C - LAMELAS - CRUZEIRO ALUSIVO À INDEPENDÊNCIA E RESTAURAÇÃO DE PORTUGAL
Nas duas crónicas anteriores sob o título em epígrafe, em torno do CRUZEIRO comemorativo dos CENTENÁRIOS DA INDEPENDÊNCIA DE PORTUGAL (1139) e RESTAURAÇÃO (1640) levantado no MONTE DA CABEÇA, em 1940, falei de HISTÓRIA autêntica com gente dentro. Falei do usufruto comunitário desse monte pelas populações circunvizinhas e disse que Santa Margarida era COVELINHAS no século XIII e que VILA POUCA, em 1758, coexistia com SÃO PAIO, tal como escreveu o Padre Encomendado Patrício Costa Peixoto, ao identificar e descriminar os templos e oragos que existiam na Paróquia de Castro Daire, dentro da vila e fora dela.
Sobre S. Pelágio, orago do templo que existe naquela povoação, já escrevi extensa crónica no meu velho site "trilhos-serranos" com título «O Culto de Heróis e Santos», dois dos quais vinham a ser o guerreiro Pelágio que, em Covadonga, nas Astúrias, deu início à Reconquista Cristã, contra os mouros e o menino do mesmo nome, cativo do Emir Abdmarrão III, menino que veio a subir aos altares por ter resistido às investidas sexuais do Emir. Daí S. Pelágio, S. Pelaio, S. Payo, que derivou para o apelido "Sampaio" que abunda hoje entre nós, ao contrário de "Pelágio" que, sendo frequente no século XIII, deixou de aparecer nas Pias de Batismo há muito tempo. Quem é que atualmente dá o nome Pelágio a um filho ou afilhado? Quer dizer, morreu o nome do soldado, do guerreiro, do herói de Covadonga, mas permaneceu vivo o do menino que subiu aos altares. No concelho de Castro Daire não conheço atualmente nenhum Pelágio, de nome próprio, mas conheço dois S. Pelágios: um em Vila Pouca (antiga São Paio) e outro em Vila Boa, freguesia de Mões.
Mas vejam como esse nome era comum e generalizado no século XIII, mais rigorosamente em 1258, alguns deles com o título de DOM anteposto ao nome próprio, tudo extraído das Inquirições de D. Afonso III:
Reriz, isto é, na Quinta do Rabaelo: Martinho Pelágio; Alva: Gontina Pelágio; Carvalhal: Pedro Pelágio; Arcas: Pelágio Rodrigo, prelado da Igreja de S. Miguel Mamouros; Casal: D. Pelágio e Pelágio Moniz; Ribolhos: Pedro Pelágio e Martinho Pelágio filho de Plágio; Castro Daire: Mauro Pelágio, juiz; Braços: Pelágio Pedro; Farejinhas: D. Pelágio, Pelágio Mendes e Martinho Pelágio; Lamelas: Pedro Pelágio filho de D. Pelaio, Pedro Mendes e Pelágio Pedro; Covelinhas (1): Miguel Pelágio, Lourenço Pelágio, João Pelágio e Pelágio, filho de Pelágio, ambos testaram à Igreja de Castro Daire, duas leiras foreiras ao rei, de jugada, sitas no termo de Covelinhas: uma em Vale Cuterra e outra perto de Rosada; Folgosa: D. Pelágio, Pedro Pelágio, pai de D. Pelágio; Pedro Pelágio Pereira, sogro de D. João de Folgosa; Folgosinha: João Pelágio; Mosteiro: Pedro Pelágio; Baltar: Maria Pelágio, D. Pelágio, Mendes Pelágio; Domingos Pelágio, filho de Pelágio Domingues; Fareja: Martinho Pelágio filho de Pelágio Mendes; Pelágio Pedro, neto de Maria Pelágio; Ribas: Miguel Pelágio e Martinho Pelágio; Moção: D. Pelágio; Gandivao (2) (hoje Póvoa do Montemuro): Garcia Pelágio; Parada: João Pelágio, prelado da Igreja de São João de Parada; este prelado disse que viu D. Lourenço Pelágio possuir a terra de Parada vindas da mão de D. Pedro Portucalense, seu sogro, e este deu um seu escudeiro, Estêvão Viegas, vilão Dornelas e Vila Maior, metade destas duas vilas; Nodar: Gelvira Pelágio Gaga; Savariz: Pedro Pelágio e Pelágio Pedro; Pelágio Chão, dono da quinta.
Perguntar-me-ão a razão por que repesquei para aqui toda esta informação histórica que, aparentemente, nada tem a ver com o CRUZEIRO CENTENÁRIO ereto no MONTE DA CABEÇA. Pois bem, direi que tem tudo a ver na medida em que a História com gente dentro é um entrelaçar de fios que, uma vez unidos ou aproximados, ajudam a perceber o que nunca foi dito nem escrito.
Então eu não falei de São Paio (bairro coexistente com Vila Pouca) uma das povoações usufrutuárias daquele monte e o próprio orago vítima da RECONQUISTA CRISTÃ, evento histórico em que também viria a ser envolvido Afonso Henriques, o protagonista da Batalha de Ourique, lembrado no monumento que naquele monte foi levantado em 1940?
Teremos de dizer algo mais sobre este sítio denominado «MONTE DA CABEÇA», em Castro Daire, a ver Lamelas, semelhantemente ao «MONTE DAS CABEÇAS», em Castro Verde, a ver os Campo de Ourique e «MONTE DAS CABEÇADAS» sobranceiro à povoação de Grijó, a ver Reriz. O que terão eles de comum entre si? No meu livro «AFONSO HENRIQUES, HISTÓRIA E LENDA», cuja capa ilustra este apontamento, desenvolvi a resposta a tal pergunta.