Nesta fase da nossa caminhada por terras de LAMELAS, depois de termos falado de capelas e igrejas, espaços destinados à alimentação do espírito, tem cabimento referir aqui o nome de alguns empresários que no solo da PARÓQUIA, preocupados com a alimentação do corpo, com o quotidiano da viva, deixaram a sua PEGADA, mesmo que tenham aportado a esta aldeia, depois de terem iniciado a sua arte fora dela.
E convém lembrar que indústria mais representativa no concelho de Castro Daire, onde o chão de Lamelas não podia ser excluído, foi, a que esteve ligada à serração de madeiras. E se hoje (viva o progresso) a juventude faz calos na polpa dos dedos polegares a rolar o tapete dos seus Smarphones e equipamentos similares, não há antigo morador de Lamelas e do concelho que desconheça o artesanal "serrão", a "burra", d "serra braçal" e d "traçador" peças indispensáveis à arte de cortar madeira e fazer tábuas.
A grande transformação tecnológica neste ramo de artes deu-se com a chegada da máquina a vapor, já em meados do século XX. A aplicação serôdia desta tecnologia a este ramo de indústria ainda não se apagou na memória de grande parte das pessoas idosas. Introduzida fora de horas, chegando tarde e tarde saindo, é até estranho para muitos residentes no concelho que a sua inventariação e estudo seja objeto da minha atenção incluso na arqueologia industrial.
Com poucas fontes escritas, muitas fontes orais e alguns equipamentos que ficaram (mais por comodidade ou esquecimento do que com o sentido de preservação por parte dos seus proprietários) no sítio onde foram implantados, bem pode dizer-se que o capítulo "DA INDÚSTRIA" não se esgota no punhado de dados que, de momento, conseguimos reunir.
Para além da identificação das máquinas e das fábricas, as minhas pesquisas levaram-me à identificação de alguns motores de combustão que, ocupando o lugar dos geradores de vapor, vencidos que foram pela inovação tecnológica introduzida posteriormente.
MANUEL COELHO MORGADO
1-1 - VILA POUCA
Manuel Coelho Morgado, que adiante aparecerá como proprietário e fundador da Serração do Barro Branco, fundou, em 1953, em sociedade com João Crisóstomo da Silva Figueiredo e Acácio da Silva, a Serração de Vila Pouca.
Alferrarede, perto de Tomar, foi o sítio onde foram buscar uma máquina a vapor de marca "Ruston" que se há de ver substituída por um motor a "gasoile" destinado a acionar um gerador de energia elétrica, cujas características já referimos.
Entre 1975/80 a fábrica foi eletrificada, o motor ficou imobilizado, onde permanece à espera que as paredes e coberturas acabem de ruir, pois há cerca de dez anos que a empresa entrou em situação de falência e os processos judiciais metidos em tribunal pelos credores correm os trâmites legais. Alguns deles já chegaram ao Supremo. (152)
Na "Serração de Vila Pouca", por exemplo, hoje em ruinas, por razões que mais adiante enunciaremos, permanece um motor que acionava um gerador de corrente. Uma chapa metálica da Direção Geral dos Combustíveis presa ao corpo do motor tem as seguintes referências:
POTENCIA EFECTIVA CV
REGISTO Nº 160/320 APROVADO
23873 Dv 12
30.10.67
E o gerador que permanece a seu lado, numa chapa metálica que tem afixada no seu corpo, apresenta assim a sua identificação:
ATELIERS DE CONSTR. OERLIKON
OERLIKON SUISSE
FA. Nº 135968
VOLTS 400
AMP. 195
CH - KVA 135
TOURS 1000 PERIOD 50
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1.2 - BARRO BRANCO
Manuel Coelho Morgado, depois de ter fundado em sociedade com João Crisóstomo da Silva Figueiredo e Acácio da Silva, em 1953, como vimos, a Serração de Vila Pouca, resolve abandonar a sociedade e, em 1964, funda a Serração do Barro Branco, ali, mesmo ao lado esquerdo de quem sai de Castro Daire em direção a Lamego, na bifurcação que, virando à esquerda, leva a Lamelas.
Começou com uma máquina a vapor de marca "R. Ruston" com um motor de 35 CV. Comprada em Oliveira de Azeméis em 1965, no Centro Vidreiro do Norte de Portugal, só em 1972 seria substituída por um motor a "tine-fueloile" de 40 cv, também de marca Ruston. Com a eletrificação da fábrica, na década de oitenta, o motor foi posto de lado.
No ano de 1995, data em que publiquei o meu livro «Castro Daire, Indústria, Técnica e Cultura», obra donde extraí os dados anteriores, encontrava-se em plena laboação. Voltarei a este livro mais adiante a propósito de outros industriais que deixaram pegada no concelho com a marca evidente de fazerem pela vida, mas também de nele introduzirem sinais de progresso e desenvolvimento.
Atualmente, o único ruído de motor que se ouve em redor é o daquela mota que estacionou à frente da fábrica permitindo a fotografia que dela aqui se apresenta, neste ano de 2023.