Uma dessas fotos (foto nº 1) faz parte do lote das mais antigas que me chegaram e apresenta-nos a parte histórica da vila, vista de nascente, ainda sem a existência do coreto e da casa onde atualmente o Dr. Jorge Ferreira Pinto tem o consultório, casa que foi construída em 1914 (foto nº, 2)
É uma foto de autor desconhecido, inserida no meu livro «Implantação da República em Castro Daire I», livro, cujos direitos de autor cedi «grátis» à Câmara Municipal e, portanto, é ela que recebe o produto da venda. Esta foto, dizia, foi publicada em 1907, na «Ilustração Portugueza» a acompanhar um extenso artigo assinado por João Correia de Oliveira, com o título «Terras da Beira, Castro Daire» com a legenda «um trecho da rua principal».
Identificando o trecho de uma rua e do velho burgo histórico da sede do concelho, esta foto, dizia eu, contém em si mais informação histórica do que parece à primeira vista. Basta observá-la com atenção, atentar em certos pormenores e, ligando o passado ao presente, não nos passará despercebida a forma estranha dos telhados aparentemente cobertos de silvas e matos, uns autênticos «Jardins suspensos de Semíramis, na Babilónia».
Não, não é abandono nem desleixo dos proprietários. Não se trata dos «Jardins Suspensos», pois chegou até aos nosso dias o hábito dos moradores plantarem nas suas varandas roseiras, trepadeiras e até árvores de fruto. Neste princípio do século XXI ainda conheço uma varanda, não muito longe dali, que lá bem no alto, exibe dois limoeiros cheios de vida.
Outro aspecto histórico de preciosa informação é a ajuntamento de pessoas ali ao fundo das escadinhas, bem perto do sítio onde seria feito o Coreto. Sendo poucos adultos e muitas crianças, todos em magote, interroguei-me que evento estaria a dar-se para que tal acontecesse. E ressalta à vista que a conversa dos três adultos de chapéu não interessa às crianças nem essa conversa é para elas dirigida. Assim sendo, a explicação que me parece plausível é a seguinte:
Ali mesmo ao lado havia um forno conhecido pelo «Forno das Pimponas», designação que chegou aos nossos dias. Pessoas com meio século de vida ainda se lembram disso e lembram-se igualmente do ajuntamento das crianças juntos dos fornos à espera de um cibo de pão ou de bola, pois é histórica a solidariedade dos padeiros com as crianças. E não só.
Sete anos após a publicação da foto nº 1, ou seja, em 1914, veio a construir-se a casa de pedra que enquadra o atual Largo do Coreto (foto 2) e essa obra impossibilita atualmente o historiador ou qualquer fotógrafo, com o objetivo de mostrarem o ANTES e o DEPOIS, ou seja, o passado e o presente, de se posicionar no sítio onde se colocou o autor da foto nº 1, mas tal também não é necessário para vermos o mundo em mudança, para acompanharmos a evolução urbana da vila e refletirmos, com Le Corbusier, sobre o «espaço e a sua função».
Abílio/2012