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quinta, 29 dezembro 2016 15:54

LAMELAS - CRUZEIRO DA INDEPENDÊNCIA E RESTAURAÇÃO, 1

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MEMÓRIAS VIVAS

Neste ano de 2016, ano em que por um GOVERNO DAS ESQUERDAS, foi reposto o FERIADO NACIONAL DO PRIMEIRO DE DEZEMBRO, extinto por um GOVERNO DAS DIREITAS, mostrando os respeito que os membros de tais Governos têm pela HISTÓRIA e valores pátrios, apetece-me trazer aqui, mesmo ao findar o ano, umas das medidas emblemáticas do ESTADO NOVO, relacionada com  INDEPENDÊNCIA E RESTAURAÇÃO DE PORTUGAL.

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Aconteceu que, num rasgo de nacionalismo patriótico o ESTADO NOVO ordenou que em todas as freguesias do país fosse levantado um monumento alusivo a esses eventos históricos, neles devendo figurar as datas de 1139 (em alguns deles arredondou-se para 1140), 1640 e 1940.

Mas freguesias havia e há que incluíam diversas povoações e desprovidas de verbas para levantarem um monumento em cada uma delas, decidiram satisfazer a vontade do Governo Central, escolhendo um sítio equidistante de umas e de outras ou, à falta dele, a cota orográfica mais elevada entre elas, por forma a que todas vissem o monumento à distância e nele se sentissem representadas. Estávamos no tempo em que, ao redor de casas, aldeias e vilas, todos montes, outeiros e demais elevações de terreno estavam rapados de mato, fosse por neles pastarem os rebanhos, fosse por serem eles que forneciam aos habitantes os matos para estrumes e lenhas. A serra sempre foi uma fonte de energia. Dela se extraíam as lenhas e o carvão para aquecimento, tal como atualmente dela se extrai, através dos geradores eólicos, a energia que alimenta lareiras, televisões, telemóveis e demais tecnologia disponível à informação, entretenimento e cultura.

Conheço três casos no concelho de Castro Daire onde  as Juntas de Freguesia, gerindo os parcos recursos que tinham nos seus cofres, recorreram ao princípio acima enunciando. A Freguesia das Monteiras decidiu erigir o CRUZEIRO na povoação das CARVALHAS, o povo que fica geograficamente entre as aldeias da RELVA e MONTEIRAS, com o EIDO ao lado. A Freguesia de Mões, optou por escolher o monte sobranceiro à vila, à cota de 709 m de altitude, levantado ali a ver VILA BOA e arredores, assente em degraus octogonais sobre um penedo lajeado de raiz. Sobre este monumento farei uma crónica e vídeo à parte. E a «Freguesia de Lamelas» escolheu  o ALTO DA CABEÇA, à cota 773 m, sobranceiro a LAMELAS DE CÁ, e visto por tudo em redondo, inclusive Braços e Vila Pouca, que, segundo a tradição oral, também usufruíam daquele baldio em tempos idos.3-rEDZ

De todas as obras alusivas ao evento da INDEPENDÊNCIA E RESTAURAÇÃO, não sendo a mais artística é, de todas, a mais volumosas em forma de CRUZEIRO. Constituído por vários corpos em formato quadrado, na face virada a NASCENTE tem gravada a escopro o ano de 1139, seguido da inscrição: «VIII CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA». Na face virada a POENTE o ano de 1640 e a inscrição: «III CENTENÁRIO DA RESTAURAÇÃO». Na face virada  a NORTE temos : «AVE, CRUX SPES UNICA» e na face virada a SUL: «A CRISTO PORTUGAL AGRADECIDO 1940».

Atualmente rodeado de pinheiros passa despercebido à maioria das pessoas e convencido estou haver professores e jovens na freguesia que ignoram a sua existência. Sei lá se até mesmo autarcas!  Mas a quem não passou despercebido, há anos,  foi ao antigo Presidente da Junta da Freguesia de Castro Daire, António Vicente, que me levou a vê-lo e a limpeza que mandou fazer em seu redor na mesma altura que ordenou pôr a descoberto o sítio da Fonte Santa, no Monte da Lapa, escondida entre matos e silvedos, já por mim referida em texto e em vídeo, com vista a que o atual  EXECUTIVO MUNICIPAL não deixe perder uma «água pública» e a ponha ao serviço do público.   E também não é ignorado pelo senhor Narciso Pinto, a quem sempre recorro quando preciso de localizar o que, sendo do meu conhecimento, se me esfumou da memória. Foi o que fiz desta vez. E ele, sempre prestável, conduziu-me ali com a afabilidade que toda a gente lhe reconhece. (Ver link de vídeo anexo no fim do texto)

A HISTÓRIA é uma permanente descoberta. Nunca é um livro fechado e acabado. Cabe, pois, a cada um de nós, que ainda mantemos de pé este pedaço de Portugal periférico, registar as MEMÓRIAS que até nós chegaram por forma a permitir que os vindouros prossigam a investigação e, com isso, enriqueçam a HISTÓRIA LOCAL de modo a termos um melhor esclarecimento do nosso passado coletivo através dos traços físicos e mentais deixados pelos nossos antepassados em pensamentos e obras.

link do vídeo
https://youtu.be/Gyp7MoBGXDA 

NOTA: Pessoa amiga e atenta àquilo que escrevo disse-me em privado que LAMELAS não era Freguesia como eu escrevi no texto. Agradeci a atenção e alerteio-o (trata-se um amigo que gosta de me ler) para a forma como escrevi a expressão "Freguesia de Lamelas", em itálico e entre aspas. Pretendi assim  (esclareço agora para evitar mais confusão) mostrar que Lamelas, não sendo freguesia administrativa, mas somente eclesiástica, quis marcar a sua presença religiosa e deixar no ALTO DA CABEÇA  a legenda "A CRISTO PORTUGAL AGRADECIDO" e as restantes.

 

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.