CASTRO DAIRE
Disse no apontamento anterior que o livro de Arão de Lacerda «O Templo das Siglas» fez escola entre os estudiosos da Ermida do Paiva, aqueles para quem esse trabalho se tornou a pedra angular de uma porta aberta aos saberes e às interrogações posteriores sobre tal monumento.
Não há referência à Ermida do Paiva que não remeta para Arão de Lacerda e daí não viria mal ao mundo, no domínio da investigação histórica, se, como vou demonstrar, não lhe atribuíssem o que ele nunca escreveu, nem pensou. Eu próprio lhe sou devedor com muito reconhecimento.
Mas quem lhe atribui o que ele não disse, fá-lo desonestamente e a História, como disciplina formativa que é, deve excluir do seu âmbito de investigação tais «trastes». É que eles chegam ao ponto de omitir CONVENIENTEMENTE o nome do autor e título da obra onde foram beber o saber que alardeiam, só porque ele apresentou tese diferente ou não concordante, no todo ou em parte, com a doutrina expendida pelo velho mestre..
Na sequência das observações anteriores, deu-me para «correr» as entradas disponíveis no GO0GLE que remetem para a Ermida do Paiva.
E então não é que na WIKIPÉDIA vejo palavras e ideias minhas atribuídas a Arão de
Lacerda? Palavras que ele nunca disse e que, jamais teria pensado, atendendo à perspectiva com que encarou e levou a cabo toda a sua investigação?
Fiz o «PrtScn» da página à dimensão do écran do computador. Aqui a deixo, a fim do estudioso ou curioso poder cotejar com aquilo que eu e Arão de Lacerda escrevemos e está patente nas páginas dos nossos livros, também aqui deixadas, lado a lado.
Ora, quem fez o artigo não omitiu o meu nome e a minha obra por descuido. Fê-lo intencionalmente, cometendo a injustiça de atribuir aquele investigador o que ele não transpôs para o papel, apesar de ter tido na mão o manuscrito que eu utilizei «Usos da Igreja da Ermida do Paiva», de Vicente Correia Pedrosa, de 1772, ao ponto de referir-se a ele sem «qualquer interesse» (pp.81).
Foi diferente a minha postura, face a tal documento. Nele encontrei e não deixei omisso, o registo deixado, em 1890, pelo abade António de Freitas Pinto e Sousa, a fl. 46, sobre o macabro achado na loja da sua égua, por baixo da moradia, quando ele se dispunha a ladrilhá-la, nada menos que as ossadas de dois seres humanos que, segundo o médico de Castro Daire, «estariam ali há cerca de 40-50 anos». Especulei sobre isso. E tenho boas razões para sustentar o que disse no meu livro, em resultado de investigações posteriores e documentação que me chegou à mão, relativa ao Reitor da Ermida, no tempo das Lutas Liberais. Ele próprio, liberal, teve de abanonar a residência temporariamente, tal era o ânimo dos «miguelistas», por aquelas bandas..
Acontece que o escriba do artigo da WIKIPEDIA transcreve o meu texto, fingindo ignorar o comentário que eu fiz na sequência, assim:: «ora aqui temos nós uma informação que, cotejada com outras, não pode ser considerada sem importância, como fez Arão de Lacerda, ao afirmar que, a não ser a referência à missa por alma de D. Dinis, o «Lv. Usos e Costumes», que ele utilizou para fazer o seu livro «O Templo das Siglas» «mada mais tinha de importância». (CARVALHO, Abílio Pereira de, Mosteiro da Ermida, 2001, pp. 181-182)
Mas há mais. No ponto 3 da sua pescaria, ao resumir o significado das SIGLAS, dado que remata todo o texto citando Arão de Lacerda, dando a entender que tudo o que escreveu antes a ele se deve (omitindo até, na bibliografia o meu livro e nome, situação que foi corrigida em favor daquele investigador) este divulgador de saberes sobre a Ermida do Paiva, atribui a a esse autor o que, seguramente, ele nunca pensou nem disse, por força da postura canónica que perpassa por toda a sua obra. Diz ele:
"3 A figura humana esculpida num modilhão bem pode exibir o que algumas siglas escondem, sendo elas próprias o símbolo da fertilidade reduzido à forma mais simples".
Repassem o livro de Arão de Lacerda a pente fino. Digam-me onde é que ele escreveu tais palavras, ou fez tal analogia? Não encontraram? ou fui eu que não encontrei por descuido ou leviandade? Então eu vos mostro o pego do rio Paiva onde o pescador que estou questionando lançou o anzol e trouxe à tona da água a ideia e as palavras que exibiu no seu cacifo, mostrando, a outros pescadores, caçadores e mais mentirosos o resultado da pescaria e da caçada que por aí andam a fazer na serra do Montemuro e arrabaldes. Vejam, cotejam e concluam:
«Em 2000, nós, insubmissos a ortodoxias dominantes, focámos um dos modilhões e dele destacámos, não um anjinho esculpido com asas, mas um homem mostrando as ferramentas que as ferramentas do canteiro lhe puseram entre as pernas, sem recurso à decorosa folha de parreira.
Em síntese, e para melhor se refletir sobre as marcas deixadas nas pedras da Ermida pelos canteiros que ajudaram a construir o edifício, podemos dizer:
1º - Havia quem pensasse que os monges da Ermida tinham alguma relação com os Templários e que foram expulsos do
mosteiro em 1312.
2 - Temos nas paredes do templo (e não só) «o resto de um hieroglifismo que de longe veio até terras ocidentais.»
3º - Num capitel historiado (hoje desaparecido) foi esculpido o «símbolo da iniciação».
4º - A figura humana esculpida num modilhão bem pode exibir o que algumas siglas escondem, sendo elas próprias o «símbolo da fertilidade» reduzido à forma mais simples.
Aarão de Lacerda, tendo embora tomado nota de alguns destes elementos, não fez entre eles as devidas correlações e deles não tirou as necessárias conclusões» (CARVALHO, 2001: 148-149)
E mais não é preciso dizer em homenagem a Arão de Lacerda que, se fosse vivo, seguramente repudiava aquilo que lhe atribuem e que ele nunca disse, nem pensou. Tem sorte. Eu ainda por cá ando «vivinho da silva» disposto a denunciar todas estas falsidades. Para tais pescadores que canonicamente mentem ou falseiam e assumem o papel de inquisidores omitindo o meu livro como que colocando-o no INDEX, aqui deixo um poema audiovisual inspirado nessa escultura.
https://youtu.be/Sz0PC8GtL4c