A produção dos alimentos. O nascer das profissões. A divisão social do trabalho. A provocação de montes, solos magros a escorrerem pelas encostas abaixo, estancados por sebes socalcos, à custa de suor, imaginação, ferramentas, técnicas e engenhos adequados à produção, conservação e transformação de bens utilitários e de consumo.
O aparecimento de cidades com pulseira de nascimento espiolhada à lupa, dissecação exaustiva da sua vida social, económica, cultural e política. Terras de Faraós e de Reis. O nascer de quintãs, casais, aldeias e vilas, terras sem reis nem faraós, cujo viver e formas de organização tarde chegaram à estante das civilizações, dando a conhecer a sua identidade, as suas técnicas, o seu modo de vida coletivo, na dimensão e amplitude necessárias.
Castro Daire não fugiu à regra. E se é verdade que «as civilizações não seguiram todas o mesmo caminho de desenvolvimento, nem passaram pelas mesmas fases por razões que se reportam ao meio ambiente», também é certo que o conceito de História e de «Fazer História» não é hoje mais o mesmo que foi ontem. Daí a «Nova História». Daí o interesse que suscitam agora o estudo e o conhecimento da vida das comunidades periféricas, nas vertentes que ficaram mais ou menos esquecidas nas entradas das enciclopédias e outros estudos dispersos. Falo das técnicas, das indústrias, das tradições ligadas ao quotidiano da vida. E aqui entram os moinhos hidráulicos, objeto do presente capítulo e cujo «esquiço» ilustra estas linhas.
Nota: texto inserto no meu livro «Castro daire, Indústria, Técnica e Cultura», editado em 1995, fruto da minha «licença sabáticva».