Trilhos Serranos

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quarta, 05 abril 2023 14:19

INDÚSTRIA MOAGEIRA

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 O MOINHO HIDRÁULICO

Agricultura. Esse milagre do homem sobre a terra. O fim das grandes caminhadas de antanho em busca de frutos, raízes e outras dádivas da Natureza, ora pródiga, ora avarenta. A fixação à terra. O fim da luta pela subsistência incerta e precária. O aproveitamento de extensos e férteis vales irrigados por rios que cedo ascenderam às páginas da Geografia e da História. A construção de recintos amuralhados nos altos dos montes, onde os habitantes estavam sempre atentos e vigilantes ao inimigo que espreita. O arrotear de várzeas, courelas, rugas fundas, entrecruzadas, a cavar o rosto do mundo.

 

MOINHO HIDRÁULICOA produção dos alimentos. O nascer das profissões. A divisão social do trabalho. A provocação de montes, solos magros a escorrerem pelas encostas abaixo, estancados por sebes socalcos, à custa de suor, imaginação, ferramentas,  técnicas e engenhos adequados à produção, conservação e transformação de  bens utilitários e de consumo.

 O aparecimento de cidades com pulseira de nascimento espiolhada à lupa, dissecação exaustiva da sua vida social, económica, cultural e política. Terras de Faraós e de Reis. O nascer de quintãs, casais, aldeias e vilas, terras sem reis nem faraós, cujo viver e formas de organização tarde chegaram à estante das civilizações, dando a conhecer a sua identidade, as suas técnicas, o seu modo de vida coletivo, na dimensão e amplitude necessárias.

Castro Daire não fugiu à regra. E se é verdade que  «as civilizações  não seguiram  todas  o     mesmo caminho de desenvolvimento, nem passaram pelas mesmas fases por razões que se reportam ao meio ambiente»,  também é certo que o conceito de História e de «Fazer História» não é hoje mais o mesmo que foi ontem. Daí a «Nova História». Daí o interesse que suscitam agora o estudo e o conhecimento da vida das comunidades periféricas, nas vertentes que ficaram mais ou menos esquecidas nas entradas das enciclopédias e outros estudos dispersos. Falo das técnicas, das indústrias, das tradições ligadas ao quotidiano da vida. E aqui entram os moinhos hidráulicos, objeto do presente capítulo e cujo «esquiço» ilustra estas linhas.

Nota: texto inserto no meu livro «Castro daire, Indústria, Técnica e Cultura», editado em 1995, fruto da minha «licença sabáticva».

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.