quarta, 15 junho 2016 15:54
Escrito por
Abílio Pereira de Carvalho
PELOURINHOS - CASTRO DAIRE E ALVA
SÍMBOLOS DE JUSTIÇA E MUNICIPALIDADE
Estes dois pelourinhos aparecem referidos por aí em tudo quanto é livro, folheto ou roteiro turístico ligados ao concelho de Castro Daire. Ambos classificados como «monumentos nacionais» por decreto nº 23.122 de 11-10-1933, o de Castro Daire é localizado «no Bairro do Castelo» e o segundo, em «fragmentos» localizado em Alva.
Há muito que, sem avença ou remunerações municipais, ando na pista destes «monumentos nacionais», suspeitando das afirmações feitas e divulgadas por pessoas de respeito e por mim são consideradas sérias. O monumento situado no «Bairro do Castelo» não apresenta configuração e estrutura de «pelourinho», mas, tão só, de um simples cruzeiro que, «erradamente», alguém de boa fé e pouco prevenido, promoveu ao símbolo da justiça e municipalidade. Se todos os concelhos tinham um, Castro Daire, também deveria ter. Eu próprio, mal chegado a Castro Daire, fazendo fé nos investigadores que me precederam, cheguei a fazer eco dessa «classificação» numa crónica que escrevi no Boletim Municipal.
As leituras, pesquisas e investigações posteriores, porém, não tardaram a levantar as suspeitas de que algo estava errado, tanto no que dizia respeito ao «pelourinho de Castro Daire», como ao «pelourinho de Alva».
No que respeita ao «pelourinho de Castro Daire», assente que o «monumento do Bairro do Castelo» não tem corpo de um «pelourinho», mas de um simples cruzeiro, a informação veio-me através do maço de correspondência que me foi cedido pela minha colega, hoje falecida, Maria Alice Aguilar, nos anos 80 do século XX.
Publicado em
História
Abílio Pereira de Carvalho
Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.
Com efeito, numa das cartas, cujo «fac-simile» aqui se reproduz (ainda que truncado para acomodação de espaço) com data de 1842, ficámos a saber que existia uma litígio entre a Câmara de Castro Daire de então e o proprietário do solar Aguilar, António de Lemos Teixeira Aguilar, ligado com a «deslocação do pelourinho». Para melhor entendimento vejamos o texto digitalizado:
António de Lemos Teixeira de Aguilar»
sobrado. Colocado em posição invertida indicia a intenção clara, por parte de quem dele fez uso, de querer esconder a sua identidade de pelourinho. Logo se verá e confirmará quando se desenterrar a sua "cabeça". O povo, sempre soube utilizar em proveito próprio, o património que as entidades públicas abandonaram aos «deus dará».. Em ambos os casos, Castro Daire e Souto de Alva temos a prova material disso mesmo. Ainda bem que, seja numa adega, a cheirar a vinho, seja num curral de porcos, a cheirar a esterco, estes dois símbolos da justiça e municipalidade permaneceram de pé firme a sustentar as vigas de madeira onde assentam os caibros para sobre eles se fazer o soalho e sobre este andar gente. É a história com gente dentro. O de Alva está em vias de sair do curral e mostrar o seu rosto ao mundo. Não tem de que se envergonhar. E isso deve-se, como já disse, ao empenho e ás diligências do atual presidente da Junta, José Pereira de Almeida. O de Castro Daire, logo se verá. E, quando eu vir o executivo municipal está interessado no assunto, logo lhe direi onde é que ele se encontra, para entrar em negociações com o proprietário. Isto se, entretanto, os arqueólogos encartados o não desencantarem.