Trilhos Serranos



«O hábito é a segunda natureza do homem», aprendi esta sabedoria, já adulto, nos compêndios de filosofia, feitos por doutores.

As fotos que ilustram este texto são os rostos da «transumância» da Serra da Estrela para o Montemuro, em 1990. Eles são os protagonistas de uma narrativa de trabalho e sacrifício com data certa. Olhem bem as suas idades e feições!


Quando me criei, em Cujó, não havia energia elétrica. Mal caía a noite, fosse em trabalho ou fosse para divertimento num qualquer serão, todos nós, os habitantes, novos e velhos, rompíamos os tamancos a dar pontapés no escuro. Não sei se devo a essa realidade o facto de, ainda hoje, ter horror ao ESCURO. Só me sinto bem em lugares bem iluminados e, de certo modo, acompanhado de pessoas que resplandeçam alguma luz.


Em 1990 era presidente da Associação Recreativa e Cultural de Fareja, Joaquim Almeida Ferreira da Silva e presidente da Assembleia Geral, vários mandatos seguidos, a pessoa que escreve e assina esta crónica. Grande parte da correspondência trocada com as entidades oficiais ligada à construção da sede saiu das teclas do meu computador.
Foi o ano em que, pela primeira vez, se filmou e gravou, em cassete VHS,  a "costumeira" ligada ao Pinheiro de São João, com o objetivo de, por essa via, se dar a conhecer ao mundo, uma das nossas tradições mais falada em todo concelho, pelo volume e peso da árvore. Não é exclusivo desta aldeia, mas nas restantes onde antigamente se punha o «pau a pino» (nalgumas delas ainda hoje se faz,  por e exemplo em Cujó e Relva) o protagonista não passa de um «estadulho» de amieiro, comparado com o de Fareja, sempre PINHEIRO.

 

FORNO DAS PIMPONAS/ CORETO

No tempo em que toda a gente (adultos e crianças) anda por aí de câmaras fotográficas e de filmar na mão, a fazer  pontaria a tudo e a nada, tempo de Ipads, telemóveis, Internet e Facebook, depositório a granel de fotos que são autênticos documentos (todo o historiador e estudioso agradece tais fotos)  e outras divulgando futilidades sem importância nenhuma, lembrei-me de postar aqui este texto já publicado em 2012. As fotos que o ilustram são bem a prova do que afirmo: fotos que é preciso LER e INTERPRETAR. A foto nº 1, com os protagonistas cuja razão de estarem ali explico em devido tempo,  ajuda-nos  a interpretar o grito das crianças a correrem pelas ruas da  vila, anunciando a chegada dos rebanhos da Serra da Estrela. «aí vem o rebanho, aí vem o rebanho!» Ajuda-nos a perceber a razão por que o «povo» corria à Feira das Vacas com panelas, tachos e tachinhos, de alumínio, latão ou barro, em busca de leite. Ajuda-nos a perceber a razão por que, na década de QUARENTA do século vinte, o «povo», corria à Feira das Vacas a pedir, para comer, a ALFARROBA que o Corpo montado  da Guarda Republicana trazia para alimentar os cavalos. Ajuda-nos a perceber a razão por que, quando, por esse mesmo tempo, a Legião Portuguesa fazia ajuntamento da Feira das Vacas o «povo» corria para ali, com panelas, tachos e tachinhos para levarem para casa parte do «rancho». E a pedinchice não incluia somente os mais necessitados. Até «pessoas de sociedade» para usar a terminologia dos  meus informantes idónios, mandavam lá as suas «criadas»buscar «rancho». Quem se predispõe a fazer a HISTÓRIA da nossa terra, a falar do PSSADO E DO PRESENTE necessário é que se informe e fundamente primeiro. De contrário em vez de HISTÓRIA escreve «ESTÓRIA». Vende «gato por lebre». E mal informado anda quem patrocina, quem promove e quem compra essas patranhas.. E mais não digo. Mas eis o que disse em 2'012:  


Fruto da minha persistente investigação e permanente contacto com pessoas que conheciam Castro Daire noutros tempos, cedidos por elas, vieram-me à mão diversos espólios documentais e fotográficos (fotos e negativos delas) de que me tenho valido para, em muitos caos, fundamentar e ilustrar alguns dos livros que dei à estampa sobre a História Local.