OS SEIOS
Aos olhos do poeta o seios são sempre belos.
Estou em terra quente. Terra tropical, onde se mistura gente local e gente de outros paradeiros. A civilização europeia (alguns dizem-se pioneiros) está longe, no comer e no vestir. Lá, no mato, fora da cidade, observo, vejo e sinto. As gentes da terra vestem e falam a seu jeito, não importa a idade de «mufana» e «cocuana». Elas, as mulheres, as mulheres que vejo e beijo, mostram livremente, sem manto, nem blusa, o peito de ébano, ora espetados, apetitosos, belos (à luz obtusa de certa moral pecaminosos), ora flácidos, descaídos, quase a chegar ao chão. Ou, então, atirados para trás das costas por cima do ombro, pois tal faz a «mamana», para alimentar o «mufana» suspenso na capulana colorida e garrida como a vida.
Mas, para mim, que a todos esses seios vejo e alguns beijo, tão amorosos são uns como os outros. Aqueles, de apetitosos que são, enchem-me a mão e neles me consolo. Fazem de mim criança de colo, menino mamão. Estes, caídos assim, quase secos, rugosos, como casca de cajueiro, não me enchem a boca, nem a mão, mas enchem-me o coração por inteiro. Já não são para mim, objeto de cobiça, mas fixando-os assim, a minha sensibilidade de poeta se atiça. E atento ao seu estado, perdida a juventude e o cio da glória que tiveram, sobreponho-lhe a lupa do carinho, do afeto, da admiração e, sem beijo meu, vejo em todos eles o caminho andado, vejo a terra e o céu, vejo séculos de história, o mundo inteiro, o tempo que vai, o tempo que vem, enfim, os pergaminhos da humanidade de que é guardiã somente a mulher, somente a mãe, somente a mamã.
Abílio/Tete/1964