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quarta, 16 março 2016 13:54

O HOMEM DA NAVE, DEVOTO DE DIANA - 2

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 DEVOTO DE DIANA (2)

Disse na postagem anterior que a opção por um editor e por uma tipografia sediados em  CASTRO DAIRE/VISEU se deveu ao pensamento regionalista e descentralizador que há muito perfilho, em pensamento e obras. Isso poderá ver-se nos livros já editados e órgãos de comunicação em que tenho colaborado desde que ando por aqui, por estas terras de fraguedos, de matos e de semeadura,  a fazer da palavra relha e a lançar sementes, não  já no agro, mas nas mentes.

Nave-1 -RedzUrge pois esclarecer as razões profundas dessa minha opção, a fim de melhor se compreender o conteúdo do penúltimo CAPÍTULO onde,  prendo (verbo prendar) como merecem, os políticos e homens de cultura que, cada qual à sua maneira, têm contribuído para o CENTRALISMO político-administrativo e cultural que tem dominado o país. Para o desequilíbrio demográfico do território, há séculos. Assim:

Ouçamos Alexandre Herculano, façamos contas ao tempo e atentemos na teoria e na prática dos actuais responsáveis políticos, gestores das instituições culturais locais/regionais e/ou fazedores de opinião:

«Os partidos, sejam quais forem as suas opiniões ou os seus interesses, ganham sempre com a centralização (...) Obtido o poder, a centralização é o grande meio de o conservarem. Nunca esperem dos partidos essas tendências. Seria o suicídio. Daí vem a sua incompetência e nenhuma autoridade do seu voto nesta matéria. É preciso que o país da realidade, o país dos casais, das aldeias, das vilas, das cidades, das províncias acabe com o país nominal inventado nas secretarias, nos quartéis, nos clubes, nos jornais, e constituído pelas diversas camadas do funcionalismo que é e do funcionalismo que quer e que há-se ser»(1)

Claro que o centralismo político-administrativo tem raízes profundas na História e não é somente portuguesa. Veja-se, por exemplo, o que nos diz Régine Pernoud, relativamente à França:

«A partir do século XVI é na cidade que residirão os órgãos do governo e de administração, as escolas, numa palavra, os centros do saber e do poder. Igualmente nos séculos XVII, apesar dos esforços muito clarividentes de um Sully, não haverá mais actividade intelectual em meio rural senão num grau muito enfraquecido».(2)

Repararam bem?  «Na cidade residirão os órgãos do governo e de administração. Não haverá mais atividade intelectual em meio rural, senão em grau muito enfraquecido». Lá como cá, mais cá do que lá, quem pode negar a necessidade de inverter a marcha de tudo isto, reconhecendo e combatendo a abulia política e cultural que caracteriza as nossas vilas, aldeias e, até, cidades de província nos tempos que correm?

Este meu livro, pelo conteúdo e objetivos que visa, é bem o selo de garantia deste meu pensamento e ação. (continua)


(1) HERCULANO, Alexandre - "Carta aos eleitores de Cintra" (1858), in «Opúsculos», tomo II, 2ª edição, pp. 229-239

(2) PERNOUD, Régine - «O Mito da Idade Média», Europa-América, 1989, pp. 65
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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.