Foi esse também o tempo dos "Mercedes" amarelos, castanhos, brancos e cinzentos, coqueluche dos empreiteiros, dos mestres de obras que ganhavam dinheiro a fazer estradas e instalações para aviários, currais de cabras e projectos agrícolas de suínos subsidiados que nunca chegariam ao fim.
E foi também nesse tempo que correu entre amigos com algum espírito crítico sobre o meio que os rodeia, a anedota que aqui deixo. Vendo-a pelo mesmo preço que me foi vendida. A mim apenas me deve ser atribuída a forma como aqui a relato, já que, por força do estilo, ela teria contornos diferentes se fosse outro amigo meu a escrevê-la.
Então foi assim: um desses NOVOS RICOS foi comprar o Mercedes em voga. O vendedor, arguto, de posse do perfil do comprador, elogiou-lhe o gosto da escolha, as qualidades da viatura, que não era um carro vulgar, um baile baile verbal correspondente à exaltação do "ego" do cliente. Tudo o que foi necessário para o ver satisfeito e inchado. Estando as coisas no ponto, dito o preço não houve regateio.
O cliente encantado com o carro e com a forma como foi atendido pelo vendedor, convidou-o para um almoço, no restaurante ao lado. Que sim, senhor. Vamos lá. Sentados à mesa, escolhido o prato, coube ao vendedor escolher a bebida. E este, que não era tanso nenhum, escolheu o vinho dos mais caros da ementa. Aberta a garrafa e após os salamaleques próprios do empregado de mesa, sabendo de que vinho se tratava, o vendedor sorriu, agradeceu, que estava bom, podia servir.
O NOVO RICO, provou, bateu com a língua no céu da boca, e, de chofre, pediu ao empregado que lhe trouxesse um Sumol. Dito e feito. Abra. Acabe de encher o meu copo. Só bebo com mistura!
Empregado de mesa e vendedor, ambos conhecedores de bons carros e de bons vinhos, trocaram um eloquente olhar e deixaram que o almoço corresse ao GOSTO do novo dono do Mercedes. Bons tempos, bons tempos!
NOTA: este texto foi publicado no Facebook no dia 03/01/2013, transposto para aqui como MEMÓRIAS, hoje mesmo.