Era, portanto, um MENDONÇA. Um dos herdeiros do solar brasonado que veio a ser dividido e vendido em partes, algumas das quais, foram recentemente adquiridas pela Câmara Municipal, onde, depois de requalificadas, se abriram alguns serviços camarários e também o novel «CENTRO DE INTERPRETAÇÃO DO MONTEMURO E PAIVA», no qual sei não existir (vejam só!) um BANCO DE DADOS que reúna os textos e os vídeos que, dispersos pela imprensa escrita e no Youtube, são o produto da minha investigação histórico-cultural e geográfica que, há anos, desenvolvo no concelho. Vá lá saber-se porquê. Não faltará lá, evidentemente, o que INTERPRETAR. Cada pessoa, cada organismo, cada instituição têm a sua bitola, o seu grau de exigência cultural e científico, o grau de excelência atribuído à matéria que mereça destaque e nobilite a instituição cujos objetivos é dar a conhecer a História e a Cultura da área geográfica onde está instalada.
Eu também tenho a minha bitola de exigência nos trabalhos que faço, produtos sempre sujeitos a serem «INTERPRETADOS» por terceiros e que, igualmente me permitirem, a mim, INTERPRETAR o modo como são recebidos e divulgados, ou, se calhar, omitidos. E estou certo de que, sendo eu o historiador natural do concelho que mais conteúdo histórico-cultural produziu, pioneiro, portanto nessa área do saber, estranho é que, até hoje, não tenha sido contatado pelos responsáveis do CENTRO. E isso só pode deve-se ao facto dos meus trabalhos, todos eles (basta ir à Biblioteca Nacional, ao Google e ao Youtube) serem limpos, escorreitos, lavados e secos em águas profanas, nunca ensopados com a água benta espargida pelo hissope, ritual tão ao gosto dos sacerdotes que pontificam no sinédrio político concelhio. Mas, como me movo bem na barra cronológica da História e o que escrevo hoje projetar-se-á no futuro, tal como aconteceu com as QUADRAS escritas por Carlos Mendonça, é a elas que retorno a fim de fornecer mais material histórico destinado a ser lido pelos meus amigos e, seguramente, excluído do CENTRO INTERPRETATIVO, instalado no NOBRE SOLAR DOS MENDONÇAS, pois parece ser justo carrear para aqui este material doméstico esquecido.
Vimos na crónica anterior que o autor, CARLOS MENDONÇA, terminava o texto naquela atitude piedosa de ir ao cemitério rezar pelos amigos e, em especial pelos seus antepassados. Recapitulemos:
«Tu sabes que pedirei a Deus.
Por todos os que lá estão sepultados.
Mas, manda o sangue que os idolatrados
Primeiros pedidos sejam para os meus»
Pois. Mas isso era no tempo em que os seus familiares, pais e avoengos tinham ali um espaço reservado e assinalado com o «brasão» de família. Mas até esse espaço foi vendido e as «armas assinaladas», aquele documento histórico lavrado em granito (há pedras mais eloquentes do que alguns doutores de Coimbra, ou simplesmente pseudo-doutores) foi amputado na base pelas campas e lápides da família compradora. Eis aqui, pois, matéria digna de ser INTERPRETADA e explicada no CENTRO INTERPRETATIVO, sublinhando os valores respeitantes ao CORPO e à ALMA das «GENTES DA TERRA». Bater com a mão no peito, rezar pelas almas e amputar, desta maneira, as sepulturas dos nossos antepassados, a troco de dinheiro, diz bem dos «valores» que regem a gestão do espaço sacro.
Já historiei, há bastante tempo (não se falava ainda nos centros interpretativos) a matéria essencial sobre esse solar brasonado no meu site e no «Notícias de Castro Daire». Hei de repescar para aqui alguns excertos desse meu texto, há muito tempo a correr mundo, mas não sem transcrever primeiro duas das QUADRAS que CARLOS MENDONÇA dedicou ao solar paterno.
Assim: