Trilhos Serranos

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sexta, 07 outubro 2016 16:16

INVESTIGAÇÃO

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INVESTIGAÇÃO

Tive um professor de liceu, em Lourenço Marques, conhecido entre os alunos pela alcunha "o Carocha". Julgo que na altura desemprenhava as funções de Director ou sub-director do Museu Álvaro de Castro, museu que veio a mudar de nome após a independência para Museu de História Natural de Maputo.
Advinha-lhe a alcunha do facto de ele se dedicar à investigação de tais "bicharocos" e à consequente publicação ilustrada de obras afins. O seu nome próprio, foi engolido pela alcunha e daí a injustiça de me ter esquecido dele, ainda que bem recorde o seu perfil físico e pedagógico.
Pessoa tão sábia, quanto humilde, ele não dava aulas, no sentido geral do termo, isto é, não subia ao estrado e debitava dali para baixo a matéria compendiada e programada. Não. Ele tinha "conversas" connosco e, creio que nessa sua postura informal, estava o encanto que me levou a gostar dos bichos, a mim, homem do campo. Lembro que no rol de fotos tiradas por mim e por mim publicadas no meu espaço do Facebook está uma "vaca loira", com uma cornadura que faz inveja a qualquer ganadeiro, criador de gado bravo. 
Ele tinha por hábito não largar o cachimbo. Sempre com ele entre os dentes, só o tirava da boca para ajustar o tabaco na "fornalha", não me lembro se com o dedo polegar, se com os apetrechos que para isso havia e há, apetrechos que também eu usei, enquanto esse vício me perseguiu. Hoje esses apetrechos são peças decorativas da minha biblioteca. Morreu de cancro, morte que foi sentida, penso eu, por todos aqueles que com ele trataram.
E vem isto a propósito daquele insecto que aparece pintado no busto daquela estatueta da República, publicado no meu livro "Implantação da República em Castro Daire-I", em 2010 (a preto e branco) e, recentemente, no meu espaço do Facebook e também no mural do DOUTOR PROFESSOR Amadeu Carvalho Homem.
Fosse ele vivo e, em 2010, quando fotografei aquela estatueta, dadas as interrogações que me pus sobre aquele insecto pespegado no busto da 
República, ter-me-ia dirigido a ele, a perguntar-lhe que "carocha" era aquela. Não o podendo fazer e ligando a estatueta a um republicano que integrava a ala "democrática" dos republicanos, em terra onde existiam as outras duas correntes (evolucionista e unionista) fiquei-me com a ideia de que se tratava de uma marca distintiva entre os grupos republicanos. E mais nada.
Mas o problema levantado agora pelo PROFESSOR DOUTOR Carvalho Homem fez-me voltar à questão e acho que este PROFESSOR, não sei se ciente disso ou não, ao publicar uma capa de livro com uma estatueta semelhante, levantou uma boa via de investigação que urge desenvolver. 
Cá por mim já fui ver tudo quanto existe na Net sobre bustos da República. E entre tantos, com o tal bichinho ao peito, desenhados e pintados em posições diferentes, só aquela estatueta que faz capa de livro e aquela que eu próprio publiquei. 
Quanto a mim, a primeira coisa a averiguar, seria saber que os dois proprietários pertenceram ao mesmo partido. Se ambos viviam em meio rural, pois tratando-se de um insecto, ele estava ali como símbolo e com um significado tal, que os camponeses apreendiam de imediato. 
Devo confessar que nestas minhas interrogações não descartei a possibilidade daquela joia, pegada assim, solitária (de momento não me lembro do nome que se dá a uma jóia dessas) no peito da República, não era a forma irónica e cáustica de criticar os adornos peitorais da Rainha D. Amélia. A República tinha de ser popular e um adorno silvestre, um besouro bem conhecido por camponeses, ajudava bastante. E mais ainda, a estatueta que eu fotografei tem o tamanho de uma "boneca" daquelas que então se davam às meninas, pelo que também não descartei a ideia de os republicanos, divulgarem a imagem da República, através de um brinquedo, mesmo que sendo de barro.
E mais ainda. Um dos bustos que fotografei está tal qual saiu da cozedura, dando a impressão que os "barristas" coziam a peças e vendiam-nas assim, virgens, deixando ao proprietário a liberdade de pintar a seu jeito e gosto os elementos decorativos que integravam o molde.
Parece que há mesmo muito que investigar e o PROFESSOR DOUTOR Carvalho Homem, assim a modos que não quer a coisa, abre vias de investigação. PROFESSOR É PROFESSOR! E o FACEBOOK É UMA LIÇÃO.

 

NOTA: posto no FACEBOOK em 7 de outubro de 2014

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.