponto de sabermos que nos enterros «falecendo alguém sem testamento, e tendo de seis mil reis até dez, faz-se por sua alma um oficio de nove lições; e tendo de dez mil reis até vinte de terço do terço(c), faz-se por sua alma dois ofícios de nove lições; e tendo de terço do terço de vinte mil reis até trinta, faz-se por sua alma três ofícios de nove lições. Em qualquer oficio de nove lições por defunto ou defunta tem os clérigos dois tostões cada um, com obrigação de uma missa pela alma de quem era o ofício. E o pároco tem três tostões do oficio e missa, e nove vinténs da presidência, ainda que os padres do oficio sejam menos de nove». (Pedrosa,1772:8)

Mas havia quem dobrasse a parada nos seus testamentos. O Padre Domingos Cardoso, de Castro Daire, falecido em 1775, deixou as seguintes cláusulas testamentárias: «acompanhamento de 18 padres, obrada, ofício de corpo presente, 720 missas, entre elas a da Irmandade de Castro Daire e o noturno no oitavário dos Santos feitos pelos párocos como é costume» (Costa,1992,VI:112-123)

Ligado à religião e magia, Salomão também recorreu ao número 9 para manufaturar alguns dos seus talismãs. Alguns deles «seriam garrafas de electro nas quais ele teria encerrado demónios que daí por diante ficavam ao seu serviço e não podiam resistir às nove letras mágicas inscritas sobre a garrafa». (Laurent et al, s/d, 136)

Religião e magia o número 9 estava presente na feitiçaria. Assim a «feitiçaria que se faz com dois bonecos, tal como a fazia S. Cipriano, enquanto feiticeiro mágico» só era válida se as palavras fossem «repetidas nove vezes há hora do meio dia»,(Cipriano, 1998:136) o mesmo acontecendo com a «feitiçaria que se pode fazer com as malvas colhidas num cemitério ou no adro de uma igreja» que só sortia bom efeito se as palavras do feiticeiro fossem «repetidas por espaço de nove dias». (Cipriano,1998:201)

(...)

E coisa curiosa: Dante, o autor da Divina Comédia, tinha 9 anos em 1274. Foi então que conheceu Beatriz, também ela com 9 anos. Mas só ao fim de mais 9 anos, isto é, quando ambos tinham 18, «é que voltaria a vê-la» (Boorstin,1993:243).

Com tanta significação, ficamo-nos pelos NOVE FORA NADA? Não (...)" (fim de citações)

Agora, para aquém da SIGLA, em forma de "9" inscrita nas pedras da ERMIDA DO PAIVA, temos o GOLÃO do EDER, o número 9 da SELEÇÃO NACIONAL e a relação entre factos e o significado dos números remeto eu para os místicos e decifradores das coisas ocultas, especialmente destas coisas da BOLA, mesmo que os que não gostem de investigar e de ler me mandam dar NOVE voltas ao campo.

Eder-2

Abílio/2016

Ler 1460 vezes
Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.