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sexta, 03 julho 2015 13:35

FORNO DAS PIMPONAS

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FORNO DAS PIMPONAS/ CORETO

No tempo em que toda a gente (adultos e crianças) anda por aí de câmaras fotográficas e de filmar na mão, a fazer  pontaria a tudo e a nada, tempo de Ipads, telemóveis, Internet e Facebook, depositório a granel de fotos que são autênticos documentos (todo o historiador e estudioso agradece tais fotos)  e outras divulgando futilidades sem importância nenhuma, lembrei-me de postar aqui este texto já publicado em 2012. As fotos que o ilustram são bem a prova do que afirmo: fotos que é preciso LER e INTERPRETAR. A foto nº 1, com os protagonistas cuja razão de estarem ali explico em devido tempo,  ajuda-nos  a interpretar o grito das crianças a correrem pelas ruas da  vila, anunciando a chegada dos rebanhos da Serra da Estrela. «aí vem o rebanho, aí vem o rebanho!» Ajuda-nos a perceber a razão por que o «povo» corria à Feira das Vacas com panelas, tachos e tachinhos, de alumínio, latão ou barro, em busca de leite. Ajuda-nos a perceber a razão por que, na década de QUARENTA do século vinte, o «povo», corria à Feira das Vacas a pedir, para comer, a ALFARROBA que o Corpo montado  da Guarda Republicana trazia para alimentar os cavalos. Ajuda-nos a perceber a razão por que, quando, por esse mesmo tempo, a Legião Portuguesa fazia ajuntamento da Feira das Vacas o «povo» corria para ali, com panelas, tachos e tachinhos para levarem para casa parte do «rancho». E a pedinchice não incluia somente os mais necessitados. Até «pessoas de sociedade» para usar a terminologia dos  meus informantes idónios, mandavam lá as suas «criadas»buscar «rancho». Quem se predispõe a fazer a HISTÓRIA da nossa terra, a falar do PSSADO E DO PRESENTE necessário é que se informe e fundamente primeiro. De contrário em vez de HISTÓRIA escreve «ESTÓRIA». Vende «gato por lebre». E mal informado anda quem patrocina, quem promove e quem compra essas patranhas.. E mais não digo. Mas eis o que disse em 2'012:  


Fruto da minha persistente investigação e permanente contacto com pessoas que conheciam Castro Daire noutros tempos, cedidos por elas, vieram-me à mão diversos espólios documentais e fotográficos (fotos e negativos delas) de que me tenho valido para, em muitos caos, fundamentar e ilustrar alguns dos livros que dei à estampa sobre a História Local.

1-LargoCoret.1-2Uma dessas fotos (foto nº 1) faz parte do lote das mais antigas que me chegaram e apresenta-nos a parte histórica da vila, vista de nascente, ainda sem a existência do coreto e da  casa onde atualmente o Dr. Jorge Ferreira Pinto tem o consultório, casa que foi construída em 1914 (foto nº, 2)

É uma foto de autor desconhecido, inserida no meu livro «Implantação da República em Castro Daire I», livro, cujos direitos de autor cedi «grátis» à Câmara Municipal e, portanto, é ela que recebe o produto da venda. Esta foto, dizia, foi publicada em 1907, na «Ilustração Portugueza» a acompanhar um extenso artigo assinado por João Correia de Oliveira, com o título «Terras da Beira, Castro Daire» com a legenda «um trecho da rua principal».

Identificando o trecho de uma rua e do velho burgo histórico da sede do concelho, esta foto, dizia eu, contém em si mais informação histórica do que parece à primeira vista. Basta observá-la com atenção, atentar em certos pormenores e, ligando o passado ao presente, não nos passará despercebida a forma estranha dos telhados aparentemente cobertos de silvas e matos, uns autênticos «Jardins suspensos de Semíramis, na Babilónia».  

Não, não é abandono nem desleixo dos proprietários. Não se trata dos «Jardins Suspensos», pois chegou até aos nosso dias o hábito dos moradores plantarem nas suas varandas roseiras, trepadeiras e até árvores de fruto. Neste princípio do século XXI ainda conheço uma varanda, não muito longe dali, que lá bem no alto, exibe dois limoeiros cheios de vida.

Outro aspecto histórico de preciosa informação é a ajuntamento de pessoas ali ao fundo das escadinhas, bem perto do sítio onde seria feito o Coreto. Sendo poucos adultos e muitas crianças, todos em magote, interroguei-me que evento estaria a dar-se para que tal acontecesse. E ressalta à vista que a conversa dos três adultos de chapéu não interessa às crianças nem essa conversa é para elas dirigida. Assim sendo, a explicação que me parece plausível é a seguinte:

Ali mesmo ao lado havia um forno conhecido pelo «Forno das Pimponas», designação que chegou aos nossos dias. Pessoas com meio século de vida ainda se lembram disso e lembram-se igualmente do ajuntamento das crianças juntos dos fornos à espera de um cibo de pão ou de bola, pois é histórica a solidariedade dos padeiros com as crianças. E não só.

Sete anos após a publicação da foto nº 1, ou seja, em 1914, veio a construir-se a casa de pedra que enquadra o atual Largo do Coreto (foto 2) e essa obra impossibilita atualmente o historiador ou qualquer fotógrafo, com o objetivo de mostrarem o ANTES e o DEPOIS, ou seja, o passado e o presente, de se posicionar no sítio onde se colocou o autor da foto nº 1, mas tal também não é necessário para vermos o mundo em mudança, para acompanharmos a evolução urbana da vila e refletirmos, com Le Corbusier, sobre o «espaço e a sua função». 

Abílio/2012

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.