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sábado, 20 setembro 2025 14:45

CASTRO DAIRE - FONTE DOS PEIXES

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A GRANDEZA DA ARTE MINIATURAL

A HISTÓRIA, na relatividde das coisas do mundo com a marca humanamostra-nos a monumentalidade da ARTE MEGALÍTICA, pré-histórica e também a GRANDEZA DA ARTE MINIATURAL projetada em variadíssimas  formas, sejam as pinturas e gravuras rupestres, sejam os artefatos utilitários portáteis, como pontas de seta, machados, raspadores, moldes de fundição e, bem assim, esculturas humanas de pequeno porte, nomeadamente as estatuetas ligadas à fertilidade.

PRIMEIRA PARTE

RECONSTITUIÇÃO - CópiavenusUm exemplo dessas pequenas esculturas  ligadas à fertilidade é a “Vénus de Willendorf”, descoberta em 1908, nos arredores daquela pequena vila Austríaca. Foi feita de pedra calcária e tem cerca de 11 cm. Cabe na palma da mão. (Foto ao lado, extraída da Wikipedia). E outra peça é  o “molde céltico-cristão” feito em xisto, destinado a  fundir pequenos adornos para colares e aneis. A foto que aqui deixo é uma reconstituição daquele molde , partido que foi encontrado na Relva, freguesia de Monteiras, em 2007, no sítio do Oradoiro, por Agostinho Miguel,  seu proprietário, quando cava o seu quintal. Fiz sobre isso  crónica desenvolvida, publicada no “Notícias de Castro Daire” e no meu site “trilhos-serranos.pt”.

PENDILHE-1975

MENHIR-abílio-4Assim sendo, se desde os tempos pré-históricos chegaram até nós as “orcas”, “dolmenes”, “antas”,  “menhires” e “cromeleques”, toneladas de pedra agarrados ao solo, de que deixo aqui, para exemplo, a ORCA DE PENDILHE, comigo lá dentro (1975)  e o MENHIR DA MEADA, (7 metros de altura) em Castelo de Vide, comigo à sua frente (a falar para uma câmara de vídeo) , também nos chegaram pequenas peças de arte pintadas, gravadas ou esculpidas em rocha, a par  de objetos facilmente trassportáveis de lado para lado. 

E não falo da estatuária grega, romana e outras civilizações que as precederam ou foram suas contemporâneas. Deixo de fora, propositadamente, as históricas  SETE MARAVILHAS DO MUNDO ANTIGO, ainda que delas me lembre neste alinhamento de comtrapor pesados COLOSSOSMINIATURAS sem peso.

Ora, parece que a monumentalidade lítica pré-histórica está a renascer entre nós  e, muitos quilómetros em redondo, já se levantam  em rotundas, largos e praças das nossas cidades e vilas, variadíssimas obras de arte, obedecendo a estes ares ar dos tempos pós modernos. É só atentarmos nas rotundas de Viseu, de Sernancelhe, Mangualde. E incluo na lista, sem foto,  a escultura fálica de JOÃO CUTILEIRO, a pino no Parque Eduardo VII, em Lisboa, desde 1997.

Emigrante 7COMBATENTESFiquemo-nos, porém,  pela nossa casa - Castro Daire - e cá temos as esculturas de Manuel Coelho Pinto, relativas ao EMIGRANTE, na rotunda da antiga Feira das Vacas (foto aolado esquerdo), para espanto das pessoas que esperavam ver lá a figura de um homem, de uma mulher e de uma criança, com uma mala às costas ou na mão,  e a dos COMBATENTES, no Largo das Finanças, foto do lado diteito. Escultor castrense que também esteve, com obra agigantada, no ENCONTRO IBÉRICO DE ESCULTORES, que teve lugar em Coimbra, no ano de 2005, no âmbito das Comemorações dos 650 da morte de Inês de Castro. 

 

 SEGUNDA PARTE

Joaquim Almeida Pontes-1JOÃO GUEDESEntretanto, e sendo assim, no campo semântico dessa monumentalidade, olhos esbugalhados fitos nessas marcas da PÓS-MODERNIDADE, ignorada ficava a ARTE MINIATURAL antiga, projetada nos MONOGRAMAS  existentes em varandins de ferro forjado que, no troço vilão da EN2, resistiram à invasão do alumínio, cujo exemplo deixo na foto da direita, relativo ao nome de JOAQUIM ALMEIDA PONTES, (ao lado da Caixa Geral de Depósitos)  e também no frontespício do prédio que pertenceu ao senhor JOÃO GUEDES (próximo da Caixa Agrícola),frente ao Jardim Municipal. E, não muito longe, depois do Coreto, na ESFERA  que remata a FONTE DOS PEIXES, em Castro Daire. No caso, simplesmente DUAS LETRAS esculpidas  e entrelaçadas em relevo com tal arte e jeito que, se eu pudesse, o anónimo mesteiral da pedra que tais letras esculpiu, a fazer lembrar as CAPITURALRES GÓTICAS das ILUMINURAS MEDIEVAIS e também nos MISSAIS, subiria ao pódio “NOTABLE PEOPLE”, disponível no GOOGLE.

ESFERA-MONOGRAMA - CópiaCAPITELLetras ignoradas, digo bem. Um MONOGRAMA tão bem elaborado que eu, neste meu papel de lenhador na floresta das letras, sempre de podão em punho a tentar abrir clareiras de conhecimento, chamei lá os vereadores do PLEOURO DA CULTURA CASTRENSE, nomeadamente os senhores, Dr. RUI BRAGUÊS, LEONEL FERREIRA, PEDRO PONTES e até o atual Presidente da Câmara, Dr. PAULO ALMEIDA. Este uma vez ali, em 2022, tal com os restantes  vereadores, anteriormente interpelados, humildemente, reconheceu ignorar aquela PEÇA DE ARTE. Não decifrava nem lia as LETRAS que lá estavam, nem atingia o seu significado. Puxou do telemóvel e levou fotografia consigo. Foi o que fez, até à presente data.

A todos expliquei que LETRAS eram e o que elas representavam. Não estranhei, contudo, a ignorância destes responsáveis politico-culturais. Ela estava literalmente ao nível de uma vintena de pessoas que, de propósito, eu já havia interpelado quando elas ali foram encher as suas vasilhas de água. Chamadas a atenção para isso, pedida a explicação, a resposta vinha pronta e clara: “olhe, nunca reparei, não sei dizer-lhe”. A cada pessoa, uma pergunta. A cada pergunta, a mesma resposta. Nunca, em lugar algum, teve, para mim,  melhor significado a expressão: «cada cavadela, sua minhoca». De todas elas só um ancião com mais de 90 anos de idade, apoiado numa bengala com castão de prata, de seu nome Carlos Pinto, sapateiro que foi de profissão, (entretanto falecido e sobre o qual deixei crónica escreita e em vídeo) não hesitou: “são duas letras, um “C” e um “M” e querem dizer “Câmara Municipal”. Só não identificou os elementos constitutivos das duas letras, pois, “a vista já não me ajuda. Mesmo assim, este cidadão, entre muitos, «salvou a honra do convento» e fez-me ganhar o tempo que me levou à conclusão: «haja pão e água», pois o resto é dispensável. Ali a comunidade castrense saciava, diariamente,  a sede física e a sede mental não impelia ninguém, incluindo os agentes político-culturais,  a levantarem os olhos e contemplarem uma obra de arte esculpida em granito.  E quem pode questionar a felecidade de todos os seres viventes que nasceram, viveram e morreram de tal  jeito?

TERCEIRA PARTE

Foi por tudo isso que em 24 de setembro de 2016 (DOIS MIL E DEZASSEIS), com o título PATRIMÓNIO, publiquei no meu mural do FACEBOOK e, muito mais desenvolvidamente no meu site TRILHOS SERRANOS, um texto devidamente ilustrado a respeito dessa PEÇA, subl inhando o seu interese histórico e valor patrimonial e artístico.

fonte-1Foi pregar no deserto. E, por isso, em 06 de julho de 2022, sob o título a “GRANDEZA DA ARTE MINIATURAL”, reiterei a necessidade do seu RESTAURO, tanto mais que a FONTE DOS PEIXES, foi e é um ÍCON castrense que tem levado ao mundo o nome de Castro Daire através de postais ilustrados e peças de cerâmica, estas ainda vendidas na LOJA DAS MIUDEZAS, por iniciativa da sua gerente, Dona Maria do Rosário, uma das últimas lojas representativas  do COMÉRCIO TRADICIONAL LOCAL, de quem, em devido tempo,  fiz crónica, tal como fiz dos restantes comerciantes, entretanto falecidos e lojas fechadas.

ESFERA-MONOGRAMAOra, passados todos estes anos, sem que os nossos responsáveis políticos e culturais tenham feito algo no sentido de preservar essa OBRA DE ARTE esculpida numa ESFERA, NUM GLOBO TERRESTRE, num GLOBO-MUNDI, cabeça de uma FONTE, onde são fáceis de descortinar, desenhados a régua e esquadro, os QUATRO PONTOS CARDEAIS,  e sendo visíveis os efeitos que a erosão dos tempos - chuva, vento e gelo - exercem continuamente sobre ela, levando, seguramente,  ao seu apagamento total, dado que foi tempo ao tempo, neste ano de 2025, face à constatação de tal abandono e desinteresse, resolvi eu próprio, à maneira de mesteiral das letras, sem usar o escopro, cinzel e maceta, compasso e esquadro, mas as feramentas digitais disponíveis atualmente, proceder ao RESTAURO necesário e, sem a subtileza esotérica que, presumivelmente, envolveu a sua conceção e execução, prestar, assim,  uma homenagem póstuma a quem tal concebeu e executou. 

Consistiu esse RESTAURO em fazer uma FOTOCOMPOSIÇÃO, recorrendo, para isso, ao “know-how” do especialista José Mourão que, na firma FOTOGRÁFICA MANUEL DE OLIVEIRA, em Castro Daire, dedilhando o teclado do computador e fazendo uso da ferramenta  Photoshop,  sob a minha orientação, verteu para o papel a minha ideia e o meu propósito, a partir de um desenho e fotos cedidas para o efeito

 O produto final não é uma cópia fiel do MONOGRAMA esculpido em relevo, tal qual o original, concebido e executado pelo artista, cujo nome se ignora. Mas, não sendo, embora, uma cópia fiel da obra original, que melhor homenagem podia eu prestar a um artista, senão prendá-lo, mesmo a título póstumo, senão com outra obra de arte, respeitado o seu desenho, a sua criatividade e engenho, por forma a que o seu labor, lavrado numa ESFERA  se mantivesse vivo e divulgado na BLOGOSFERA? E quem sabe se, a partir daqui, este ICON MUNICIPAL  possa ser transformado em IMAN,  AUTOCOLANTE,  PIN, CRACHÁ  OU outro qualquer adorno tão ao gosto dos MOTOCICLISTAS  ávidos de levarem do concelho algo mais do que no PASSAPORTE o CARIMBRO da mítica ESTRADA NACIONAL Nº 2? Não fora assim, não fora esse meu gesto criativo e esse meu gosto,  o engenho e arte desse  MESTEIRAL DA PERDA  deixado neste nosso “Crasto”, condenado estaria a desaparecer como desapareceu o seu NOME, e o seu ROSTO, mas não o seu vincado RASTO.

QUARTA PARTE

Excluindo o espaldar de azulejos que ali foram postos em 1957, fabrico da cerâmica Aleluia de Aveiro, representando do lado esquerdo a CARVALHA DO PRESÉPIO e do lado direito a CASCATA DA POMBEIRA, os olhos de qualquer leigo em ARTE ESCULTÓRICA que atentem na ESTRUTURA da FONTE DOS PEIXES, da base ao topo, logo se dão conta de que nela se encontram elementos acoplados de tempos distintos. A peça de forma cúbica de esquinas lapidadas onde assenta a ESFERA no qual foi esculpida a data de 1921, tal como  os PEIXES laterais colocados na vertical a servirem de bicas, são de granito de textura e cor diferentes das restantes peças da estrutura, presumivelmente aquelas  peças que constituiam a primitiva fonte, localizada junto do estabelecimento comercial que hoje pertence a Jorge Fernades Pinto, como sugerem as fotos  publicadas em 1907 e depois de 1914, das quais  dei nota na minha crónica "ARQUEOLOGIA,3 - FONTE DOS PEIXES, MONOGRAMA E COISAS MAIS, publicada em 2016 nos meus "trilhos-serranos.pt".

COLUNAfonte-1O tanque é TREVOLADO e TREVOLADA é a COLUNA que fica mergulhada na água que o enche, cujo CAPITEL tem a forma de um CÁLICE, onde estão lavrados (quase apagados) DOIS PARES PEIXES, colocados de  cauda para cima e boca para baixo - boca com boca - semelhantemente aos OITO PEIXES esculpidos na ESFERA, constitutivos do MONOGRAMACM”. 

O mesteiral da pedra, que fez esta obra, manuseando, seguramente, o COMPASSO, o ESQUADRO, o PRUMO, o ESCOPRO, o CINZEL e a MACETA, arrancou da pedra bruta  não só a água que dela jorra,  mas também uma OBRA DE ARTE, de incontestável valor funcional, estético e SIMBÓLICO. A bem dizer um LOGÓTIPO MUNICIPAL singular, uma MARCA CONCELHIA, cujo desprezo não merece, da parte de gente culta, qualquer silêncio,  complacência e perdão.  

Por isso, demonstrada a larga IGNORÂNCIA que no «CRASTO» deixou lastimável LASTRO, assegurando-me, primeiramente, que os responáveis pelo nosso PATRIMÓNIO HISTÓRICO EDIFICADO, MATERIAL E IMATERIAL, ESCULPIDO E CINZELADO, o desconheciam, eu, HISTORIADOR natural do concelho (conhecem outro?)  que graças ao número e ao verbo subiu ao pódio  NOTABLE  PEOPLE (disponível na Internet) sem cunhas, compadrio, amiguismo e/ou cartão de militante político partidário, com NOME e ROSTO públicos, para descanso da minha consciência e desassossego dos nossos autarcas, os que já são e os que pretendem vir a sê-lo, neste ano de eleições de 2025, dei-me ao trabalho de escrever e ilustrar esta CRÓNICA, destacando, simplificando e explicando o que, aparentemente,  parece ter sido, ao longo dos tempos, «areia de mais para para certas caminhetas» nativas. E,  neste  século século XXI, bem cabe aqui a famigerada frase latina, com adequado acrescento: «aquam, panem et circenses"  é quanto  basta. A não ser que, este meu laborioso trabalho tenha despertado em todos os múnícipes a sede do conhecimento e o zelo  e preservação do nosso património identitário, osbstanto, assim,  a que o próprio  LOGÓTIPO MUNICIPAL seja apagado de vez, tal com foi o JARDIM PÚBLICO que, na recente qualificação, virou um amplo EIRADO onde se levanta um QUIOSQUE, cuja arquitetura destoa, claramente, de toda a construção tradicioanl concelhia.

foto 1 - Cópia

CONCLUSÃO

E deixo para os académicos mais entendidas o valor simbólico de todos os ELEMENTOS CONSTITUTIVOS conhecido, seguramente pelo MESTERIRAL DA PEDRA que o esculpiu (ou concebido por alguém ligado às ARTES LIBERAIS distintas das ARTES SERVIS, na classificação quinhentista) mas sem omitir o valor simbólico do NÚMERO OITO, tantos quantos os PEIXES que foram o MONOGRAMA, não vá esse VALOR SIMBÓLICO envergonhar os nossos AUTARCAS e todos os que. felizes e contentes,  indo ali buscar água diariamente, “nunca viram, nunca leram, ignoraram”. Assim, e por via das dúvidas, deixo, apenas, duas explicações resumidas, recolhidas em FONTES ESCRITAS distintas: a «WIKIPEDIA» e o «DICIONÁRIO DOS SÍMBOLOS»

 PRIMEIRA: “O número oito simboliza equilíbrio cósmico, poder, vitória, abundância e renovação. Ele representa a superação, a transição de um estado para outro, a justiça e a conexão entre o físico e o espiritual. Na numerologia, o 8 está associado à prosperidade material e ao reconhecimento, enquanto na tradição cristã simboliza a ressurreição e o novo mundo”. (In Wikipedia, online)

SEGUNDA: Na tradição africana “(…) O homem, imagem do macrocosmos, é comandado pelo número OITO, não só no mecanismo da geração e na estrutura do seu corpo, como também na criação e oedenação de rudo aquilo de que depende a sua subsistência. Assim, as sementes das plantas que ele cultiva lançadas à terra (…) são em número de OITO, e estas oito sementes primordiais são plantadas nos oito campos cardeais  da aldeia” (in “Dicionário dos Simbolos”, 1994,, pp.483)

 

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.