Ali empoleirado parece o gajeiro no topo do mastro de um navio a investigar as redondeza. Navio dos descobrimentos, da expansão de Portugal, em busca de outras terras, outras gentes, miscigenação, navio de navegador, de corso ou de pirata. E eu ...que me interrogo a mim por tudo e por nada, que interrogo a natureza, pergunto-me o que faz ele ali, naquela alteza, perto de mim, aqui, em Fareja, quá...quá...quá...pra que toda a gente o ouça e veja? Sei que o mítico o adágio diz ser uma ave de mau presságio e nessa dúvida me fico.
Ele deixa o poleiro e logo a seguir, de levante, vai juntar-se ao bando restante que, voando, toma a direcção norte naquele grasnar intrigante.
Agoirenta imagem esta, vista, logo de manhã, da minha janela. E eu, de mente sã, de mente aberta, que não sou de crenças, nem coisas semelhantes, apesar disso, pressinto a morte de algo importante, longe daqui, pois para longe voa o negro bando, quando faço este registo, perguntando para onde irão eles, neste dia 10 de Novembro, do ano de 2015., quase vésperas do inverno.
Nem sempre há resposta para quem gosta de interrogar-se a si e à natureza. Com a dúvida passei o dia inteiro. Mas, ao entardecer, à dúvida que tinha seguiu-se a certeza. Um veleiro, carregado de especiarias, aportou em terra e o gajeiro, deu-me o sinal primeiro do sucedido: afinal, o sentido dos corvos em bando, grasnando e voando para norte, em vez do mal que lhe é atribuído, neste ano, mês e dia, anunciavam era agonia e a morte do governo da coligação da direita, derrubado pela rejeição da maioria parlamentar da esquerda. E, então, eu percebi, enfim, aquela aparição negra e todo aquele grasnar alado. Fui deitar-me sossegado sem qualquer sentido de luto ou de perda.
Abílio/10/11/2015
cf Facebook 11-11-2015