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quarta, 11 junho 2025 15:23

VELHINHO

Escrito por 

VELHINHO

Rio Velhinho, sem idade, nascido da terra, nascido do chão, viveu sozinho milhares de anos na solidão.

 

CORAÇÃOMas  um dia

Já  bem crescido

Sempre sem vizinhos

Prosseguindo o seu caminho

Buscando companhia,

(crescido bastante)

Juntou-se a outro maior.

E ambos fundidos

Mais possantes

Mais corpulentos

Ora rápidos, ora lentos

Juntaram-se a um terceiro

De maior volume ainda.

Irmanados, cada qual perdeu

A sua identidade de nascença.

Sem nome, todos eram pertença

De um só,

Prosseguindo juntos a viagem até ao mar.

Viveram assim milhares de anos.

 

CANELAS-1Mas depois chegaram os humanos

E com eles o seu batismo.

E para que se saiba

Aqui digo:

O primeiro era o Paivó,

O segundo o Paiva

O terceiro o Douro.

Este de que hoje falo é o Paivó.

Foi feliz e deu muita felicidade.

Irrigou lameiros e terras de semeadura

Fez mover azenhas, pisões e moinhos

Matou a sede a alimentou gentes, animais

O tudo o mais

Que teve por vizinhos.

Gerações, atrás de gerações

Foi sempre um senhor solidário.

E hoje, mete dó 

Ouvir somente os passarinhos

Vê-lo caminhar solitário

Com moinhos,

Azenhas e pisões desfeitos

Sem vivalva em redor 

Só vegetação de toda a sorte,

Amieiros, salgueiros, silvas, fieitos

Só eles têm vida

Tudo o resto cheira a morte.

Mete dó

Olhar e ver assim o Paivó.

 

Cópia de Paivó-rio das MulheresAs suas águas correntes

Lembram-me todas essas gentes

E também Empédocles, o pensador.

Aquele filósofo que século V a.C. dizia,

Que tudo aquilo que existia

Formado era por quatro elementos:

A água, o ar, a terra e o fogo.

 

E o meu  pensamento

E afetos fundidos no universo 

De lembranças e memórias

Com mil histórias de humanidade

Deixa aqui a sua pegada.

 

CANELAS-4Estou no sítio das Canelas

Onde havia também um moinho

Mas o progresso, de caminho

Assassinou a levada e todo o equipamento

Diferentemente

Do inseto “gerris lacustris”,  o alfaiate

Que sobrenada o pego manso

Outro é o meu procedimento.

Porque penso

E o fogo do pensamento me acicate,

Deixo-me ir na sua corrente

Por esse mundo imenso

Levando comigo toda a gente

Humilde e Ilustre

Que amei e me amou

Que me acompanhou

Na trabalhosa e suada lida

Que foi a longa romagem da vida.

 

Fotografia0191É isso.

Nesse fluído navego para o mundo

Nesse fluído me confundo, 

Nesse fluído de fogo, terra ar  me afundo

E só no fundo, bem no fundo

Diferentemente do “gerris lacustris”

À superfície vivendo

Eu descanso.

Abílio-10-06-2025

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.