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sábado, 20 fevereiro 2016 10:16

LUZ QUE ALUNIA - HUMBERTO ECO

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LUZ QUE ALUMIA - HUMBERTO ECO

Acordado, olho aberto, ligo a rádio e sou informado da morte de Humberto Eco.
Disseram a idade: oitenta e tantos. Não fixei. Só sei que se afastou uma luz dos meus encantos, uma luz que me alumiou e me fez rir no "Nome da Rosa", aquele livro onde falou a sério do livro que o riso proibia: o riso, esse mistério. Fiquei triste.

 

Num instante, com pena, passei em relance a obra da sua pena e a obra do cinema. E, então, qual nuvem de fantasma a atravessar espaços e tempos longes, a atravessar portas, paredes e janelas entrei no mosteiro, vi monges, subi à biblioteca, vi o corcunda, ouvi o seu latimório e vivi a vida imunda que rodeava aquele território, aquele bastião de religião e de fé. Fiquei triste. Mas, neste momento de pranto, ele me alumia, por enquanto, ali, de pé, na minha estante. Estou triste e fico sempre triste quando, neste mundo imundo que existe, neste vasto mundo de lucernas, vejo afastarem-se as luzes que me alumiaram e só não se apagaram porque são eternas. E tantas foram. Uma, a uma, elas se vão indo e, com elas, o Sol em descida trás o lusco-fusco da minha vida. Estou triste.

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Abílio/fevereiro/2016

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.