Trilhos Serranos

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domingo, 13 abril 2014 12:53

ABRIL 2014

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TEMPOS QUE CORREM

ABRIL

Liberdade, igualdade, fraternidade

Bandeira de esperança de muitas cores

Qu'é dela?

Que foi feito dessa primavera

Desse jardim de mil aromas, mil flores

Que murcharam, mirraram, morreram

Em quarenta anos apenas?

Onde estão as minhas Tróias, as minhas Helenas?

CRAVOSABRIL

Neste mês de Abril

Passados

Quarenta anos da revolução dos cravos

Como posso cantar glórias e hinos

Se nos tempos que correm

Em torno de mim dobram os sinos

A chorarem os que famintos morrem

E a cantarem os que morrem empanturrados?

ABRIL

Quem viu um botão de rosa a abrir

Tornar-se rosa e deixar de ser botão?

Quem, na sua vida, algum dia

Da natureza viu tal magia?

Vi eu.

E quem tal não viu nem viveu

Quem não viu um botão de rosa a abrir

E tornar-se rosa o botão

Não,

Não viverá Abril.

Dele ouvirá falar na história

Mas nunca terá na memória

O entusiasmo

E a alegria de viver contra o marasmo

E o silêncio vividos até então.

Não,

Não é lição

Nem é sentença

Sequer.

Mas quem não viveu tal

Criança, homem ou mulher

Para seu mal

Não saberá o que é ser pertença

Daquela maré de gente

Daquela multidão

Imensa

CRAVOS.1.2.3.4 - Que nas colónias e no continente

Cantava até à rouquidão

A Grândola Vila Morena.

Isso para seu mal.

Mas, para seu bem

Também

Não sentirá o ruir dos sonhos

De todas as Marias, Manéis  Tonhos

(Um dos quais era eu)

Despertados do morféu

Onde dormíamos a noite serena.

Abílio/13 Abril, Anno Domini 2014

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.