Trilhos Serranos

TESTAMENTO

Durante a última visita que o meu filho Valter, nascido em Beja, me fez aqui, em Fareja, tivemos a oportunidade de ambos  revisitar e dar arrumo aos arquivos com fichas manuscritas e textos dactilografados relativos à investigação que eu e a minha mulher, Mafalda, sua mãe, levámos a efeito em Castro Verde, com aquela avidez de professores de HISTÓRIA que sentem a necessidade de preencher a lacuna que ali encontrámos, relativamente ao conhecimento da HISTÓRIA LOCAL.

Creio até que fomos o primeiro casal de professores (ela natural de Castro Verde e eu natural de Castro Daire) que ali se dedicou a essa meritória tarefa. 

Mas, injustiça seria deixar de fora o professor Alves da Costa, um filho da terra, licenciado em Filosofia, docente que era no Liceu Camões, em Lisboa, que, antes de nós, já se tinha dado ao cuidado de vasculhar os arquivos locais e, com entusiasmo, partilhar connosco as descobertas feitas (não publicadas) e incentivando-nos a prosseguir a descoberta e a publicar o que fossemos descobrindo.

CUSTILHÃO - 2 

HISTÓRIA E FICÇÃO

Conhecedores que somos, pela crónica anterior, do uso da pedra na construção civil doméstica, militar e religiosa; encontrada que foi a solução técnica para que um abrigo provisório ou castelo,  moradia, moinho ou templo de longa duração pudessem exibir, nas suas fachadas, aberturas para passagem de pessoas, animais ou luz; divulgado que está, por esta via digital, o meritório hino à inteligência humana na arte de construir; verificado o sucesso que foi alcançado desde o “V” invertido, em pedra, à padieira dupla, ao arco românico e ao arco quebrado, das portas, às abóbadas de berço e de nervura; visto tudo isto no universo da história escrita e documentada, livres somos, agora, de entrar no universo do imaginário, criativo, ficcional e especulativo como é tudo o que envolve religião, filosofia, novela ou romance de fantasioso enredo e respetivos protagonistas.

CUSTILHÃO-1

 

Sob o título em epígrafe (já lá vão muitos anos) apresentei, na Universidade de Lourenço Marques, orientado pelo Professor Manuel Mendes Atanásio, um trabalho inserido na HISTÓRIA DA ARTE, no qual mostrei, depois de muitas leituras feitas na bibliografia especializada, os diversos recursos a que o homem, inteligentemente, botou mão para construir, com materiais perecíveis, um simples abrigo passageiro, ou edifícios duradoiros feitos com materiais resistentes à erosão trazida de “ventos e marés” adversas, por forma a permanecerem de pé, séculos fora, num atrevido desafio à eternidade. 

DR. ARMÉNIO DE VASCONCELOS.

Recentemente, via telemóvel, o meu interlocutor, pessoa amiga, disse-me em discurso direto:

- Amigo, estou muito doente, mas ainda não perdi a esperança de  ir consigo às pútegas, na serra do Montemuro.

Era a voz do Dr. Arménio de Vasconcelos, (de momento a residir em Leiria) um cidadão que conheci em 1985, quando me pediu a colaboração no projeto destinado a fundar, no concelho de Castro Daire, o jornal que fizesse eco da nossa história, cultura, usos, costumes e tradições, enfim, que levasse ao mundo a vida os “quefazeres” e “pensares” das gentes montemuranas.

 O MOINHO HIDRÁULICO

Agricultura. Esse milagre do homem sobre a terra. O fim das grandes caminhadas de antanho em busca de frutos, raízes e outras dádivas da Natureza, ora pródiga, ora avarenta. A fixação à terra. O fim da luta pela subsistência incerta e precária. O aproveitamento de extensos e férteis vales irrigados por rios que cedo ascenderam às páginas da Geografia e da História. A construção de recintos amuralhados nos altos dos montes, onde os habitantes estavam sempre atentos e vigilantes ao inimigo que espreita. O arrotear de várzeas, courelas, rugas fundas, entrecruzadas, a cavar o rosto do mundo.