Trilhos Serranos

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terça, 21 fevereiro 2017 16:25

LUCY

Escrito por 

LUCY

Neste meu afã de nos tempos livres (que são poucos) percorrer os programas disponíveis na TVCABO, deparei, um dia destes, com um nome no meio de écran: «LUCY», somente «LUCY», no canal «FOX-MOVIES».

Num ápice, tal  como um relâmpago a rasgar o céu em noite escura,  esse nome transportou-me para algo distante no espaço e no tempo, arquivado na minha memória. 

1-lUCY

Pus de lado o comando da televisão e deixei-me ficar. Aconcheguei-me no sofá, manta sobre os joelhos que vão dando sinais de desgaste, e, ali sentado, eu, docente aposentado, tornei-me aluno do conhecido artista  Morgan Freeman a desempenhar o papel de PROFESSOR empenhado a explicar à turma inteira (alunos por sinal bem atentos e interessados no tema) a sua teoria sobre a EVOLUÇÃO DA VIDA E DO CÉREBRO HUMANO, em constante mutação.  Explicação e divisão natural das células, a sua multiplicação, a preservação das aprendizagens e a transmissão às gerações seguintes de todos os saberes acumulados. A baixa percentagem, para já, do aproveitamento da massa cerebral e, nesse processo evolutivo, o que se podia esperar-se de cada um de nós, à medida que essa percentagem fosse subindo de 10%, 20%, 30%, 50%,, sempre em crescendo, se para tal concorressem as necessárias e propícias condições ambientais e sociais, vegetais, animais e humanas.

E, durante a explicação, desfilam à nossa frente as imagens da reprodução de todos os  seres vivos, do namoro, do acasalamento do nascimento, do predador e da presa, aspetos da vida tal qual se conhece na selva rural e na selva citadina. A luta pela sobrevivência: Muito sangue à mistura em cada um dos espaços e dos tempos.2-lUCY

E a lição prosseguia na sua toada própria, (num só filme, muitos filmes) alunos de olhos esbugalhados e atentos,  até que, lá do fundo da sala um deles, como é costume, levanta o braço e, mais palavra, menos palavra, pergunta: «ó senhor professor, mas se nesse processo evolutivo gradual, houver alguém que, por mero acaso, atinja os 100% da capacidade cerebral, que sucederá?»

O Professor, olha fixamente o aluno interpelante e, humildemente  responde: «não sei dizer-lhe».

Aconteceu que, nessa evolução natural, e dadas as ambições do HOMEM, mais interessado no TER  do que no SER, apareceram cientistas e laboratórios virados para a descoberta de uma droga capaz de acelerar o processo e, com ela, poderem ganhar mundos e fundos. Descoberto que foi o produto,  havia que distribui-lo pelo mundo e, para tal, necessários eram os  "correios" que se sujeitavam a deixar abrir a barriga e, dentro dela, transportarem os embrulhos. E 4- lUCYfoi assim que, a contragosto, nos apareceu a linda Scarlett Johansson (uma estudanre que deu provas de conhecer bem a teoria do professor)  forçada a transportar no abdómen a poderosa droga, cujas substâncias ao serem absorvidas pelo seu corpo a tornaram super-poderosa, senhora de telepatia, telecinesia e ausência de dor. Capaz de, num só instante, dominar energia, comunicações, tempo e espaço com conhecimento instantâneo da evolução. Muitos fitas e efeitos especiais numa só fita, com polícias de permeio a zelar pelas regras sociais que a selva humana  exige.

Trata-se de ação e ficção científica de 2014.

Gostei de rever dois artistas que já conheço de outros filmes. Scarlett Johanson e Morgan Freeman, esse meu colega empenhado em saber e transmitir saber.  5-Lucy

O filme, segundo o meu critério,  termina de uma forma genial: a LUCY, essa primata peluda junto de uma ribeira, a tentar beber água com uso da mão, é surpreendida pela LUCY «civilizada». Esta comtempla aquela  e  estendendo o braço e a mão, estica o dedo indicador, assim a modos como Miguel Ângelo, na Capela Sistina, pintou o quadro onde o Criador aproxima o dedo do ser criado para lhe transmitir o sopro da vida.

É um remate de excelência. Um final em sintonia com toda a trama do filme. Mas, ao invés da intenção de Miguel Ângelo, na aproximação daqueles dois dedos, das duas Lucys numa só,  vejo o arco voltaico da luz da gratidão e dos poderes humanos que a LUCY "civilizada"  recebeu daquela LUCY "primitiva" cuja ossada a arqueologia trouxe até nós. Feitas e observadas todas as mutações, o professor, com a sua teoria elaborada acerca da evolução do cérebro humano, limita-se, a medo, a estender a mão e a segurar uma espécie de PEN decomputador pronta a transportar ali todo o conhecimento humano. E, segurando-a na mão direita, fita o mundo, como quem diz: «eis ao que chegámos».

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.