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sexta, 12 maio 2017 17:17

REPÚBLICA PORTUGUESA - SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE

Escrito por 

CARTA ABERTA AO DR. LUÍS BOTELHO, DIRETOR EXECUTIVO DA ARS DO CENTRO, I.P., DÃO LAFÕES, VISEU

1 - Na semana em que, diariamente, me entrou pela casa dentro a santidade e a humanidade do Papa Francisco, entrou-me também, caixa de correio dentro (hoje mesmo,  dia 12) uma carta timbrada da ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE DO CENTRO, I.P. DÃO LAFÕES, Av. António José de Almeida, 3514-511 VISEU, a esvaziar de SENTIDO HUMANO tudo quanto relaciona o binómio médico/doente, esse ato  tão apregoado aos quatro ventos por todos os profissionais ligados ao ramo da saúde. Explico melhor:

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2 - No dia 14 de janeiro do corrente ano escrevi e publiquei neste espaço uma crónica em que  falei do Dr. Jorge Ferreira Pinto, médico de Castro Daire, como sendo um dos últimos «João Semana» que consumiu a vida a calcorrear a serra, ainda nos tempo de carroças, burros e cavalos e bem assim do Dr. Sertório Dias que, deixando «o BEM BOM alcatifado dos grandes meios urbanos se fixaram nos MEIOS RURAIS, ajudando a manter de pé este pedaço de PORTUGAL   PERIFÉRICO».  

3 - Aludi ao início de carreira deste último médico que «fazendo a PERIFERIA» (1981-1982) por cá ficou, vindo, por sorte minha, a tornar-se o meu MÉDICO DE  FAMÍLIA, até ao presente, sem qualquer razão de queixa da minha parte.

4 - Já lá vão muitos anos de conhecimento, de afetos e de relação entre MÉDICO/DOENTE. Escuso, de propósito, o termo UTENTE. Foi, portanto, com grande surpresa minha que, hoje mesmo, dia 12 de maio de 2017, recebi uma carta timbrada do SNS de Viseu (cujo «fac-simile» se anexa) assinada pelo senhor «Diretor Executivo, Dr. Luís Botelho»  a informar-me de que «por impossibilidade do Sr. Dr. Sertório Dias dar resposta às solicitações inerentes a um ficheiro com um número tão elevado de utentes inscritos, poderá recorrer ao atendimento da UCSP de Castro Daire, com a garantia da prestação de cuidados de saúde por um novo profissional de Medicina Geral e Familiar».

 5 - Assim mesmo. Este senhor «Diretor Executivo», de seu nome Luís Botelho (ou seus subordinados) pegou no ficheiro do Dr. Sertório Dias, viu NÚMEROS de utentes a mais e, como se esses números não indicassem PESSOAS, riscou-me da lista e recambiou-me, sem mais nem menos, para um «NOVO PROFISSIONAL DE MEDICINA GERAL E FAMILIAR»,  com a «garantia de prestação de cuidados de saúde», agradecendo-me, cordialmente, a minha «compreensão». Não. Não a tem.

6 - Na crónica que escrevi em janeiro, disponível ainda neste espaço, aludi à batalha que tenho travado na imprensa e nos livros sobre a  REGIONALIZAÇÃO E A DESCENTRALIZAÇÃO, hoje tão correntes nas bocas dos governantes. Estava, então,  muito longe de supor que tais conceitos, ao nível dos SNS, Dão Lafões, excluíam as PESSOAS, pondo o seu enfoque racional apenas nos NÚMEROS

SNS - Cópia7 - Entrei em contacto com o Dr. Sertório Dias, mostrando-lhe  a minha estranheza,  e por ele fiquei a saber que jamais, em tempo algum, ele se queixara do excesso de doentes e que, por uma questão de reorganização dos serviços, a ter de alienar alguns dos seus doentes, seriam sempre os de inscrição mais recente e nunca aqueles que ele acompanha há longos anos.

8 - Face ao que, riscado oficialmente da lista do Dr. Sertório Dias, poderei não ter quem me passe as receitas das mazelas crónicas próprias da idade e  as análises necessárias, mas não sem deixar aqui escrito o meu veemente PROTESTO, enquanto PESSOA e CIDADÃO que, num ESTADO DE DIREITO, se recusa a ser simplesmente um NÚMERO a mais ou a menos.

Arriscaria dizer que, para quem assim administra o SNS, tendo a sua frente uma folha Exel cheia de quadradinhos e números, preferível é menos um do que um a mais. Pelo que, caso eu venha ser menos um, caído numa valeta por falta de medicação, a responsabilidade não morrerá solteira: aqui fica dito o nome de quem me retirou o MÉDICO DE FAMÍLIA sem qualquer queixa minha e desatenção ou falha dele.

É pois legítima a pergunta: que critério presidiu ao «varrimento» dos doentes que deixaram de integrar a lista do  Dr. Sertório?

9 - Não. Não é por essa REGIONALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS  que me tenho batido na vida desde que optei, tal como fizeram os médicos acima referidos, por nos fixarmos no interior e, dessa forma, ajudarmos a manter de pé este pedacinho de Portugal Periférico. Assunto que fica à consideração de quem de direito.

NOTA: A fim de constar publicamente, informo que este texto foi remetido para o seguintes endereços eletrónicos do SN de SAÚDE:   Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.  (Viseu) e  Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.  (Coimbra).
Nenhum dos seus responsáveis pode alegar ignorância deste PROTESTO assinado por  um cidadão que, tendo os seus impostos em dia, exige do seu MÉDICO DE FAMÍLIA e dos SERVIÇOS que ele serve, o respeito que ele merece como PESSOA e não como um simples NÚMERO que se escreve ou se apaga conforme as conveniências desses mesmos SERVIÇOS.

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.