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sexta, 28 julho 2023 12:45

MELHORAMENTO NA OUVIDA. E AS «MAMOAS» QUE É DELAS? (1)

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HISTÓRIA

As recentes obras de melhoramento levadas a cabo pela Junta de Freguesia das Monteiras, presidida atualmente por Américo Silva, no amplo espaço que circunda a CAPELA DA SENHORA DA OUVIDA, obrigou-me, como cidadão atento, a fazer um registo em vídeo felicitando aquela autarquia, pois, fazer ali um FONTANÁRIO com água vinda de longe e um caudal daqueles, é obra!

 Obra  pensada, trabalhosa, executada  e, como tal, património edificado que muito honrará os vindouros e muito útil será, já na 

FONTANÁIO-MOTApróxima  FEIRA/ROMARIA (dias 3 a 5 de agosto)  a todos os que, rodando ocasionalmente na E. NACIONAL nº 2, por ali passem e necessitem daquele líquido precioso, cada vez mais precioso, ainda que nem todos os autarcas assim pensem e ignorem, ou finjam ignorar as  NASCENTES PÚBLICAS, por mim identificadas e historiadas, por forma a evitar que elas se tornem  PARTICULARES. Os poderes PÚBLICOS têm a obrigação de zelar pela “res publica”. Relembro a FONTE DE NOSSA SENHORA, explorada pela Câmara Municipal no MONTE DA LAPA, entre Lamelas e Vila Pouca. Já dela fiz vídeos e crónicas e dei conta das minhas diligências aos EXECUTIVOS MUNICIPAIS. E até ao momento, “aos costumes disseram nada”.  Bom seria que estivessem atentos às palavras de Sofia: «vemos, ouvimos e lemos». Idem, idem, aspas para a FONTE DA LAVANDEIRA, dentro do núcleo urbano da sede do concelho.

Mas esta minha visita à OUVIDA, atento como sempre ao nosso património histórico, natural e paisagístico,  fez-me remontar aos anos de 1988 e de 1995, datas em que fotografei esse espaço. A primeira foto é uma dupla de 1988 e 2023, sob o mesmo ou próximo ângulo de visão.

1 -ouvida-Ela  abrange uma larga área, de modo a mostrar as diferenças e a marca do tempo. Sobre as razões que me levaram a gastar película e dinheiro a fotografar «aquela terra de ninguém» em 1988, hei-de fazer crónica separada. Para já atentemos nas restantes. Elas reportam-se aos trabalhos de investigação arqueológica ali levados a cabo, em 1995, pelos senhores PROFESSORES DOMINGOS CRUZ e RAQUEL VILAÇA, do INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA DA FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA, juntamente com alguns dos seus alunos. 

O resultado desse estudo  foi publicado no volume 7 do “CENTRO DE ESTUDOS PRÉ-HISTÓRICOS DA BEIRA ALTA”, 1999, pp. 129 e sgs, donde faço as seguintes transcrições, despidos da generalidade  das notas e citações bibliográficas por eles feitas, como é obrigatório entre ERUDITOS, nos estudos da especialidade. Para lá remeto os interessados. Dizem eles:

2- ouvida-Este texto reporta-se aos trabalhos de escavação arqueológica, com caracter de emergencia, realizados no sitio da "Senhora da Ouvida" (freg. de Monteiras / Moura Morta, concelho de Castro Daire), no justificando-se esta intervenção face à ameaça de destruição de um grupo de “tumuli”, por força dos trabalhos de terraplangem, e outros, associados à construçao da area industrial de Castro Daire”.

(…) 

Deve dizer-se que a referida area industriai fai inaugurada, certamente com pompa, em 1982, conforme se pode ler numa placa afixada no local. Em 1995, a unica "industria" instalada resumia-se a uma ''fabriqueta" de blocos, em fruste e inestética construçao, ferindo profundamente a paisagem. Para tras ficaram as "areas verdes", o "campo de jogos", o "refeitorio", o "parque infantil", os "balnearios", o "parque de estacionamento", o "restaurante", etc., etc., previstos no projecto inicial.

Em prol deste “progresso" se destroem, muitas vezes com arrogancia, vestígios milenares, sem que ninguém obste a tais atrocidades!

4-ouvida-É provavel que as referencias orais a antigas escavações  arqueologicas na "Senhora da Ouvida", recolhidas durante os trabalhos de campo agora realizados, se relacionem com as visitas de A. Amorim Girao à serra do Montemuro. De facto, o Sr. Augusto Carvalhal, residente em Costilhao, transmiliu-nos que ha cerca de 50 anos participou, com mais dois trabalhadores, na escavaçao do monumento 6, dirigida por quatro "engenheiros" de Coimbra. As referencias deste investigador sao depois utilizadas por V. Leisner, em obra publicada postumamente (org. de P. Kalb) (Die Megalithgraber der Iberischen Halbinsel. Der Westen, Berlim, Walter de Gruyter, 1998 ["Madrider Forschungen", band 1], p. 19: 1-11-12 -1-11-18: Senhora da Ouvida).

(…)

“A Ermida de Ouvida, no alto, consagrou milenares cultos do lugar. Conta-se que neste planalto se fara o ultimo julgamento dos homens, no fim do mundo. De verdade que ha ali um grande cemitério decistas e mamoas a testemunhar o povoamento da Serra na época do Bronze e a fundamentar a estranha profecia. Alguns dolmens desventrados da cobiça dos homens,  mamoas  elevando-se, de facil reconhecimento, sao ainda um desafio para o arqueologo mas constituem veslfgios preciosos do nassa patrimonio monumental".

MAMOA-AEstes PROFESSORES, depois dos estudos feitos, concluiram ter existido ali “um importante conjunto de “tumuli”, de dimensões e volumetria diferenciadas. Este documento foi enviado ao Instituto Português do Património Arquitetónico e Arqueológico, alertando-se para a destruição concretizada de alguns dos monumentos e a ameaça que então pendia sobre outros”.

E contextualizando a urgência da referida tarefa arqueológica, acrescentam: 

É neste contexto que se realizam as referidas escavações arqueológicas, centrando-se no grupo de “tumuli” mais exposto e ameaçado pelas obras em curso para a construção da área industriai do concelho de Castro Daire. Paralelamente, realizaram-se trabalhos de prospeção, conduzindo à identificação de novos monumentos, uns fora da área industriai, outros, embora poucos, inseridos nos loteamentos para construção». 

E rematam, esclarecendo:

Os trabalhos decorreram de 2 a 21 de Outubro de 1995, dirigidos pelos autores, integrados nos trabalhos de campo do referido projeto, promovido pelo Centro de Estudos Pré-históricos da Beira Alta, entidade que também suportou parte das despesas, em virtude da insuficiência das verbas disponibilizadas para o efeito pelo Instituto Português do Património Arquitetónico e Arqueológico”, sublinhando que ”A Camara Municipal de Castro Daire, depois de muito instada nesse sentido, proporcionou o transporte da equipa do local de alojamento para o sítio arqueologico, sendo bastante esquiva em qualquer outra colaboração”.

Bem. Este desabafo dos PROFESSORES DE COIMBRA, está escrito, assinado e publicado porceles. Deixaram em letra redonda  o que viveram, pensaram e escreveram. E isso  é bem pouco lisonjeiro para o EXECUTIVO MUNICIPAL. Não me causa qualquer espanto. Como seria HOJE?  A pergunta é retórica, pois a resposta vem já a seguir dada pela eloquente boca do eventual «ULTIMO DOLMEN», o «ÚLTIMO MOICANO» que resistiu a todas as benfeitorias e diatribes praticadas no planalto da OUVIDA.  

Aqui chegados, feita esta pergunta, direi que construídos foram os edifícios da ZONA INDUSTRIAL, aberta foi a “A24” que passa a NORTE/POENTE ligando Viseu/Vila Real e vice-versa e, veloz corre a vida sobre rodas. Posto o que, a alta velocidade,  volvidos somos ao RECENTE MELHORAMENTO, feito neste ano de 2023, no espaço em torno da SENHORA DA OUVIDA

Isto para acrescentar que, para aquém do que disse nos DOIS VIDEOS que fiz e alojei no YOUTUBE, foi com muito desconforto que parei a mota junto à UNICA MAMOA que ali existe e, há largos anos, de BOCARRA ABERTA, clama PIEDADE a todos aqueles que se prezam de integrar o LOTE DE GENTE CULTA. 

antaÉ que, se nós, os vivos, devemos respeito aos nossos antepassados, próximos ou longínquos, às suas crenças e rituais de morte, não podemos olhar e respeitar somente as  crenças e os rittuais que condicionam e determinam os comportamentos sociais contrmporâneos. Conhecedores do PASSADO distante ou próximo, mal andamos nós se destruirmos ou deixarmos ao abandono todo o património que é, garantidamente, sinete material e imaterial daqueles que nos antecederam no fio do tempo. Que povoaram as terras que são nossas, que nelas viveram e morreram. 

E, vejam bem, no vídeo que ali realizei de propósito, com vista a evitar que uma retroescavadora por ali passasse arrasando tudo, nem a mais simples SINALÉTICA, algo que identifique essa PEÇA ARQUEOLÓGICA, capaz de despertar a curiosidade e estudo do ser passante e pensante. Despertar interesse turístico, de estudo e reflexão sobre quem somos, de onde viemos e para onde vamos.

Falei até com pessoas que ali passam todos os dias e, não obstante a saliência marcante da MAMOA acima da linha do solo, mostraram a mais profunda ignorância sobre a sua existência. 

Por isso, na sequência das preocupações deixadas nos textos pelos professores de Coimbra, que acima transcrevi, eu, natural do concelho, assumido LENHADOR NA FLORESTA DAS LETRAS, para respeito dos estudiosos e despeito dos imbecis, não podia deixar de escrever e ilustrar estas linhas. Elas são um ALERTA ao estudo e PRESERVAÇÃO  «daquilo», chamem-lhe ANTA, DOLMEN, ANTELA, MAMOA o que disserem os ARQUEÓLOGOS, «aquilo» que, de bocarra aberta,  virada ao céu, pede MISERICÓRDIA. Tenham dó! 

 

vide link

https://www.youtube.com/watch?v=cx5W5-Uo40c&t=11s 

 

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.