NO MINÉRIO TRABALHAVA, TRABALHA...TODOS GANHAVAM SÓ EU NÃO GANHAVA NADA...
No pós-guerra a febre do volfrâmio não deixou as gentes da serra.
O meu pai, a viver em Cujó, negociava em minério e um dia, ao cair da noite, dois supostos amigos seus da vila de Castro Daire, vindos de Almofala, dado o adiantado da hora, diziam, pediram-lhe para pernoitarem em nossa casa. Outros tempos em que sendo as distâncias curtas, longas as tornavam os difíceis acessos, carreiros e caminhos existentes.
O meu padrinho de batismo era agricultor e negociante da gado. Chamavam-no João Caixeiro, mesmo que de apelido registado fosse Camelo. Casado com uma irmã de minha mãe, Maria Leonor, era um santo homem, baixinho, de bigodinho, estou mesmo a vê-lo. Comprava e vendia vitelos e, por obrigação da tradição, vá-se lá saber as razões da dita, cada compra obrigava a "beber a cabrita", modo de fechar, sem mais regateio, o negócio entre as partes, com ou sem "rachador" pelo meio.
«NO MINÉRIO TRABALHAVA, TRABALHAVA...»
Nestas minhas andanças nos trilhos serranos, digo, nos trilhos da vida, dei por mim nas Minas da Queiriga, concelho de Vila Nova de paiva.
O meu primo Manuel Carvalho Soares, sabendo-me interessado em tudo o que respeita à História e à vida, levou-me até lá, até aquele outeiro esventrado, esburacado, de portas abertas, abandonado. Aquele outeiro que, em meados do século XX, foi um formigueiro humano de trabalho e de sonhos.
Letras? Que longo caminho, o delas. Ora galopando, ora trotando, ora a sós ou a granel, atravessaram espaço e tempo, até chegarem a nós, silenciosas ou em tropel. Caminhada longa e séria. A arqueologia, que acorda o que enterrado dorme, trouxe-nos da Antiguidade a escrita cuneiforme da Suméria e territórios do Crescente, a deslocação de animais e gente, as Tábuas da Lei, a Pedra de Roseta, cunhadas ou manuscritas, visíveis ou apagadas, chegaram-nos em papiros, em pergaminho e papel, sempre cuspidas por cunhas, espátulas, estilos, bicos das penas de pato ou aparo de canetas, com recurso a tintas e a cera. Falo de história. As letras nunca foram tretas. Gravadas, desenhadas, hieroglíficas demóticas ou cursivas, a par de factos autênticos passados, carregados de glória, elas registaram vidas, sentimentos, afectos, amores, sofrimentos, paixões, declarações de guerra, tratados de paz, formação e queda de impérios, muitas fintas, muitas lendas e muitas petas, ditas e inauditas.
CASTRO DAIRE - RETALHOS DE HISTÓRIA -3 |
Decorria o ano de 1932 quando, através do Dr. Pio Cerdeira de Oliveira Figueiredo, que mantinha correspondência com uma senhora viúva (?) o nome é omitido, vá lá saber-se porquê - residente no Brasil, se soube em Castro Daire que essa senhora desejava construir uma Escola Primária, em Castro Daire, com o nome do seu falecido marido e para a qual «oferecia a importância de 100 contos». |