Mas um dia
Já bem crescido
Sempre sem vizinhos
Prosseguindo o seu caminho
Buscando companhia,
(crescido bastante)
Juntou-se a outro maior.
E ambos fundidos
Mais possantes
Mais corpulentos
Ora rápidos, ora lentos
Juntaram-se a um terceiro
De maior volume ainda.
Irmanados, cada qual perdeu
A sua identidade de nascença.
Sem nome, todos eram pertença
De um só,
Prosseguindo juntos a viagem até ao mar.
Viveram assim milhares de anos.
Mas depois chegaram os humanos
E com eles o seu batismo.
E para que se saiba
Aqui digo:
O primeiro era o Paivó,
O segundo o Paiva
O terceiro o Douro.
Este de que hoje falo é o Paivó.
Foi feliz e deu muita felicidade.
Irrigou lameiros e terras de semeadura
Fez mover azenhas, pisões e moinhos
Matou a sede a alimentou gentes, animais
O tudo o mais
Que teve por vizinhos.
Gerações, atrás de gerações
Foi sempre um senhor solidário.
E hoje, mete dó
Ouvir somente os passarinhos
Vê-lo caminhar solitário
Com moinhos,
Azenhas e pisões desfeitos
Sem vivalva em redor
Só vegetação de toda a sorte,
Amieiros, salgueiros, silvas, fieitos
Só eles têm vida
Tudo o resto cheira a morte.
Mete dó
Olhar e ver assim o Paivó.
As suas águas correntes
Lembram-me todas essas gentes
E também Empédocles, o pensador.
Aquele filósofo que século V a.C. dizia,
Que tudo aquilo que existia
Formado era por quatro elementos:
A água, o ar, a terra e o fogo.
E o meu pensamento
E afetos fundidos no universo
De lembranças e memórias
Com mil histórias de humanidade
Deixa aqui a sua pegada.
Estou no sítio das Canelas
Onde havia também um moinho
Mas o progresso, de caminho
Assassinou a levada e todo o equipamento
Diferentemente
Do inseto “gerris lacustris”, o alfaiate
Que sobrenada o pego manso
Outro é o meu procedimento.
Porque penso
E o fogo do pensamento me acicate,
Deixo-me ir na sua corrente
Por esse mundo imenso
Levando comigo toda a gente
Humilde e Ilustre
Que amei e me amou
Que me acompanhou
Na trabalhosa e suada lida
Que foi a longa romagem da vida.