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quinta, 27 agosto 2015 17:42

CUJÓ OBRAS DE ARTE

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CUJÓ - OBRAS DE ARTE 

Vindo de tempos imemoriais, feito por ignoto artista, oriundo não se sabe donde, eis o cruzeiro do Sr. da Livração no interior da Ermida, lá no alto da Serra da Lestra, a caminho da Mourisca, do Corgo Forninho e de Almofala,  creio que levado e levantado naquele ermo,  naquele caminho (disso não há gente, nem livro que fala) antes do templo que hoje lhe serve de guarida, a ermida que, em 1886, estava a ser ampliada, como nos diz a data no seu teto colocada. 
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Lavrado em pedra, com uma vieira (concha) no topo da figura de Cristo, vieira que é símbolo dos caminhos de Santiago de Compostela, ela bem pode dizer-nos que este cruzeiro foi lavrado no Mosteiro da Ermida, Mosteiro que estava no roteiro de tal caminho, pois sabido é que ao Couto da Ermida pertencia S. Joaninho e Cujó a S. Joaninho pertencia. 

Lavrado à força de mão, ponteiro, maceta e cinzel, ornamentado com cores postas a trincha ou pincel, este cruzeiro é um autêntico poema religioso lavrado em pedra. Não há semelhante na redondeza. O artista, podia não saber usar a caneta, podia não saber assinar o seu nome, podia somente assinar de cruz, mas deixou nesta obra, a luz da sua sensibilidade humana, a destreza do seu pensamento, a plasticidade da sua imaginação e criatividade. Basta olhar e ver. Basta que a gente, laica ou crente, pare, observe e leia o que o artista  escreveu, executou e concebeu na pedra, para quem creia ou não creia no crucificado, no Senhor da Livração.

Recentemente, outro artista, pondo nele a vista, utilizando as ferramentas de desenho disponíveis hoje em dia, no talhe e no corte da madeira e da pedra, (século XXI, ano 2015, digamos que fazendo uso do milagre da ciência, tenhamos disso consciência) resolveu replicar a obra e, dominando a tecnologia dos tempos atuais, a tecnologia  que nada tem a ver com o ponteiro, a maceta, o cinzel e os demais apetrechos dos canteiros de antanho, dedilhando, ora uma letra, ora um número do teclado do computador, hoje senhor do mundo, definidos os parâmetros de desenho e de corte, eis que, obedecendo aos números e à lógica, um pedaço de granito, um naco de penedo disforme arrancado da morte geológica em que jazia, toma vida e transforma-se, linha a linha,  na réplica que lhe serviu de modelo, assim, tal qual se vê. Deixando o rigor da escala, da largura e da altura (pô-las, para quê?) digamos que, para ser cópia fiel, feito sem maceta e sem cinzel, só lhe falta a pintura. 

E se do cruzeiro original se ignora o nome do autor, a origem e o tempo em que foi feito, da réplica, colocada no exterior a céu aberto,  se sabe que, quem o fez, quem teve a ideia, a ciência e o jeito,  foi o jovem Pedro Costa, natural de Cujó, com empresa de granidos e mármores montada na aldeia. A referência aqui fica para quem gosta de situar no tempo e no espaço, não uma coisa só, mas todos os eventos humanos, as obras de arte que, pela natureza dos materiais em que são feitas, duradouras, desafiam anos e anos as gerações inteiras, as gerações vindouras.


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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.