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quinta, 31 agosto 2023 15:40

LAMELAS «PEGADAS NO TEMPO E NO ESPAÇO» (17)

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HISTÓRIA

Assumido lenhador na FLORESTA DAS LETRAS,  primeiro historiador, poeta e escritor natural do concelho de CASTRO DAIRE, com a biqueira do sapato no degrau do pódio  (menu=categorias) «Discovery & Science» de "NOTABLE PEOPLE" disponível no GOOGLE  (  https://tjukanovt.github.io/notable-people), para respeito e consideração  dos estudiosos e  despeito dos imbecis,  sem agulhas nem carris, enroscados nos seus covis, eis-me de podão em punho a penetrar mato dentro e deixar mais algumas clareiras abertas na área do conhecimento relativo a estas PEGADAS NO TEMPO E NO ESPAÇO, de LAMELAS.

 

 Todos os nomes dos empresários que tenho vindo a referir nestas minhas crónicas constam no meu livro «Castro Daire, Indústria, Técnica e Cultura», editado em 1995, obra que resultou, como muito bem disse o, então, Presidente da Câmara, João Matias,  de um trabalho de «investigação aplicada», levado a cabo durante a minha «licença sabática», subordinado ao tema «Arqueologia Industrial» , portanto sobre equipamentos industriais que, tendo laborado no concelho, já tinham dada por finda a sua missão produtiva.

Daí, esse meu livro, não falar das «PEGADAS» deixadas em Lamelas pelo do senhor NARCISO PINTO, no ramo da PANIFICAÇÃO. Dele e com ele já falei abundantemente no vídeo, Em 2011,  alojei no YOUTUBE, com o título «CASTRO DAIRE – FORNO DA SERRA».

1-NARCISONessa altura, em 2011,  (cf. vídeo https://www.youtube.com/watch?v=i2_MEZZJOeo ) desloquei-me a LAMELAS DE LÁ, e foi ali mesmo que ele me contou a sua saga de «caminheiro» a pé, de bicicleta, de burro e motocicleta a vender pão por essas aldeias fora.

Natural de Vila Pouca, casou em Lamelas e ali fez vida e teve filhos. Homem arguto, observador do coletivo social e muito sensível à NATUREZA e coisas da HISTÓRIA, a ele recorro e ele a mim recorre, sempre que algo perdido na serra nos interpela.

Filhos adultos, casados e família constituída, quando chegou a altura de dividir o PATRIMÓNIO de uma vida inteira pela prole, fê-lo sem hesitação. Mas aos dois descendentes continua a «dar uma mão de ajuda» sempre que pode, sabe e eles necessitam.  Homem de iniciativa e de trabalho,  continua a passear-se a cavalo montes arriba e abaixo, sempre atento às mudanças e novidades.

A ele, à sua esposa e aos seus descendentes agradeço a consideração que presumo terem por  mim. Fui professor do filho e da filha e nunca lhes dei razão para me terem em má conta.

Mas deixando a sua prole em sossego, na labuta pela vida, não posso deixar de relatar aqui o seguinte episódio protagonizado exatamente pelo senhor  Narciso Pinto. Este episódio relaciona-se com uma PEDRA LEGENDADA que ele, nas suas cavalgadas pela SERRA DA LAPA, monte que separa LAMELAS de VILA POUCA, descobriu. Foi assim:


OSSOS DO OFÍCIO

- Ainda bem que cá está. Vim aqui de propósito para saber quando tem disponibilidade para ir comigo ver um penedo com números e letras, lá arriba na serra da Lapa.


Eu estava no Restaurante Fim do Século à espera do almoço, sentado à mesa. E, num repente, aparece-me o senhor Narciso, industrial de padaria (Lamelas/Castro Daire) que, passando já da meia-idade, gosta de rever, a cavalo, os sítios que, na infância, calcorreou a pé, nas cercanias de Lamelas. 

 -Pode ser agora? Interpelei.

- Pode.

Fiz sinal à empregada para suspender o meu almoço e, sem entretantos,  arrancámos ambos na carrinha dele em direção ao penedo datado e legendado.

2-nARCISOEste meu amigo, industrial do PÃO, cujo curriculum vitae poder ser visto, como disse,  no vídeo que alojei, em 2011, no Youtube, com o título «CASTRO DAIRE ,  FORNO DA SERRA, tem mais sensibilidade para estas coisas da Investigação do que alguns diplomados que por aí exercem a profissão de professores de HISTÓRIA, com anel de curso no dedo.

Chegados ao sítio, começou por dizer-me que o «penedo foi deslocado do sítio original», que está deitado e coberto de musgo. Que ele não lhe mexeu para eu ver o estado e o lugar em que o encontrou.  E disse que o sítio original era as uns dez metros de distância, ali onde se cruzam os caminhos carreteiros que  atravessam a Lapa: um, no sentido nascente/poente/Vale Cuterra/Lamelas e outro em direção norte/sul/Vilar/Vila Pouca/Castro Daire.

Deitado, com o musgo a tapar as letras e os números, passei a mão e pus ambas a descoberto.

 Data: 1944.

Legenda: J.F. LAMELAS.

Pedi-lhe para se sentar nele e tirei a fotografia que ilustra este texto. O registo aqui fica. Ele pode servir para explicar a "demarcação"  entre "baldios", outrora usufruídos e disputados pelas povoações vizinhas, por causa das lenhas e gados. E hoje, por for força da evolução dos tempos, pastorícia e agricultura abandonadas, aquele marco divisório foi tornado inútil, arrancado do sítio, sem significado algum para o condutor da retroescavadora que lhe meteu a pá por baixo e lhe fez dar um pinote de metros.

3-NARCISOMas igual atitude não teve o senhor Narciso. Montado na sua égua nas horas de lazer, amante da natureza, revivendo os lugares onde cresceu e lhe atestam a sua identidade, ao passar por ali teve um REBATE de memória: «por aqui havia um penedo com letras e números. Era aqui. Não está cá».

Apeou-se seguro de que não estaria longe. E não tardou a encontrá-lo e a dar-me conhecimento do achado. Houvesse muitos Narcisos em Castro Daire, sempre a olhar por onde passa com OLHOS DE VER e a nossa HISTÓRIA e o nosso PATRIMÓNIO estariam mais ricos e mais esclarecedores.

Regressámos ao ponto de partida. Agradeci-lhe ter-me interrompido o almoço e disse-lhe que nunca deixasse de desafiar-me a ir com ele ao encontro das suas descobertas na serra.

- Que sim, senhor. Que assim faria!

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.