terça, 08 setembro 2015 10:58
Escrito por
Abílio Pereira de Carvalho
O ECO
Já o escrevi, não sei onde e quando, mas vou repeti-lo hoje, aqui. Quando era menino de escola, e andava pelos montes a guardar gado, havia um penedo "in loco dicitur Riscado", (vejam lá, a escrever em latim que na altura só o cura e o sacristão da aldeia sabiam) que era a atração da pequenada. Saltávamos para cima dele, dávamos um berro e a nossa voz repercutia-se, não sei quantas vezes, naquelas quebradas da serra. Descia de encosta a encosta, ultrapassava o Rio Mau, ía ao Medroso, na vertente oposta do rio, e retornava até nós esbatida, mas muito audível. Era, a bem dizer uma pedra de encanto, uma espécie de púlpito que impregnava um milagre nas nossas almas ingénuas.
Ora vem isto a propósito do ECO que, de há uns tempos a esta parte, tem vindo a ser REPERCUTIDO por todos os nossos COMENTADEROS políticos, os encartados, com assento semanal nos púlpitos habituais, e os que esporadicamente a eles sobem para se repetirem uns aos outros, tal qual o ECO daquele meu penedo de infância.
- O melhor que ele faz ao Partido Socialista e a António Costa é ficar calado. Se fala, entra na campanha. E só prejudica o Partido!
Nunca gostei de unanimidades e vindo estas VOZES E ECOS da DIREITA dava para desconfiar. E perguntava-me se SÓCRATES, o político com a experiência que todos lhe reconhecem, ia nessas vozes de sereia. Se política é política e justiça é justiça, o que é que impedia um cidadão (não julgado com sentença transitada) de dizer o que pensava sobre uma coisa e outra?
O HOMEM falou. De uma assentada descalçou todos os COMENTADEROS. Retirou-lhes as BOTIFARRAS cardadas e, a partir de agora, vamos tê-los de chinelos a subir de mansinho os degraus dos palanques onde debitavam a sua SAPIENTE VERVE
Há dias, numa versalhada sem jeito, mostrei o meu DESALENTO quanto aos resultados do Partido Socialista espelhado nas sondagens. Hoje, depois do rugido do leão, confesso que fiquei um pouco mais animado. Pouco animado, mas muito SATISFEITO por ele ter rompido com aquela UNANIMIDADE BEATA: "o melhor que ele faz, é calar-se". Vejam só. Não se calou. E todos eles a BERRAR pela LIBERDADE DE EXPRESSÃO e pela DEMOCRACIA.
Já agora, só mais uma confissãozinha. Todas as vezes que, acomodado no meu sofá, ouvia esses COMENTADEROS, dizia baixinho para mim mesmo, o que hoje digo aqui bem alto e para todo o mundo:
- Vão bardamerda!
O homem falou e fez muito bem. Seja qual for o resultado da sua FALA.
Abílio/setembro/2015
Publicado em
Crónicas
Abílio Pereira de Carvalho
Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.