Trilhos Serranos

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sábado, 02 janeiro 2016 19:46

AS FONTES

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Quando, na minha infância, andava pelos montes a guardar gado, tal como os pastorinhos da minha igualha, todos conhecíamos as FONTES onde íamos beber e dar de beber aos animais a nosso cargo. Eram elas os locais de encontro onde todos saciávamos a nossa sede física, mas também a nossa insaciável sede de novidade e brincadeiras próprias da idade. Não havia na serra ser vivo, velho ou novo, que resistisse atracção telúrica das FONTES espalhadas por aqueles vales e montes. 


Mais tarde aprendi que a palavra FONTE não significava apenas aquele sítio onde jorrava a água à superfície da terra, mas também tudo o que, em vez de água, jorrasse, brotasse e botasse informação destinada a matar a sede, a curiosidade, a cultura e/ou a bisbilhotice, satisfazendo a cada um, segundo os seus apetites e ânsias. 

Tive um PROFESSOR que, acerca de determinado assunto curricular, aconselhava os seus alunos a lerem todos os ESTUDOS afins publicados, mas sem nunca esquecerem as FONTES, preferindo sempre ESTAS, ÀQUELES.

Ultimamente a palavra FONTE está muito em voga. São as FONTES jornalísticas. Estas, diferentemente das FONTES da minha infância, não são conhecidas por toda a gente, nem toda a gente tem acesso a elas. Neste mundo de eleitos religiosos, juristas, políticos, académicos e outros especialistas, só os ELEITOS jornalistas têm esse privilégio, resultando daí que, não nos podendo nós saciar directamente, outro remédio não temos senão BEBERMOS o que eles resolvem servir-nos. Outro remédio não temos senão satisfazermo-nos com o líquido coado que esses ELEITOS nos servem às pinguinhas e que às pinguinhas lhes é servido a eles, vá lá saber-se como, porquê e com que fins.
E os eleitos são raros, tão raros quanto as FONTES e seus sítios. Mas uma delas existe hoje em Portugal comparável às FONTES da minha infância. Só ela exerce uma atracção telúrica capaz de reunir em seu redor todo o mundo, adulto e acriançado. Situa-se ali para os lados de Évora e não falta IMPRENSA que, com armas e bagagens, tenha ali assentado arraiais sob o popular lema: EU DAQUI NÃO SAIO, EU DAQUI NINGUÉM ME TIRA.

Abílio/janeiro/2015

NOTA: texto publicado na minha página do Facebook em 02/01/2015 e transposto hoje para aqui.

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.