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quinta, 20 dezembro 2018 13:51

CAÇA- LEBRES SÃO SEMPRE LEBRES (1)

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LEBRE É SEMPRE LEBRE.

Um «par do reino» (leia-se do território deste Clube) onde me considero enfiteuta isento de foros, esse «par do reino», dizia, dedicado a estas coisas da caça (quer coleccionando bibliografia, apetrechos atinentes a este desporto e informações que enriqueçam o seu espólio, olhando aos meus cabelos brancos, tem a gentileza de me perguntar, de quando em vez, algo sobre a minha experiência nestas andanças de «corta léguas» através de montes, serras e vales, nomeadamente, naquelas que dão corpo orográfico, cor e forma, ao relevo que rodeia o Montemuro e a Nave (na Beira Alta), às quais se soma a peneplanície alentejana, na zona de Castro Verde e Mértola.

 

lebre-3 - REDOntem, por telefone, perguntou-me se a samarra da lebre beiroa era diferente da da lebre alentejana. Disse-lhe peremptoriamente que não tinha notado diferenças, tanto nas que cacei nos meus tempos de juventude e de idade adulta, aqui nas Beiras, como aquelas a que travei a corrida à força de chumbo, depois esfoladas e cozinhadas com feijão branco, lá nas terras que viram nascer a minha falecida esposa, oriunda de uma família de caçadores, mas que, antecipando-se a tantos defensores de animais que hoje por aí proliferam, arrenegava (sem guerra doméstica) o gosto que adquiri na juventude por necessidade de ferrar o dente num pedacinho de carne que vestida tinha sido de pena ou de pelo.

Diferença, diferença encontrei num tipo de lebre que vi, pela primeira vez, na serra Nave, arredores de Carapito, Moimenta da Beira. Duas a que dei fogo. Descarreguei a arma numa e ainda com a arma vazia, outra me saiu de cernelha, ali mesmo. Ambas no mesmo sítio, nas bordas de um lameiro vestidas de altos e rendilhados fieitos. Ainda deu tempo de recarregar o ferro, canos sobrepostos, monogatilho, e mandar-lhe dois tiros. Mas, pela surpresa, precipitação, ou aselhice minhas, ambas se recusaram a fazer-me companhia e irem comigo para casa. Preferiram manter-se donas e senhoras de todos os «bens ao luar» que existiam em redor e onde foram nadas e criuadas.

Nave-caça - REDEssas sim. Tinha a samarra malhada, a modos que de cão epanhol, coisa que nunca tinha visto. Nem mais vi.

Como uma delas foi na direcção do meu primo, Manuel Carvalho Soares, e teve de atravessar um terreno lavrado recentemente com várias pedras levantadas aqui e além, ela pôs-se a fazer negaças com ele, escondendo-se de pedra em pedra, dando tempo de recarregar. Face a tanto tiro acorri ao local e ele disse-me o sucedido. Aquela lebre era o diabo. Hábil a esconder-se até a pele era diferente das que tinha conhecido até ali. Descarregara sobre ela oito cartuchos (tiro longo) e deixou-a ir, aparentemente, cheia de saúde. Já éramos dois a ver e a pensar o mesmo, os dois que os meus amigos poderão ver nas fotos e no vídeo que aqui deixo. É mais um contributo singelo que posso dar a este CLUBE, contributo que, em meu juízo, é mais CINEGÉTICO e informativo do que LITERÁRIO.

 https://youtu.be/KB8tPJOYWkg 

NOTA: publicado no «CLUBE LITERÁRIO CINEGÉTICO» do Facebook



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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.