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sábado, 09 abril 2016 16:35

ERMIDA DO PAIVA - 1

Escrito por 

 

CASTRO DAIRE

Aprendi com o Historiador Oliveira Marques, no seu livro  «Guia do Estudante de História Medieval Portuguesa» aquilo que para aqui transpus em fotografia, não fosse alguém suspeitar da seriedade dos trabalhos que tenho levado a cabo na investigação da História Local, como parecem fazer alguns investigadores que vão fazendo currículo académico como HISTORIADORES lá pela Universidade do Porto.

1-Oliveira Marques-Red

Com efeito, tenho seguido o conselho desse insigne HISTORIADOR e, a bem dizer,  não dou início a qualquer trabalho de investigação, sem primeiro, dentro do possível, me familiarizar  com  a bibliografia que sobre o assunto tenha vindo  a público. Fi-lo também com o meu livro «Mosteiro da Ermida», dado à estampa no ano 2001.

Ora sempre que acabo um trabalho, a não ser que algum propósito me faça voltar a ele, ponho-o a descansar na biblioteca. E já duas ou três vezes tive de regressar às trincheiras por ter visto que nem sempre a «honestidade intelectual» pontifica nos caminhos de alguns investigadores e isso  me causar uma urticária deveras incomodativa. Dessas situações, que julgo pouco científicas e claramente desonestas,  tenho feito eco público.

Desta vez venho a terreiro pelo simples facto de ter sido convidado para ir «dizer umas palavrinhas sobre o Mosteiro da Ermida» a um grupo de turistas interessados em saber algo sobre ele.

Ao fazer o meu trabalho de casa, para facilitar a tarefa, em vez de folhear o exemplar que tenho na estante, recorrei ao Google, sítio que remete para um texto simplificado desse meu livro. Um texto  que, a pedido da ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE HISTORIADOES DE ARTE (com morada institucional  no Museu Nacional de Arte Antiga, Rua das Janelas Verdes1249-017 Lisboa, autorizei a publicar em formato PDF num dos seus Boletins de divulgação e conhecimento do nosso património.

Ermida-patrimónioa - Cópia 2Aconteceu que, navegando nas entradas que remetem para a Ermida do Paiva, apareceu-me à cabeça um texto publicado na Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, publicado em 2013, o que me levou imediatamente a lê-lo, de fio a pavio,  pois sendo publicação recente, podia trazer-me algo de novo e de novidades sobre o que investiguei ou investigo estou eu sempre ávido.

E trouxe. Já direi o quê. Mas não sem primeiro dizer que li também o longo e consubstanciado texto alojado na WEB pelo SIPA, SISTEMA DE INFORMÇÃO PARA O PATRIMÓNIO ARQUITETÓNICO, da autoria de Anouk Costa, 1997 e Rute Antunes, 2006, com registo visualizado «DESDE 2011» não sei quantas vezes, aludindo à inscrição pintada a ocre no tímpano da porta lateral do lado-sul do templo, artigo seguido da obrigatória BIBLIOGRAFIA consultada, tal qual se mostra na imagem seguinte, onde consta o meu nome e o título do meu livro «Mosteiro da Ermida.

E, visto isto, regresso  ao artigo publicado na «Revista da Faculdade de Letras do Porto», em 2013, portanto, muitos anos depois da edição do meu livro «Mosteiro da Ermida» e dois anos depois do artigo da responsabilidade do SIPA.

Porquê esta referência cronológica e a alusão à BIBLIOGRAFIA que remata o artigo do SIPA? Tão só, por imperativo de rigor que se exige a todo aquele (aqueles/aquelas) que, predispostos a darem o seu contributo ao conhecimento e difusão do nosso património histórico. Coisa que parece andar arredia no procedimento de alguns docentes da Universidade do Porto.

Que razões teriam eles para omitirem um trabalho relativo ao assunto sobre o qual se debruçaram muitos anos depois?  Todas, menos científicas e eruditas. Por isso, e nesse entendimento, ainda que, seguramente, nem todo o corpo docente daquela Faculdade se oriente pelo mesmo critério, cabe aqui denunciar como vai o ensino nas nossas Faculdades.

É que, tão ilustres académicos, de seus nomes, Lúcia Maria ROSAS,  Maria Leonor BOTELHO e Nuno RESENDE, não só resolveram ignorar o meu livro, não o incluindo na extensa BIBLIOGRAFIA que utilizaram, o que contraria a lição do grande Mestre Oliveira Marques, como parece ignorarem também as palavras de Paulo Alexandre Loução,  um investigador que creio não ser ignorado nos meios académicos:  «Os investigadores envolvidos num dogma religioso, racial, político ou de classes sociais estão inabilitados pela natureza para verem a verdade, ainda que diplomados por cem universidades» («Os Templários na Formação de Portugal», 2000,pp. 89)

Ermida-3-Porta RedPode, pois, perguntar-se o que levou estes três autores (logo três) a ignorar um livro e um texto disponível online amplamente ilustrado? Não é difícil descortinar as razões disso. As duas fotografias que se seguem ajudam o leitor a perceber a marosca: a primeira, consta no meu livro e no meu texto. Refere-se à porta lateral-sul do monumento, onde, pintada a ocre se lê «E.MCC2II», sendo que o «2», tomado por «L», com o valor de 50 em numeração romana, remete-nos para a Era de César de 1252, ou seja para 1214 A.D.

ermida-2-Red - CópiaNa segunda foto, temos o PrtScn do texto que tão ilustres académicos publicaram online, seja « Era: Mª : CCª : II» (sic) ufanos de um especialista ter traduzido pela primeira vez a legenda conexa com essa data. O leitor veja as diferenças. Repare na data pintada a ocre e naquela que foi traduzida e posta em letra de imprensa.

Sem armar em detetive, parece-me estar aqui uma das razões convenientes à omissão do meu livro. O meu livro e o texto online publicado pela ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE HISTORIADORES DE ARTE,  mostram, em fotografia, o que está pintado na pedra, e, como se vê,  não foi isso que o especialista usou na sua tradução. Ficou satisfeito. Mas se houvesse honestidade intelectual nenhum dos autores poderia ignorar o que sobre esse «2» disse Viterbo no seu Elucidário: «com esta figura 2 foi usadíssimo, entre nós, desde o século IX até ao século XII e sempre com o valor de 50» (Elucidário II, pp 349)

Mais conversa para quê? Estamos no século XXI e o Index Inquisitorial, bem como a Censura do que não convém, do que se não gosta ou do que se discorda revestem-se agora com a "opa" beata da omissão. Só que, aqui pelas bandas do Paiva, tal procedimento "académico" pode ficar estagnado e morto no leito do rio durante o verão, dirante uma vida, mas não resiste ao primeiro lançar de linha do pescador local, v.g., jamais ficará acomodado, em silêncio, no pego das conveniências académicas enquanto eu por aqui andar "vivinho da silva", capaz de raciocinar e de cotejar fontes, documentos e monumentos históricos. Goste-se ou não do que escrevo e penso.

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.