MARVÃO E CASTELO DE VIDE
Rescaldo das minhas recentes andanças por terras que fazem a fronteira entre o Alentejo e a Beira.
A ESTAÇÃO
Eu, beirão,
Nesta fronteira
Entre o Alentejo
E a Beira
“Paro, escuto, olho”
E vejo
Nesta ferrovia “Beirã
Marvão”
Um molho
De silêncio moribundo
Metido em caixão de ferro e chumbo,
Do mundo
De tempos idos
Só os carris
Linhas paralelas
A imitarem funis
No fim delas.
O edifícios identificados
Os azulejos pintados
Gentes, rios, fontes, monumentos
Livro aberto
Páginas de conhecimentos
Ao dispor do passageiro que, de perto
Ou de longe, vem em passeio
Em visita, trabalho, recreio
E aqui se apeia e espera.
O relógio está parado.
Os ponteiros
Indicam “um quarto para as cinco”.
Mas eu, beirão contemplativo,
Absorto
Neste mundo morto,
Nesta estação
Beirã-Marvão
Sinto
Uma epifania:
Inesperadamente
(Que fixação, que mania)
Ouço nitidamente
O arfar da locomotiva
“Pfaf…pfaf…pfaf…
Alivia-se-me a dor.
Das carruagens engatadas
(Qual comboiada de lagartas
De pinheiros)
Surge u mar de gente em redor
Apeiam-se adultos, crianças
Portugueses e estrangeiros.
O passado resuscitou
A ouvidos e vistas minhas
Carruagens deslizam nas linhas
E os passsgeiros
Bagagens, monta-cargas e bagageiros
Cada qual no sru afã
Enchem e animam agora
(Qual é o dia, qual é a hora?)
A ESTAÇÃO
De MARVÃO-BEIRÃ.

Abílio/janeiro/2025