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terça, 20 novembro 2018 14:12

HISTÓRIA COM GENTE DENTRO

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HISTÓRIA COM GENTE DENTRO

Em 2011, a propósito de um envelope recebido na Pensão Avenida, proveniente de Montalegre, com o nome de vários destinatários, escrevi uma crónica com o título «Consílio dos Semideuses». Essa crónica está disponível neste meu site «.pt» migrada que foi hoje mesmo do antigo «.com». Dela extraio o seguinte excerto:

ENVELOPE

«De todos os «signatários» do documento e participantes em tão «magno consílio» ainda vive em Castro Daire o senhor Ângelo Fausto Moita, com a bonita idade de 89 anos. Conversei com ele. Mostrei-lhe o papel. Comovido por ver a sua assinatura de mão firme, juntamente com a dos seus amigos, foi, para ele uma tarde de recordações e de afectos há muito passados. Tirando o senhor Manuel Araújo e Gama, o senhor Eduardo Carvalho, diz ter perdido o rasto aos outros. Mas garantiu-me a amizade que os unia, as muitas tertúlias que faziam e a credibilidade do «fiel depositário» ao ponto do documento, por todos eles firmado, sobreviver todos estes anos, como se num Cartório Notarial estivesse. E isto porque a PIDE não lhe pôs os olhos em cima, pois se pusesse, dada a forma cabalística como foi redigido, os signatários teriam, seguramente, passado um mau bocado.

 Lido pelos vigilantes do «Estado» toda aquela conversa fiada, aparentemente sem sentido, seria algo de conspirativo e, como tal, todos os membros do «consílio 31» alvos de atenção política. E, ainda que tal documento não lhes tenha chegado ao olho,  não andariam muito longe disso. De facto, alguns daqueles membros faziam parte da conspiração antifascista. Eles reuniam-se de quando  em vez numa Livraria/Papelaria que existia no Largo de D. Duarte, em Viseu, ao pé da Sé e quem ali os transportava, à socapa, era o senhor David Garcês, taxista de profissão, que disso estava incumbido. Chegados ali, estacionava o carro por perto e ao mais pequeno sinal de vigia suspeita, avisava os amigos tocando a buzina, segundo um código estabelecido previamente».

Em 2012, em «post» no FACEBOOK, também com o título «HISTÓRIA COM GENTE DENTRO» escrevi o texto que se segue, transposto para o meu site:

 Miradouro-Garcês«Graças aos clichês que David Garcês, taxista de profissão (falecido), me ofereceu, é possível partilhar hoje convosco este Miradouro. É um equipamento de «vista» e de «lazer» que, levantado aqui, neste ponto da vila, perto do velho Hospital da Misericórdia, desapareceu nas malhas do tempo. Ele viu passar por si curiosos amantes de paisagens, fotógrafos diligentes a captar imagens, vilãos na cavaqueira em horas vagas, crianças nas suas brincadeiras traquinas e ouviu a angústia dos tuberculosos à espera de cura, recolhidos na Escola Conde Ferreira quando ela deixou de o ser substituída pela Escola António Serrado. Nestes meus «posts», como é bem notório, espero que os meus amigos vejam «história com gente dentro». 26 de Março de 2012 às 13:16 · 

 

câmara RedNeste ano de 2018, posso e devo acrescentar algo mais sobre este cidadão que, no exercício da sua profissão, deixou claramente provas de ter o sentido da HISTÓRIA e do material em que ela se fundamenta. Foi ele que me forneceu um punhado de negativos das fotos que foi tirando, entre as quais o do MIRADOURO com que ilustrei o «post» alojado no Facebook. Mas dele não tenho apenas os «negativos». O senhor José Seixas, já falecido, de quem eu era amigo, ofereceu-me a máquina fotográfica que disse ter pertencido ao senhor David Garcês. A R0LLEFLEX que, aqui se apresenta.

 boné-red

 

Recentemente, mão amiga fez-me chegar o BONÉ desse taxista, e isso me permitiu voltar a falar de um cidadão de Castro Daire que deixou a sua pegada na HISTÓRIA LOCAL, deixando para os vindouros informação fotográfica bastante, diferentemente de tantos outros que, tratando exclusivamente d a «sua vidinha» nada legaram aos vindouros para melhor conhecimento do PASSADO.

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.