Trilhos Serranos

CULTURA POPULAR ALENTEJANA

Uma das DÉCIMAS de que muito gostei, produto da recolha da CULTURA POPULAR ALENTEJANA levada a efeito quando exerci a docência em Castro Verde, foi aquela que, numa Taverna de CASÉVEL, prolongamento separado, nas traseiras, da mercearia que dava para a rua, espaço retangular, chão inclinado, mesa comprida ao meio, clientes sentados nos bancos corridos que a ladeavam, ao fundo duas bilhas gigantes de vinho, daquelas bilhas que são o “ex-libris” das tavernas alentejanas, o taverneiro/merceeiro encheu a jarra, distribuíu os copos por todos nós, retirou-se para a mercearia, dizendo:

- Sirvam-se, façam um risco na bilha, todas as vezes que encherem o jarro.

CULTURA POPULAR ALENTEJANA

 No apontamento anterior referi-me circunstanciadamente ao MOTE popular “desta mánica do mundo/quem será o maniquista/onde começa o movimento/não alcança a nossa vista” e prometi trazê-lo glosado em DÉCIMAS pelo poeta popular Francisco Augusto Galrito, escritas em ortografia atualizada, e, pela fonética e grafia,  atribui a sua autoria original a um pastor ou agricultor alentejanos que não pastoreavam nem lavravam no campo das LETRAS, mas pastoreavam e lavravam fundo no campo do PENSAMENTO.

CULTURA POPULAR ALENTEJANA

No trabalho de recolha que fiz da CULTURA POPULAR ALENTEJANA mal cheguei, em 1976, a Castro  Verde, retornado que era de Moçambique, registei uma COMPOSIÇÃO deveras interessante, por seu notório que o seu autor (anónimo) estranhou “o léxico” das gentes do ALENTEJO, usado na sua comunicação oral quotidiana. Aquele registo lexical (oral e gráfico) só podia merecer reparo por destoar  fonética e graficamente ao ouvido de quem chegou de fora e confrontar-se com aquelas “maneiras tão raras” de falar.

«A ESPIGA» - CULTURA POPULAR ALENTEJANA

Publiquei, ontem mesmo,  um texto sobre uma recolha da CULTURA POPULAR, viva e moribunda, em terras do Alentejo, nos anos em que exerci a docência em Castro Verde e em Beja. Tratava-se de recolher «adágios, adivinhas, lengalengas, trava-línguas e poesia nas suas diversas formas de expressão. Uma delas sobrepunha-se a todas as outras. Eram as «DÉCIMAS», compostas por um  MOTE de quatro versos, seguidas por QUATRO DÉCIMAS, que, rematavam, obrigatoriamente com os versos do mote. Ontem deixei exemplo disso e hoje repito com uma «obra» que é um hino à mulher. Vem mesmo a propósito, dada a violência doméstica com que os tempos nos vão premiando.

Quando, retornado de Moçambique, fui colocado na Escola Preparatória de Castro Verde, como professor de HISTÓRIA e de PORTUGUÊS, logo me  dei conta de circularem na LITERATURA ORAL composições poéticas que não constavam nos COMPÊNDIOS  e nas  ANTOLOGIAS que davam corpo aos programas escolares que me tinham sido administrados, enquanto estudante. Eram as chamadas “DÉCIMAS ALENTEJANAS”.