BANDA FILARMÓNICA
Em 2005, no meu livro «CASTRO DAIRE, OS NOSSOS BOMBEIROS, A NOSSA MÚSICA» deixei a «HISTÓRIA da BANDA DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS» nas suas raízes designada por "ORQUESTRA", «BANDA FILARMÓNICA» e «FILARMÓNICA CASTRENSE». Desse livro são as 4 fotos que ilustram esta crónica, com destaque para a de 1957, a preto e branco, pelas razões que mais adiante se entenderão.
Em 2016, quem havia de dizê-lo? recebi a poesia dactilografada de CARLOS EMÍDIO MENDONÇA OLIVA, na qual ele diz, o que eu bem gostaria de ter dito (assim o soubesse, como ele sabia) acerca dos músicos que a compunham. Essa ou outra anterior de que se desconhece fotografia. Como historiador rendo-me ao poeta. Eu cumpri o dever de deixar, em livro, a história de uma instituição que vinha de longe. Ele, conhecendo pessoalmente alguns dos elementos que, ao seu tempo, compunham a banda e os instrumentos que cada um tocava, deixou-nos uma espécie de retrato, à la minuta, de cada um deles, retratos que muito folgo em aqui reproduzir, tanto em homenagem ao autor, como à Banda e aos músicos que ele nomeou. É o que eu costumo designar "história com gente dentre". Oram tenham a paciência de ver e a sensibilidade de ouvir:
A vida castrense seria platónica,
Se não tivesse tido Amadeu Rebelo,
Que deve ainda servir de modelo,
Pois foi a alma e o corpo da Filarmónica!
(...)
Já falei da Filarmónica Castrense,
Vou ver se ainda posso memorizar,
O grupo bom, excelente, singular,
Que a mesma tinha, como pertence.
Começo pelo "Bombo" que tocava o "Rolo"
Tinha o José Rodrigues nos "pratos"
Na "Caixa" o "Choina", de bons tratos
E na "outra" carne assada, nada tolo!
Pertenciam à mesma: Seixas e Maquinista,
Duas pessoas assaz bem imponentes.
Nos "contrabaixos" eram frentes,
Dando à Banda uma excelente vista.

Tinha o bom Custódio na "requinta"
No "saxofone, Mário Jorge, seu mano,
Tocando o instrumento "soprano",
No "saxofone contralto", Abílio, boa pinta.
Havia a turma que tocava "clarinetes"
Em que de todos era, e foi o primeiro,
O tranquilo José Maria, "canequeiro"
Seguido do Júlio, sem cacoetes...
.
Lembro ainda no «cornetim», o Samuel,
Tendo como segundo o Aarão Neto,
Tocavam muito bem e com bom aspeto,
Doces no "solo" como favo de mel.
Jamais no "trombone" houve um herói
Tão consumado na ária do "rigoleto-tosca",
Tocando-as fazia cair até uma mosca,
Era um portento o impagável Eloi.
Magueija, um dia queria fazer compras:
E o velho Ernesto foi perseguido...
Porém, apesar de tudo, não foi vendido,
E continuou como chefe das "trompas".
António Alexandre com o velho "saxofone"
Aspirante de honrosa lisongeira,
Dando alegria ao Dr. Carlos Cerdeira
Que julgava e bem, a Banda no "Cone".
Eram dela tantos músicos geniais,
Que nomeá-los a todos individualmente
É tarefa pesada e bem ingente,
Aqui deixo meus respeitos para os demais.
Amadeu Rebelo, Pinto Ribeiro, Vasconcelos,
Já fazendo parte da santa eternidade,
A eles rendo preito de saudade,
A todos os outros, unidos nos mesmo elos.
Eu ainda conheci alguns dos músicos nomeados. E não vou repetir aqui o que já escrevi sobre Amadeu Rebelo de Oliveira Figueiredo, nos livros dos Bombeiros, da Implantação da República e na História da Imprensa Local. Um cidadão que, pelas suas iniciativas culturais e políticas, devia servir de modelo a muita gente, como bem recomenda, com fidalguia de nobreza, Carlos Mendonça. Com o currículo público e histórico que já lhe tracei, currículo que agora, sem esperar, aqui vejo reforçado em poesia, Amadeu Rebelo nem o nome de uma rua tem na vila de Castro Daire. Deve-se isso, seguramente à ingratidão e a incultura dos homens que têm gerido a "res publica" local. Aqueles que não ligam à história do concelho e menosprezam os CASTRENSES (com letra maiúscula) que fizeram algo mais do que estimular o folclore e o "jogo da sueca". E, se não é a ingratidão ou a incultura, então é pior ainda: é a mediocridade que não tolera a excelência e o não reconhecimento do MÉRITO em favor do clientelismo, do compadrio e das amizades. A DECÊNCIA exige DOCÊNCIA e nem todos podem ser apontados como modelo, tal como foi Amadeu Rebelo.