quarta, 31 julho 2013 21:18
Escrito por
Abílio Pereira de Carvalho
GAIVOTA
OLHAR, VER E OUVIR
Homero nos seus poemas Ilíada e Odisseia, tanto quanto a memória me diz, atento ao mundo rural que o rodeia, encontra nele poesia e expressões poéticas que, muitos séculos depois, os estudiosos latinistas, diferentemente dos helenistas, vieram a expurgar da obra, substituindo-as por outras que julgavam mais adequadas à nobreza dos homéricos poemas. Homero, conhecedor do meio camponês e das suas belezas poéticas caracterizou as suas figuras mitológicas femininas com «olhos de vaca», «olhos de coruja» e na mãe de Hefaístos (o coxo) «olhos de cadela», expressões que foram substituídas por «olhos brilhantes» e «olhos grandes» mais consentâneas com o pensar de quem muito sabia do campo das de letras, mas pouco do campo dos animais e da poesia contida nos olhos de uma vaca ou de uma cadela, no corpo da gente e dos animais de pelo ou alado, pois a poesia está em todo o lado.
E por assim entender é que não fiquei indiferente aquela gaivota que, cá nas costas do Indico, depois de planar, de subir e descer, sobre o salgado mar e no ar escrever mil poemas, veio pousar num candeeiro, na marginal de Lourenço Marques, junto de um coqueiro, onde, ao fim do dia eu espairecia, e sobre ele descarregar uma malcheirosa cagada. Assim:
Se uma qualquer gaivota
Publicado em
Poesia

Abílio Pereira de Carvalho
Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.