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quinta, 17 junho 2021 16:55

O «DANTES»

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MANIFESTO ANTI «DANTES»

O «Dantes» julga-se rei

Tem a dinastia na alma

Tem a corte na família, compadres e amigos

Não admite sucessores em vida

Ocupa as funções por herança.

 

Mas o Dantes é vassalo

Faz vénias, curva a espinha

Vende-se por dez-reis-de-mel-coado

Olha a todas as conveniências pessoais

Vira-se a troco de qualquer mercê

O «Dantes» é o que é

O «Dantes» não presta

Fora com o «Dantes»

Pim!

 

O «Dantes» é misseiro

Não é crente, é fanático

É familiar do Santo Ofício

Tem uma mentalidade retrógrada

Apega-se às imagens do passado

Desconhece a realidade política

A realidade social e cultural do século.

O «Dantes» movimenta-se em capelinhas

É calculista, é cacique

É a continuidade em pessoa

Com o «Dantes» não há mudança

Do «Dantes» não sai coisa boa

O «Dantes» é o que é

O Dantes não presta

Fora com o Dantes

Pim!

 

O «Dantes» é ignorante

Vive no tempo das bruxas e lobisomens

Acredita nas rezas, benzeduras e quejandos

Tem uma mente incendiária

Já não atiça as fogueiras da Inquisição

Porque não pode.

Se pudesse, era o primeiro a correr com o fogacho

Era o primeiro a levantar o dedo

Era o líder da populaça ignara

Ávida de festa e de carne torrificada

O «Dantes» não é futuro, é passado

O «Dantes» é o que é

O »Dantes» não presta

Fora com o Dantes

Pim!

 

O «Dantes» anda "ócêtrás"

Não é do mundo actual

É do submundo de sempre

Do submundo dos cambalachos

Das falcatruas, da corrupção

Mas as suas falinhas mansas

O seu aspecto sério

O seu porte angélico

Sá engana os tolos, os incautos

Os que pensam e agem como ele,

Ou melhor, os que não pensam

Ou os que estão habituados que pensem por si

O «Dantes» é o que é

O Dantes não presta

Fora com o «Dantes»

Pim!

 

O «Dantes» parou no tempo

Com «Dantes» o tempo parou

O tempo com o «Dantes»

É uma peça arqueológica

Calcinada, enferrujada, parada

É uma peça de museu

Serve para estudo

Mas não serve para mais nada

Para mais nada, que digo eu?

Serve, serve, animada

Por outras peças de museu

Que estão na mesma caminhada

O «Dantes» é o que é

O «Dantes» não presta

Fora com o Dantes

Pim!

 

O «Dantes» não serve a Democracia

Serve-se dela

E na sua mentalidade senil

Não há  Primavera, não há  ABRIL

Não se renova a Natureza.

No tempo das viagens planetárias

E das velocidades rodoviárias

O mundo anda a passo de mula.

O dinheiro tudo regula

O «Dantes» trata da sua vidinha

É passado sem futuro

Mas é também presente

Presente nas artes da corrupção

Presente no vício, em vez de virtude

Presente na demagogia, em vez de pedagogia

Presente na máscara, em vez de rosto

O «Dantes» é a negação dos valores.

O «Dantes» é mudo

Perante a opinião pública.

O público não sabe que ideias tem

Que destino almeja para a Humanidade.

De muitas tretas

E poucas letras

Não conhece Almada Negreiros

É a negação de Almada Negreiros

Poeta de «Orfeu, futurista e tudo...»

O «Dantes» é o que é

O «Dantes» não presta

Fora com o Dantes

Pim!

 

Abílio Pereira de Carvalho

Nota: texto migrado hoje mesmo (17-06-2021)  do meu velho site (morto) para este (vivo).

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.